![Manchester City – Real Madrid | Mais uma remontada dos merengues](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
Manchester City e Real Madrid. Os dois últimos campeões da Europa. A quarta vez consecutiva que teriam que se encontravam na fase a eliminar da maior competição europeia de clubes.
A primeira mão realizou-se num Estádio Etihad a rebentar pelas costuras com um apoio fervoroso dos seus adeptos que continuam fiéis à sua equipa, apesar desta estar a apresentar uma irregularidade exibicional pouco habitual e indigna de uma equipa treinada pelo espanhol Pep Guardiola, um dos treinadores mais titulados da história do futebol.
É cedo para prognosticar o que se poderá passar na 2.ª mão desta eliminatória apaixonante (e que chega numa fase bem precoce da competição, devido a campanhas modestas de ambos clubes no novo formato da fase de grupos da Liga dos Campeões), mas a primeira mão já deixou bem patentes as lacunas e as valências de ambas equipas.
O Manchester City voltou a desperdiçar uma vantagem preciosa pela enésima vez esta época, algo que raramente aconteceu sob o comando de Guardiola. As equipas treinadas por Pep Guardiola (para além da sua identidade e qualidade de jogo), sempre se pautaram pelo seu domínio e controlo de todas as fases do jogo.
Mas neste momento, é claramente uma sombra do que já foi. Claro está que se pode perder contra uma equipa do poderio do Real Madrid, que ainda dispõe de mais qualidade na frente do seu ataque com a contratação do mago francês Kylian Mbappé.
Contudo, esta equipa do Real Madrid apresenta neste momento uma defesa totalmente remendada, está privada de jogadores como Militão, Rudiger e Carvajal, e nem assim o Manchester City conseguiu ser incisivo e gerar várias oportunidades de golo.
Futebol lentíssimo aquele que foi praticado pelos comandados de Guardiola, um futebol jogado ao ritmo que dois dos seus jogadores mais influentes dos últimos anos (Bernardo Silva e Kevin de Bruyne), conseguem acompanhar. Jogam claramente a uma velocidade diferente dos demais e isso condiciona a explosividade de jogadores como Foden e Savinho.
Desta vez, Guardiola optou por voltar a querer inovar e surpreender o seu adversário, colocando Stones como médio-defensivo ao lado de Bernardo Silva numa espécie de duplo pivot, prescindindo de Phil Foden (acabou por entrar à meia-hora de jogo para o lugar de Jack Grealish, a outra grande surpresa do onze inicial) e de Mateo Kovacic.
Melhorou a equipa inglesa com esta alteração? Nem um pouco. É verdade que aos 20 minutos de jogo se adiantou no marcador, fruto duma boa desmarcação do croata Gvardiol, que em mais de uma das suas já famosas subidas ao ataque, conseguiu amortecer com o peito e assistir Haaland, sendo que o norueguês finalmente quebrou a malapata e conseguiu por fim marcar um golo ao Real Madrid.
O norueguês festejou efusivamente esse golo, o Real Madrid reagiu de forma tímida ao golo encaixado, e o City pôde inclusive aumentar o marcador por intermédio de Akanji num cabeceamento à saída dum canto e já no início da segunda parte num remate de Haaland que sofreu um desvio traiçoeiro de um elemento da defesa do Real Madrid, e que por pouco não bateu um já desamparado Courtois.
Mas poderemos dizer que o Manchester City perdeu este jogo apenas por falta de sorte? Não, não podemos. Se na eliminatória do ano passado, a equipa inglesa foi injustamente eliminada e de forma bastante dramática na marcação de grandes penalidades, desta vez só se pode queixar de si mesmo.
Para além de cometer erros medonhos na defesa, não consegue controlar os jogos nem segurar vantagens no marcador. Esteve duas vezes em vantagem no marcador neste jogo, e conseguiu a proeza de o conseguir perder.
Neste momento, não está de todo apta para competir ao mais alto nível na alta roda do futebol europeu. Ficou constatado que o Manchester City está a anos luz da equipa dominadora e que chegou a encantar o mundo do futebol.
Depois do tal mencionado remate de Haaland à barra, o Real Madrid assumiu as despesas do jogo, dispôs de variadíssimas oportunidades e chegou ao empate no marcador de forma justa, mas num golo que poderemos dizer que só acontece com o Real Madrid nesta competição.
Livre directo à entrada da área, a defesa do Manchester City a não saber resolver da melhor maneira, a bola a sobrar para Dani Ceballos, que vê a desmarcação de Mbappé e assiste com um passe delicioso o avançado francês, que falha o remate acrobático (o que seria um golo de belo efeito), mas que se converteu num golo que poderia ter sido para os apanhados.
