
O treinador Carlos Queiroz afirmou esta segunda-feira que a seleção portuguesa de futebol se debate com um "momento crítico", em que são necessárias medidas para assegurar uma forte continuidade no rendimento da equipa após a saída de Cristiano Ronaldo.
À margem do fórum da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), que decorre entre hoje e terça-feira, no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos, o técnico deixou elogios à "nova geração de jogadores", mas sublinhou a importância de tomadas de posição estruturais no imediato para evitar um declínio.
"Ainda temos as ilusões a que os últimos anos nos habituaram, mas acho que estamos próximos de um momento muito crítico. Mais cedo ou mais tarde, vamos ter de enfrentar a decisão da saída de um jogador genial, que marcou o futebol português, o Cristiano. As grandes decisões para o futuro têm de ser tomadas agora para evitar que a seleção entre num declínio. Temos uma nova geração de jogadores que pode ser garantia de sucesso, mas, se entrarmos em declínio, voltar para cima torna-se mais difícil", augurou.
“Não vejo nenhuma razão para não termos 300 ou 400 mil jogadores efetivos”
Para isso, o bicampeão mundial de sub-20 (1989 e 1991) e líder da principal seleção das 'quinas' em duas ocasiões (1991/93 e 2008/10) reclama uma visão mais abrangente da formação de futebolistas.
"Temos de recapitular todo o processo de formação de jogadores, de deteção dos clubes, ter decisões mais abrangentes no potencial de jogadores a trazer para a seleção. Há que rever os quadros competitivos para tornar os jogadores mais dinâmicos. Temos também de aumentar o número de jogadores em Portugal. Não vejo nenhuma razão para não termos 300 ou 400 mil jogadores efetivos. Quantos mais forem, mais poderemos esperar que a genética das mães e pais de Figo e Ronaldo continue por aí", analisou.
“Este momento do Ruben [Amorim] lembra-me o período do declínio que nós passámos também”
Tendo passado pelo Manchester United, como adjunto de Alex Ferguson, entre 2002 e 2008, com interregno na época 2003/04, em que foi técnico principal do Real Madrid, Carlos Queiroz é conhecedor da realidade do clube inglês e abordou o percurso de Ruben Amorim.
"Ele saberá os caminhos que tem de traçar. Este momento do Ruben lembra-me o período do declínio que nós passámos também, em 2004. O Manchester United é um clube com características muito especiais, com uma cultura muito própria, a mentalidade e o ambiente da classe trabalhadora. Ao longo dos últimos anos, o clube deixou de estar acima de tudo e todos, começaram a assistir-se pequenos reinados de jogadores. Reverter isto demora tempo", constatou.
Manchester United: "Os sucessores [de Ferguson] tentaram cortar com o passado em vez de aproveitá-lo
Para Queiroz, o momento delicado dos “red devils” já dura desde a saída de Ferguson, em 2013, e perpetuou-se pela rotura, por parte dos seus sucessores, com os alicerces do período de 23 anos de comando do escocês, que apelidou de "dinastia".
"Vários grandes treinadores que chegaram depois de Ferguson não perceberam a génese do clube e o legado do passado técnico. Quando Ferguson sai, não é uma ameaça, porque ele reformou-se, não havia o risco de que voltasse para tomar-lhes o lugar. Nenhum treinador tinha de sentir esse peso ou sentir-se ameaçado e eu penso que os sucessores tentaram cortar com o passado em vez de aproveitá-lo", avaliou.
Questionado sobre o seu futuro, o treinador revelou que tem recebido muitas propostas, mas também que questiona se regressa aos bancos ou se assume "outras funções no futebol", remetendo a decisão para junho.
"Na próxima etapa, eu tinha em mente de ser o primeiro treinador da história do futebol a conseguir cinco qualificações para o Mundial. Mas, quando a FIFA fez a reestruturação para englobar tantas seleções, acho que o difícil agora é não qualificar. Tirou-me um pouco esse desafio", lamentou.