Madison Keys é a grande vencedora da última edição do torneio feminino do Open da Austrália. A tenista norte-americana (que completa 30 anos no próximo mês), consegue assim o seu tão ansiado e desejado primeiro título do Grand Slam.

Numa final nem sempre bem jogada nos dois primeiros sets, mas com um terceiro set de elevadíssima qualidade (do melhor que vi nos últimos anos no circuito feminino), Keys conseguiu bater a ultra-favorita Aryna Sabalenka, com os parciais de 6-3, 2-6 e 7-5 em 2h02 minutos de jogo.

Ambas as jogadoras têm um ténis bastante ofensivo e foi essa a tónica que se verificou em todo o jogo. Não houve praticamente um ponto com mais de 10 pancadas, o que espelha bem as características de ambas jogadoras.

Sabalenka partia como a grande favorita, perseguia um lugar na história (tornando-se apenas a terceira jogadora a ganhar o Open da Austrália por três vezes de forma consecutiva) e apesar de ter tido duras batalhas contra Keys no passado, não havia quase ninguém que projetasse uma vitória de Keys nesta final.

O primeiro set foi de controlo absoluto de Madison Keys. Sabalenka vinha de uma exibição quase perfeita contra a sua melhor amiga no circuito (a espanhola Paula Badosa), num jogo no qual quase metade dos seus pontos foram winners. Uma autêntica barbaridade e um festival de ténis ofensivo por parte da bielorrussa.

Dos últimos 42 sets que disputou na Austrália, tinha ganho 40 (!) e vinha numa série de 20 vitórias consecutivas, mas quem surpreendentemente entrou mais confiante e segura do seu jogo e de qual a táctica ideal, foi Madison Keys.

Servindo de forma imperial (chegou a ter percentagens superiores a 90% de primeiros serviços), não deixava grandes hipóteses para que Sabalenka pudesse contrariar a sua grande arma. Quando está a servir bem, Madison Keys tem poder de fogo suficiente nas suas pancadas para colocar em dificuldades qualquer tenista do circuito, mesmo que do outro lado da rede esteja Aryna Sabalenka.

A bielorrussa parecia perdida em campo, e em menos de meia-hora de jogo, já se via a perder por 5-1 (com duplo break a favor de Keys). Mas Sabalenka é uma lutadora insaciável (é considerada como a tigresa pelo seu lado histeriónico quase sempre que bate na bola), e nenhuma adversária pode subestimar a sua força.

Ferida de orgulho e beneficiando dos primeiros sinais de nervosismo de Madison Keys, Sabalenka conseguiu recuperar uma das quebras de serviço, reduziu para 5-3, mas foi novamente quebrada no jogo seguinte, acabando por ceder o set inaugural por 6-3.

No segundo set, Sabalenka aumentou a cadência do seu jogo, começou a servir melhor e a retirar Keys da sua zona de conforto. A norte-americana não é uma jogadora que goste muito de estar numa posição defensiva.

O seu ténis é puramente de ataque, e fazendo uso dos seus amorties, Sabalenka conseguiu retirar Keys da linha de fundo e ir causando cada vez mais dificuldades à tenista norte-americana. Foi praticamente um set de sentido único, no qual Sabalenka voltou aos níveis exibicionais de excelência do jogo das meias-finais. O segundo set terminou com o parcial de 6-2 a favor de Sabalenka.

Os adeptos presentes nas bancadas previam uma autêntica demolição de Sabalenka no terceiro set, mas Keys está outra jogadora nestes últimos meses. É neste momento uma tenista dotada de uma grande força mental, e não fraqueja nos momentos decisivos.

Prova disso, foi a sua extraordinária exibição contra a polaca Iga Swiatek (número 2 mundial), num jogo ganho num agónico super tie-break de terceiro set (10-7 a favor da americana), no qual Keys se superiorizou precisamente por ter sido corajosa e por ter servido a grande nível nos pontos mais decisivos.

No terceiro set da final, foi um pouco isso que se viu também. Nos seus jogos de serviço, sempre que se viu com o perigoso resultado de 30-30 no marcador, Keys conseguiu fazer uso do seu excelente serviço e sair de situações complicadas, não tendo que salvar um único ponto de quebra de serviço.

