"Para mim, sócio do FC Porto, foi uma provação, uma afronta. Mentiu quando garantiu que nunca se candidataria contra Pinto da Costa e mudou de ideias. Não tenho de concordar com isso. As coisas foram inflamadas, o ambiente ficou inflamado. Uma parte fez o seu papel para chegar ao poder, e outra para o manter", disse, no Tribunal de São João Novo, no Porto.

No reatamento, após pausa para almoço, da segunda sessão do julgamento, o antigo funcionário do FC Porto acusou o atual presidente de nunca ter ido a uma AG do clube e de ter "arregimentado pessoas para irem umas contra as outras" na reunião magna em que se discutia alterações dos estatutos.

Foi nesta altura que o presidente do coletivo de juízes perguntou ao arguido se este "estava a brincar com o tribunal", numa altura mais crispada do interrogatório, quando o questionou, interrompendo a inquirição da sua advogada de defesa, sobre se os outros arguidos votaram André Villas-Boas ou Pinto da Costa nas eleições: respondeu com um "não sei" que motivou a reação de Ana Dias Costa.

No seguimento, recordou ao arguido que é normal um putativo candidato à liderança do clube pedir às pessoas para irem à AG defender o seu ponto de vista, tal como aconteceu com a outra parte.

"Isso não é crime nem de uma parte, nem de outra. Contudo, enquanto oficial de ligação dos adeptos, uma das minhas responsabilidades era estar atento às redes sociais e páginas de futebol e há vários meses que se notava um crispar das coisas, com gente a insultar-se. Foi montada uma máquina de campanha (Villas-Boas) e, em seis meses, apareceram centenas de páginas todas com o mesmo intuito, cartilha", contou então Fernando Saul.

O antigo funcionário do clube, até uma semana antes das eleições, disse que todas estas páginas, "que entretanto desapareceram depois das eleições", eram contra Pinto da Costa, com impropérios como "está na hora do velho ir embora", "anda na mama há muitos anos" ou "já acabou o teu tempo, devias morrer, velhote".

Fernando Saul insistiu que os antecedentes à AG de 13 de novembro de 2023 constituíram o "clima" que "encrespou" as partes, considerando que muitos portistas, entre os quais os membros dos Super Dragões, se sentiram ofendidos com o "denegrir da imagem de um homem que fez do FC Porto o que é, que deu tudo pelo clube", referindo-se a Pinto da Costa.

Para o arguido Fernando Madureira, ex-líder dos Super Dragões, apenas elogios, pelo trabalho em prol tanto do FC Porto como da PSP, com os seus contributos destacados sobretudo na logística de preparação dos jogos, nomeadamente fora de casa.

"Ninguém domina ninguém, mas ele era o líder. Dava-nos dados importantes para organizarmos os nossos jogos e tinha uma boa relação e dava muitas informações às autoridades, ao contrário de outras claques", justificou.

Garantiu ainda que Madureira "era dialogante, colaborante e exercia liderança não musculada" e que nunca o viu em qualquer episódio de "violência direta".

Sendo a organização das AG do FC Porto responsabilidade dos diretores de segurança e de marketing do clube, esperava que o primeiro tivesse sugerido ao presidente da mesa a interrupção dos trabalhos, aquando dos tumultos.

"Poderia tê-lo feito. Relatou-me ainda que quando existiram os primeiros tumultos, foi contactado pela PSP a perguntar se era preciso intervenção e ele disse que não", revelou.

De resto, reforçou o que tinha dito de manhã, quando negou ter agredido quem quer que fosse, e a tese que Fernando Madureira também explicou ao tribunal na segunda-feira, quanto à estratégia de Villas-Boas, para estes comprovada por ter mantido em funções o diretor de segurança e o diretor de 'marketing'.

Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões e a mulher, Sandra Madureira, começaram segunda-feira a responder por 31 crimes, em coautoria, no Tribunal de São João Novo, no Porto, perante forte aparato policial nas imediações.

Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma assembleia-geral do FC Porto, em novembro de 2023.

Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases, incluindo Sandra Madureira, Fernando Saul, Vítor Catão ou Hugo Carneiro, igualmente com ligações à claque.

SIF/RBA // PFO

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