O internacional francês falhou o remate, a bola bateu-lhe na canela e seguiu uma trajetória totalmente contrária à que Ederson esperava, que foi traído por esse movimento e o Real Madrid conseguiu chegar à igualdade no marcador.
Como tantas vezes aconteceu durante esta época, o Manchester City sentiu muito o golo sofrido, demorou a encontrar-se no jogo e o jogo virou quase de sentido único, com total e absoluto domínio das operações por parte do Real Madrid, comandado por um genial Jude Bellingham.
Quanto mais exigente é o jogo, melhor se consegue exibir o médio inglês, que adora jogar no seu país. É um jogador completíssimo, convém referir tem apenas 21 anos, mas que joga como um veterano em campo, e foi novamente decisivo.
Apesar de jogar rodeado de estrelas planetárias como Mbappé e Vinicius Júnior, Bellingham é claramente o líder da equipa merengue, o que nunca se esconde do jogo e o que apesar dum brilhante jogo defensivo, consegue ter uma grande preponderância no jogo ofensivo da equipa também.
Foi contra a corrente do jogo e devido a uma ingenuidade de Ceballos, que o Manchester City conseguiu desfrutar de uma oportunidade de se colocar novamente em vantagem no marcador. Penalty bastante evitável cometido por Ceballos sobre Foden, e Haaland a bisar na partida e a colocar novamente os ingleses na frente.
Guardiola sentiu necessidade de refrescar o meio-campo e fez entrar o egípcio Marmoush (uma das várias contratações do mercado de Inverno do Manchester City, no qual gastou mais de 200 milhões de euros) e Gundogan para os lugares dos apagados Savinho e de Bruyne.
Mas a equipa piorou ainda mais com essas duas substituições, não tanto pela entrada desses jogadores, mas porque o Manchester City está efetivamente numa dinâmica muito negativa e já não consegue impor o seu futebol perante os seus adversários.
A ganhar 2-1 a cinco minutos do fim, o Manchester City não conseguiu ter posses de bola largas, continuou a querer jogar em transições ofensivas rápidas, mas ficou muito permeável a perdas de bola e a ataques rápidos do Real Madrid.
Bolas em profundidade nas costas de uma defesa exageradamente adiantada, são aquilo que os super velozes jogadores do Real Madrid querem.
Mbappé, Vinicius e Brahim (que tinha acabado de entrar) são autênticas setas apontadas à baliza adversária, e que podem criar várias dificuldades quando lançados em velocidade.
Foi isso que aconteceu à passagem do minuto 86. Bola em profundidade para Vinicius na direita, remate bastante denunciado mas muitíssimo mal defendido por Ederson que despeja para a frente, e na recarga a sugerir Brahim Díaz, a marcar para colocar o empate no marcador.
Uma defesa completamente atónita, que não soube travar a recarga do internacional marroquino, que curiosamente jogou no Manchester City nas camadas jovens e chegou ainda a jogar pela equipa principal, antes de rumar para outros destinos.
Mas o pior ainda estava para vir. O árbitro apenas concedeu três minutos de descontos, o resultado registava um 2-2, que poderia ser considerado um mal menor para as duas equipas, dada a incapacidade de uma equipa e a superioridade de outra.
Mas o Manchester City continua a não saber jogar estes momentos. Uma defesa tremendamente adiantada (quase em cima da linha do meio-campo (!) é um convite ao suicídio), um lateral adaptado (Rico Lewis é apenas e só um bom médio, mas não é de todo um jogador capaz de travar Vinicius Júnior), mais uma bola lançada em profundidade, Bellingham a ganhar a bola nas alturas, mas a partir daqui foi um autêntico circo dos horrores.
Kovacic atrasa a bola de forma negligente para Lewis, que em vez de despejar a bola, tenta sair a jogar perante a pressão de Vinicius que se isola perante Ederson (em mais uma das suas saídas extemporâneas e incompreensíveis), pica a bola por cima do seu compatriota, mas a mesma não ia seguir o destino da baliza, só que Bellingham (que tinha iniciado a jogada), conseguiu ser mais rápido do que toda a defesa do Manchester City, e quase em queda conseguiu encostar para o fundo das redes, assinalando mais uma “remontada” histórica e igualmente épica do Real Madrid sobre o Manchester City, numa reedição de um filme já visto anteriormente.
Há mérito do Real Madrid? Sim, há. Tem uma mística impossível de compreender e descrever em palavras nesta competição? Sim, tem. É um colosso europeu? Sim, é.
Mas este resultado só foi possível por demérito total do Manchester City. Em casa contra um rival de igual valia, jamais podes sofrer dois golos em cinco minutos. Numa eliminatória a duas mãos, tens que saber que nem tudo se decide no primeiro jogo, e que é uma batalha de 180 minutos no mínimo.