Sabalenka é uma das jogadoras mais agressivas do circuito e que melhor tira partido dos segundos serviços débeis das suas adversárias, voltando a fazer o mesmo com Keys neste terceiro set, mas a norte-americana ganhou uns impressionantes 17 (!) pontos de 20 disputados no seu primeiro serviço. Desses 17 pontos, só um foi um ás, o que revela a tremenda eficácia do seu serviço.

Sabalenka foi igualmente sólida nos seus jogos de serviço, não tendo acusado nenhuma pressão quando se viu a servir com 5-4 a favor de Keys e tendo de ganhar esse jogo para se manter na partida.

No 11º jogo do terceiro set, Keys viu-se novamente com o perigoso 30-30 no marcador, Sabalenka tentou pressionar, conseguiu responder ao seu potente serviço, mas a norte-americana já se encontrava naquele momento em estado de graça e começou a disparar winners por todo o lado, fazendo uso da sua pancada de direita, sem dúvida uma das melhores do circuito.

Servindo uma segunda vez para se manter no encontro, Sabalenka acusou desta vez a solenidade da ocasião, o seu primeiro serviço “abandonou-a” e Keys aproveitou para exercer pressão e chegou rapidamente aos dois match points, depois de mais um erro não forçado da bielorrussa.

Sabalenka conseguiu salvar de forma brilhante o primeiro ponto de partida a favor de Keys, mas sucumbiu ao segundo match point. E o jogo terminou nos termos de Madison Keys, com mais um winner da sua pancada de direita.

A frustração de Sabalenka era por demais evidente no fim do jogo, tendo partido a sua raquete e tendo que se deslocar aos balneários para descarregar toda a sua raiva e desilusão por este resultado, mas devo destacar a excelente postura da bielorrussa na cerimónia de atribuição de prémios, tendo reconhecido o mérito da sua adversária.

O terceiro set foi tão equilibrado e tão bem disputado, que podia ter caído para qualquer lado. Nos instantes decisivos, Keys foi melhor e considero ser uma justíssima vencedora.

Na outra final do Grand Slam que tinha disputado há mais de 7 (!) anos contra a sua compatriota Sloane Stephens no Open dos Estados Unidos, Keys foi muito passiva e entrou numa espiral de erros não forçados, que acabou com a norte-americana lavada em lágrimas, sabendo que tinha passado ao lado de uma grande ocasião.

Desta vez, a norte-americana queria jogar o seu ténis, independentemente do desfecho. Foi agressiva, não abdicou do seu estilo de jogo e foi bem sucedida.

Na conferência de imprensa posterior à partida, Keys admitiu isso mesmo “Deixei de me pressionar tanto ou de me sentir uma falhada por ainda não ter ganho um Grand Slam. Parti para esta final orgulhosa de tudo o que já fiz. Queria apenas jogar o meu ténis e ser feliz em campo”.

Uma vez disparado esse winner, Keys entrou numa comoção incrível agarrado ao seu marido e treinador (o ex-jogador Bjorn Fratangelo) e restante equipa, num momento que certamente não deixou indiferente nenhum dos presentes na Rod Laver Arena, inclusive os apoiantes de Sabalenka.

Quando iniciou a sua carreira profissional aos 16 anos em 2011, Keys era vista como a sucessora da campeoníssima Serena Williams, e fruto de várias lesões e de não ser uma tenista dotada de uma grande força mental, nunca chegou a corresponder às expectativas depositadas sobre si e que a própria colocou em si mesma.

Na sua 46 ª participação em torneios do Grand Slam, atinge finalmente a glória eterna depois de um percurso brilhante, no qual derrotou pelo caminho Danielle Collins (antiga finalista do torneio), Elena Rybakina (vencedora de Wimbledon e também antiga finalista do torneio), a sempre complicada ucraniana Elina Svitolina (no qual teve que recuperar da desvantagem de um set), a número 2 mundial Iga Swiatek e a número um mundial Aryna Sabalenka.

Um percurso imaculado e inesquecível de uma nova campeã de Grand Slam, que pode fazer com que Keys (livre de lesões e da pressão de ganhar Grand Slams) possa finalmente corresponder àquilo que sempre se esperou dela e comece a ter resultados mais condizentes com o seu talento.

Vencedora do torneio WTA em Adelaide, já vai numa série de 12 (!) vitórias consecutivas em 2025, e tem ténis para se cimentar nas posições cimeiras do ranking.

De momento, já garantiu um lugar na história, e a doce Madison (uma das tenistas mais adoradas pelas suas adversárias do circuito) conseguiu encontrar as chaves para o paraíso.