A extinta fase de grupos da Liga dos Campeões vinha ganhando, nos últimos anos, fama de ser aborrecida. De chegar às últimas rondas com pouco em discussão, gerando escasso entusiasmo, de ser previsível.

Pois bem, ainda será cedo para avaliar o êxito da nova roupagem da principal competição europeia de clubes. Uma coisa é certa: a 8.ª e derradeira ronda da nova fase de liga será o oposto do tal marasmo, do tédio, do aborrecimento.

Quarta-feira, 29 de janeiro de 2025. Eis o dia mais caótico da história da Liga dos Campeões, uma noite em que sobrarão partidas a que estar atento e faltarão ecrãs para seguir tudo. Serão 18 desafios em simultâneo, unindo Lisboa e Zagreb, Salzburgo e Turim, Munique e Manchester, Milão e Lille, Girona e Dortmund.

Todos os jogos do fecho desta fase serão ao mesmo tempo. Dos 18 encontros, 16 têm algo em disputa, sendo os confrontos entre os já eliminados Young Boys e Estrela Vermelha e Sturm Graz e RB Leipzig os únicos em que apenas se joga para cumprir calendário — e para ganhar os €2,1 milhões que a UEFA distribui por cada triunfo, claro.

Há muitos cenários possíveis, valendo a pena recordar o básico: os oito primeiros da tabela vão diretamente para os oitavos-de-final; quem terminar entre a nona e a 24.ª posição disputará um play-off, do qual sairão os oito outros integrantes dos oitavos; os participantes entre a 25.ª e a 36.ª posição ficarão fora das competições europeias, não havendo qualquer repescagem para a Liga Europa.

Apenas Liverpool e Barcelona já garantiram um lugar entre os oito primeiros. Arsenal, Aston Villa, Atalanta, Atlético, Bayern Munique, Brest, Celtic, Borussia Dortmund, Feyenoord, Inter, Juventus, Bayer Leverkusen, Lille, AC Milan, Mónaco e Real Madrid já asseguram presença entre os 24 primeiros, mas ainda tentarão ir diretamente para os oitavos-de-final, tirando dos muito apertados calendários uma eliminatória extra. Bologna, Estrela Vermelha, Girona, RB Leipzig, Red Bull Salzburg, Slovan Bratislava, Sparta Praga, Sturm Graz e Young Boys estão fora.

E o Benfica e o Sporting? Vamos a contas.

Vitória ou empate asseguram play-off

Durante esta fase de liga, fazer cálculos pareceu sempre um exercício quase de abstração. Mega computadores apontavam cenários pontuais que poderiam garantir o top 8 ou o top 24, mas sempre com base em projeções. Agora, mais de quatro meses depois do arranque, é possível realizar projeções com precisão.

Assim, Benfica e Sporting estarão no play-off da Liga dos Campeões se vencerem ou empatarem os seus respetivos compromissos. Se as águias não forem derrotadas, em Turim, contra a Juventus, e os leões não forem batidos, em casa, perante o Bologna, ambas as equipas estarão no sorteio da próxima sexta-feira, às 11h00, em Nyon.

O Sporting perdeu em Leipzig e não conseguiu confirmar o play-off
O Sporting perdeu em Leipzig e não conseguiu confirmar o play-off picture alliance

O Benfica é, neste momento, 21.º. Tem 10 pontos, tal como PSG, Sporting e Estugarda, mas uma diferença de golos de dois positivos, enquanto o PSG, tendo também +2, tem menos golos marcados, o Sporting tem +1 e o Estugarda tem -1.

O melhor que as equipas de Bruno Lage e Rui Borges podem fazer é terminar em 11.º. No sorteio do play-off, as equipas entre a nona e a 16.ª posição serão cabeças de série, ao contrário das que ficarem entre o 17.º e o 24.º lugar. Os duelos serão decididos em parelhas: o nono ou o 10.º defrontarão o 23.º ou o 24.º; o 11.º ou o 12.º jogarão contra o 21.º ou o 22.º e por aí fora. O que se decidirá no sorteio é, por exemplo, se o nono medirá forças contra o 23.º ou o 24.º. Se ficar com o 23.º, então o 10.º ficará com o 24.º.

O play-off será a 11/12 e 18/19 de fevereiro. Equipas do mesmo país podem defrontar-se, tal como adversários que se tenham cruzado na fase de liga.

E se perderem?

