A Polícia Judiciária apreendeu ficheiros excel a José Bernardes, responsável da empresa Questão Flexível, que está no centro da investigação do processo Saco Azul. E, num deles, denominado "controlo", causou estranheza à investigação um tópico encontrado em que se considera que se trata da entrega de notas. Num deles, atribuído a 'MM', aparecia "997 notas de 200 euros - 199400 euros". Miguel Moreira foi questionado se o 'MM' poderia ser uma sigla que se referia ao antigo diretor-financeiro das águias, até porque "210 mil euros foi o valor de uma fatura emitida pela Questão Flexível à Benfica Estádio" e José Bernardes poderia ter ficado com o que resta desse valor. 

O antigo responsável dos encarnados negou de forma veemente saber do que se trata esses valores que estavam no documento Excel. "Esse MM não sou eu de certeza. Não lhe sei dizer", respondeu Miguel Moreira, com o juiz Vítor Teixeira de Sousa a recordar a tese defendida pela acusação: "Na perspetiva da acusação, retornou a si o dinheiro que teria pago ao senhor José Bernardes".

O juiz queria apenas eliminar mais um "elefante na sala", mas Moreira deixou uma mensagem clara: "Obviamente que não. Jamais usaria o Benfica para esse fim". O líder do coletivo explicou, ainda, que noutro ficheiro Excel aparece o separador 'Benfica valor Dev', que a acusação sustenta que seria o valor a devolver aos encarnados. "Este dinheiro não foi para o corromper em prejuízo do Benfica?", voltou a insistir Vítor Teixeira de Sousa.

Miguel Moreira voltou a negar: "Não, não foi". 

Outro dos temas que suscitou mais dúvidas à acusação foi o facto de o contrato com a Questão Flexível ter sido elaborado bem depois dos trabalhos terem arrancado. A defesa do Benfica questionou Miguel Moreira se, com outras empresas e serviços, também não acontecia. O antigo diretor-financeiro dos encarnados teve dificuldades em apresentar outro caso em que tal tenha sucedido, mas passado algum tempo, recordou-se: "Estou a tentar lembrar-me... Já foi há muitos anos. Com a Mcskinsey não houve contrato", começou por dizer, com o advogado Rui Patrício a sugerir que na contratação de advogados tal também se verifica. Pouco depois Moreira lembrou-se que "em obras de melhoria, benfeitoria nas infraestruturas, coisas urgentes", também não se elaboravam contratos antes do arranque das obras: "Nesses casos, primeiro trabalhava-se a obra e depois formalizava-se a encomenda".