
Hugo Carneiro 'Polaco', um dos 12 arguidos da Operação Pretoriano, disse hoje ter entrado na Assembleia Geral (AG) sem ser sócio do FC Porto, tendo ainda conseguido mais quatro pulseiras de acesso à reunião magna.
"Cheguei à entrada da AG, 'bati o couro' à menina e pedi-lhe pulseiras para a minha mulher e três amigas de trabalho poderem assistir. Eu não estou mal... a menina é que me deixou entrar", justificou-se, no primeiro dia do julgamento desta operação , assentindo que não houve entraves à sua entrada no recinto.
Rebatendo a tese de conluio entre os 12 arguidos numa alegada tentativa de os Super Dragões "criarem um clima de intimidação e medo" na AG de 13 de novembro de 2023 para que fosse aprovada uma revisão estatutária "do interesse da direção" do clube, então liderada por Pinto da Costa, 'Polaco' garantiu que nessa noite esteve com Fernando Madureira, líder da claque, meramente de forma circunstancial.
O primeiro encontro ocorreu quando recebeu as pulseiras, entregues por Madureira, e, depois, quando foi apaziguar um desentendimento de Henrique Ramos 'Tagarela' com um outro amigo, numa altura em que o líder dos Super Dragões, próximo do conflito, o terá mandado subir novamente a bancada e regressar ao seu lugar, "uma vez que a situação já estava a ser sanada".
Diz ter estado sentado na bancada central, juntamente com um amigo advogado, o professor Sá, e uma senhora "ligada à cultura", e que, devido ao interesse da conversa, esteve totalmente alheado da AG: de igual modo, tinha um muro a seu lado que o impediu de perceber os desacatos em curso, só tomando conhecimento dos mesmos quando imitou outras pessoas e se levantou para identificar a origem do burburinho.
"Não ouvi nada, nem vi nada. É a pura das verdades o que estou a dizer em tribunal", assegurou Hugo Carneiro, que assumiu "nunca" ter sido sócio do FC Porto, não perceber "nada" de AG nem saber os requisitos de entrada numa AG do clube.
Operação Pretoriano: Julgamento aberto ao público e com fortes medidas de segurança
A presidente do coletivo de juízes, Ana Dias Costa, questionou mais assertivamente o arguido quando este lhe tentou explicar a abertura de uma porta secundária no Dragão Arena, justificando que o fez por perceber que do outro lado havia uma pessoa a sentir-se mal e a precisar de assistência: a porta é opaca, sem visibilidade para o exterior.
"O senhor tem o dom de ver pelas paredes", ironizou a juíza.
Aleixo' confessou ter dado "uma chapada" num sócio durante Assembleia Geral
O terceiro e último dos arguidos a ser ouvido esta segunda-feira foi Vítor Oliveira 'Aleixo', pai de outro arguido com o mesmo nome, mas o depoimento foi interrompido no final da sessão, sendo retomado na terça-feira, em que está previsto que sejam ouvidos os outros cinco.
Esta segunda-feira, 'Aleixo' confessou ter dado "uma chapada" num sócio durante a AG, por ter alegadamente insultado Pinto da Costa, e "um cachaço" num outro, abandonando a reunião magna antes de esta ser suspensa, por ter tido percebido ter tomado más decisões, segundo confessou, depois, ao filho e a Fernando Madureira.
Pediu à juíza para poder pedir desculpas a quem agrediu, bem como ao pai desse primeiro jovem, que lhe terá dado um soco em retaliação.
O arguido Vítor Oliveira, pai, o terceiro a falar, depois de Fernando Madureira e 'Polaco', vai continuar a ser ouvido na terça-feira, quando também deverão falar Fernando Saul, Vítor Oliveira, filho, José Pereira, Fábio Sousa e José Dias.
Ao invés, Sandra Madureira, Vitor Catão, Carlos 'Jamaica' e Hugo Miguel 'Fanfas' optaram pelo silêncio, que ainda podem vir a quebrar, em fase mais adiantada do julgamento.
Fernando Madureira é o único arguido em prisão preventiva
Após a fase instrutória, o tribunal decidiu levar a julgamento todos os arguidos nos exatos termos da acusação deduzida pelo Ministério Público (MP), alegando que a prova documental, testemunhal e pericial é forte.
Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação.
Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases, incluindo Sandra Madureira, Fernando Saul, Vítor Catão ou Hugo Carneiro, igualmente com ligações à claque.