Caso Benfica e Sporting sejam derrotados, a primeira coisa a dizer é que terão realizado segundas partes de fase de liga bastante pobres. As águias pareciam ter o play-off na mão depois de vencerem no Mónaco, mas, se perderem em Turim, só terão somado um ponto nas derradeiras três rondas; os leões brilharam na fase inicial com Amorim, mas não pontuar diante do Bologna significaria chegar a quatro derrotas seguidas na competição.

Se ganhar ou empatar resolve as respetivas questões, perder levaria a complicadas matemáticas. O futebolês dita que, nestas situações, se apele ao uso da calculadora, mas, em certos dos possíveis cenários desta caótica quarta-feira, mais vale recorrer logo ao Excel ou a qualquer programa avançado de contas em tempo real.

Se águias e/ou leões perderem, ficarão à espera das notícias que forem chegando de outros campos. E aqui, perante a intensa atividade que chegará a diversos pontos da Europa, é importante ter algum foco: se Benfica e Sporting estiverem a perder, a atenção, a nível de contas, deve estar no Estugarda-PSG, no Manchester-City-Brugge e no Dinamo Zagreb-Milan.

Entre as equipas fora do top 24, só três podem assaltar as posições de play-off. São o Manchester City, o Dinamo Zagreb e o Shakhtar, mas os ucranianos, que igualarão os 10 pontos de Sporting e Benfica em caso de vitória diante do Dortmund, têm uma diferença de seis golos negativos, pelo que só entrarão nestas contas se ganharem por uma grande margem e Benfica ou Sporting foram derrotados por números, também, volumosos.

Note-se: mesmo que Benfica e Sporting percam, cada um, por 3-0, e o Shakhtar ganhar por 4-0, os ucranianos seguirão atrás dos portugueses.

Num duelo caótico, o Benfica foi derrotado pelo Barcelona na penúltima jornada
Num duelo caótico, o Benfica foi derrotado pelo Barcelona na penúltima jornada Pedro Salado

Caso as cores nacionais não triunfem em Alvalade nem em Turim, seria importante, para Sporting e Benfica, que as derrotas fossem pela menor margem possível, na medida em que tudo se decidiria pela diferença de golos. Seria também importante que, no confronto entre Estugarda e PSG, não houvesse empate, sendo preferível que sejam os franceses a prevalecer.

Aliás, um dos perigos para a continuidade portuguesa na Liga dos Campeões é se, a dada altura, Estugarda e PSG se conformarem com uma igualdade. Por exemplo, se Sporting e Benfica perderem, se Dinamo Zagreb e City vencerem e se Estugarda e PSG empatarem, Benfica e Sporting ficariam, os dois, de fora.

Há uma infinidade de cenários. Vejamos: Sporting e Benfica perdem por um golo cada, Dinamo Zagreb não vence o Milan, City derrota o Brugge e Estugarda e PSG empatam. O Benfica ficaria em 24.º, avançando para o play-off, e Sporting estaria de fora. Mas, se o PSG marcasse um golo e ganhasse, o Benfica iria para 23.º, o Sporting para 24.º e seria o Estugarda a estar de fora.

Outra circunstância seria Benfica e Sporting perderem, Estugarda e PSG empatarem, City vencer e Dinamo Zagreb perder. Aqui, ficaria com o play-off quem, entre águias e leões, tivesse melhor saldo de golos, dependendo a passagem do volume das respetivas derrotas. Mais uma vez: caso haja derrotas e se entre nesta zona Excel, pode ser decisivo perder por apenas um golo.

Como cábula, aqui ficam os 10 critérios de desempate
1 - Diferença de golos superior;
2 - Maior número de golos marcados;
3 - Maior número de golos marcados fora;
4 - Maior número de vitórias;
5 - Maior número de vitórias fora;
6 - Maior número de pontos acumulados pelos adversários da fase de liga;
7 - Diferença de golos superior dos adversários da fase de liga;
8 - Maior número de golos acumulados pelos adversários da fase de liga;
9 - Menor número de pontos disciplinares, baseando-se apenas em cartões amarelos e vermelhos recebidos por jogadores e elementos do staff (vermelho: 3 pontos; amarelos: 1 ponto; duplo amarelo: 3 pontos)
10 - Maior coeficiente de clubes.

O futebol também se adapta à evolução tecnológica. Já não basta simples contas entre dois ou três adversários, feitas à mão ou com uma simples calculadora básica. Na nova Liga dos Campeões, só programas complexos saberão lidar com tanta conta. Veremos se Benfica e Sporting sentirão necessidade de entrar nestes cenários ou se terão noites mais descansadas.