Morreu Francisco Araújo, figura incontornável da história do ciclismo em Portugal. Chegou a ser considerado o «melhor mecânico do mundo», e acompanhou alguns dos maiores ciclistas do pelotão nacional (e internacional), incluindo Joaquim Agostinho, de quem se tornou também grande amigo e confidente.
O 'Chico de Sacavém', como também era conhecido, faleceu aos 90 anos. A Federação Portuguesa de Ciclismo já manifestou o seu «profundo pesar» pelo falecimento de «uma figura incontornável do ciclismo português e um dos mais respeitados mecânicos do pelotão».
«Com um percurso ímpar, Francisco Araújo dedicou a sua vida às bicicletas, acompanhando o lendário Joaquim Agostinho ao longo de 16 anos e marcando presença em 42 edições da Volta a Portugal. Reconhecido pelo seu profissionalismo e dedicação, chegou a ser distinguido como o melhor mecânico do mundo e deixou um legado inestimável na história do ciclismo português. Além da sua mestria técnica, Francisco Araújo era uma figura acarinhada por todos no pelotão, onde conquistou amigos e respeito ao longo das décadas. O seu contributo para o ciclismo ultrapassou as competições, tendo preservado memórias e património da modalidade com a mesma paixão com que cuidava das bicicletas», acrescenta a nota federativa, que endereça sentidas condolências à família.
Francisco Araújo era filho de um barbeiro, mas ao lado do estabelecimento do pai, em Sacavém, havia uma oficina de bicicletas. Acabou por especializar-se nessa área e foi trabalhar para o Sporting como mecânico (mais tarde seria também responsável pela manutenção do Estádio José Alvalade). Participou em 42 Voltas a Portugal, em 23 Campeonatos do Mundo e 18 Voltas à França (12 profissionais e 6 do Futuro). Tem 6 Voltas à Espanha, 4 Corridas da Paz, 3 Voltas a Palma de Maiorca, 2 Voltas à Suiça, 1 Volta à Colômbia, 1 Volta a S. Paulo-Brasil e 1 Jogos Olímpicos (Atlanta). Em 1982 e 1983 foi considerado pelo jornal L’Equipe e pela RTF, o melhor mecânico do mundo velocipédico.
Com Joaquim Agostinho conviveu de forma intensa, nos bons e maus momentos. «O nosso convívio ia muito além da amizade. Eu era, sobretudo, o seu confidente! O Agostinho desabafava muito comigo. Sobre a vida desportiva e familiar. Sabe? Ele adorava a mulher e os filhos. E uma ausência prolongada de casa perturbava-o. Várias vezes, com saudades, dizia-me que largava tudo para regressar a Portugal. Eu tinha de lhe dar a volta, para o convencer a não partir. Éramos bastante unidos. Agostinho começou comigo e morreu comigo», recordou Araújo, com amargura, em entrevista concedida ao jornalista Vítor Cândido, de A BOLA, em 2008.
À família e aos amigos de Francisco Araújo, A BOLA envia sentidas condolências.