A ambição desmedida desta equipa expõe-na muito defensivamente, e os seus adversários simplesmente aproveitam toda essa instabilidade e desnorte. No futebol moderno, as equipas têm que ter várias formas de competir, e o Manchester City parece só ter uma.
Sou um grande apreciador de Pep Guardiola (para mim o melhor treinador da história), mas a sua intransigência e teimosia deviam ser igualmente estudadas, assim como tudo aquilo de fantástico e inovador que trouxe ao futebol.
Foram erros atrás de erros neste jogo. A entrada de Lewis ao intervalo para marcar o Vinicius é completamente suicida. A ausência de Rodri não justifica tudo, infelizmente há jogadores que já não aguentam este ritmo competitivo e outros que jamais podem jogar da forma que o Guardiola quer.
Tira o Nico González ao FC Porto no último dia de mercado precisamente para esta eliminatória e não joga nem um minuto? Não tem qualquer sentido, e não adianta dizerem que provavelmente não estava nas melhores condições por ter saído tocado no seu jogo de estreia contra a modesta equipa do Lleyton Orient, em jogo a contar para a Taça de Inglaterra.
Considero que este é mesmo o fim de ciclo e que a mensagem de Guardiola já não chega aos seus jogadores. Nunca pensei dizer isto duma equipa treinada por Guardiola, mas é aquilo que eu penso genuinamente.
Neste momento, o Manchester City é uma das equipas mais vulneráveis da Europa. Também não ajuda o Ederson estar na pior forma de sempre, há muitos factores, mas o principal está no banco.
Tem que saber fazer melhor uso dos seus recursos, os reforços têm que jogar, por alguma razão os foi contratar. Não tem sentido que o Marmoush só jogue 10 minutos. Eu sou um fã incondicional do futebol do belga de Bruyne, mas já não está apto para jogar 75 minutos num jogo desta dimensão e exigência competitiva.
Todos temos o nosso fim, Bernardo Silva também já tem dificuldade em acompanhar um ritmo alto de jogo. É inacreditável o que aconteceu com este Manchester City em menos de 20 meses. O único jogador que demonstra ter ainda alguma fome e estar verdadeiramente sedento de glória, é o insaciável goleador norueguês Erling Haaland, que apesar de ser decisivo muitas vezes, também há que admitir que é muitas vezes o jogador que mais condiciona o jogo da equipa.
Haaland é uma referência de área, não participa do jogo da equipa, não se associa com os seus colegas e necessita de ser bem municiado para poder fazer a diferença, caso contrário é uma presa fácil.
Neste jogo, fez o que se lhe pede, mas mesmo assim há momentos em que estagna a progressão da sua equipa quando tem que tomar decisões rápidas em transições ofensivas.
Neste momento, Guardiola deve estar bastante arrependido de não ter contratado um novo guarda-redes e de não ter permitido a saída de Ederson para a Arábia Saudita. A forma do internacional brasileiro nos últimos tempos chega a ser assustadora, e o seu desinteresse preocupa igualmente.
E já agora, de ter deixado sair um jogador tão importante e tão completo, como o argentino Julián Álvarez, que depois de ultrapassado o natural período de adaptação, está numa forma incrível ao serviço dos espanhóis do Atlético de Madrid.
A equipa necessitava urgentemente de um Khusanov? Não. Precisava de um lateral direito para suprir a saída de Kyle Walker para o AC Milan de Sérgio Conceição. Tem o Gvardiol no plantel, que é central de origem, e nestes jogos tem que jogar na sua melhor posição.
Foram más decisões atrás de más decisões, não reconheço o Guardiola neste momento. O resultado é justíssimo, e o Real Madrid nem precisou de fazer um grande jogo, aliás a equipa do Real Madrid não apresenta um futebol exuberante e este foi o primeiro jogo que ganhou frente a uma grande aniversário este ano, o que é sintomático de que não é nem de perto nem de longe uma equipa imbatível.
Mas se com o empate a duas bolas, ainda acreditava nas chances do Manchester City, com este terceiro golo no último minuto de descontos, considero uma tarefa quase impossível.
Com a eliminatória empatada, o Real Madrid iria ter que assumir mais o jogo e dessa forma expor-se mais a transições ofensivas, mas assim arrisco inclusive a perspectivar que o Manchester City possa sair goleado de Madrid.
O Real Madrid vai certamente jogar em transições ofensivas e com quatro setas apontadas à baliza da equipa inglesa, Ancelotti irá preparar muitíssimo bem o plano de jogo e sairá muito provavelmente vencedor desta eliminatória.
O Real Madrid parte na frente, veremos o que o Manchester City consegue fazer no mítico Estádio Santiago Bernabéu e se a equipa consegue recuperar animicamente dentro de oito dias.