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O treinador Jorge Jesus, que orienta os sauditas do Al Hilal, revelou que esteve perto de ingressar no Benfica na altura em que assinou pelos brasileiros do Flamengo. Sobre o próximo passo da carreira, o técnico de 70 anos assumiu que será difícil regressar a Portugal, mas garantiu que "nunca mais" fará o que fez em 2015 quando trocou o Benfica pelo Sporting.
O técnico luso que brilha na Arábia Saudita abordou variados temas na mais recente entrevista ao Canal 11, emitida na segunda-feira.
Jorge Jesus revelou que, em 2019, quando terminou a primeira aventura no Al Hilal, esteve muito perto de regressar ao Benfica, uma mudança que não aconteceu, apesar do desejo do então presidente das 'águias', Luís Filipe Vieira.
"E ainda bem que assim aconteceu porque foi um ano espetacular. O Flamengo foi o maior clube que eu treinei, nisso não há hipóteses", declarou.
Sobre o futuro, esclareceu que será "difícil" regressar a uma equipa portuguesa, embora tenha reconhecido que tinha o sonho de ser o treinador com mais jogos na Liga portuguesa.
A "questão sentimental" da transferência para o Sporting
Uma troca como a que protagonizou em 2015 quando mudou do Sporting para o Benfica? Jesus foi perentório: "Nunca mais".
"Gostava de um dia voltar, mas não quero fazer a mesma coisa que fiz quando saí do Benfica para o Sporting. Nunca mais vou fazer a mesma coisa", confessou.
O homem do lema do Al Hilal explicou que a transferência que na época chocou o futebol nacional teve uma componente sentimental:
"Mas o Sporting teve aí uma questão diferente, teve a questão sentimental do meu pai. O meu pai, sportinguista, jogador do Sporting, fazia-me várias perguntas nos últimos anos da vida dele. 'Porque é que eu não treino o Sporting?' Bem, porque não me convidam. E no dia em que me convidaram, eu fiz-lhe isso. Não me arrependo, em nada, é verdade que ele não viu, morreu antes, mas foi por ele", disse.
Inevitavelmente, apontou as diferenças entre a Liga portuguesa e Liga saudita. Para o consagrado técnico "não há comparação possível" entre os dois campeonatos:
"Comparar as grandes equipas portuguesas com as grandes equipas sauditas? Isso nem é possível. Basta ver os melhores jogadores do Al Hilal, do Al Nassr, do Al Ittihad e ver o que há em Portugal, nem há conversa."
Roger e Quenda debaixo de olho
Reconhecendo que Sporting, Benfica e FC Porto "perderam qualidade nos últimos anos", muito por culpa de "questões financeiras", o treinador português acredita os "três grandes" teriam dificuldades na Liga onde atua.
Do plantel da ex-equipa, o Benfica, só Di Maria jogava no AL Hilal, confidenciou ainda.
Falta de qualidade não é, no entanto, um problema que Jesus reconheça aos atletas que jogam em Portugal.
Inclusive, assumiu que demonstrou interesse por algumas das principais joias do futebol luso, antes de garantir a contratação do jovem de 21 anos Kaio César ao Vitória SC.
"O Kaio César, dentro daquele limite com jogadores dessa idade, não havia muitos. Havia ele, o miúdo do Sporting, o Quenda, o do SC Braga, o Roger Fernandes, portanto havia outras soluções fora de Portugal que também procurámos, mas achámos que o Kaio era o jogador ideal. Acho que o presidente fez um ótimo negócio", avançou.
Polémica com Neymar
Jorge Jesus esteve recentemente no centro de uma polémica que envolveu também o seu ex-jogador, Neymar.
Antes de abandonar o Al Hilal rumo ao Brasil, o virtuoso brasileiro criticou o técnico luso por este ter falado publicamente da sua forma física.
Acerca deste tema, Jorge Jesus assumiu que não teve "sorte nenhuma" na relação com o craque, muito por culpa da grave lesão que afastou o atleta dos relvados durante vários meses.
Encheu o futebolista de elogios, mas reconheceu que "as coisas não ligaram":
"Às vezes, a falar sozinho frustrado até penso 'como é que não consegui que este jogador, que é um super craque, ter dado certo?', mas pronto, foram coisas que aconteceram."
Relação com Conceição manchada por "episódio parvo"
O técnico do Al Hilal lamentou também não ter ainda reatado a relação "quase familiar" que tinha com Sérgio Conceição, atualmente nos italianos do AC Milan.
"Um episódio parvo", descreveu o próprio, após um FC Porto-Benfica, no Estádio do Dragão, esteve na origem da rotura, mas, à luz da distância, Jorge Jesus garantiu que vê "as coisas de forma diferente" e que tem "pena" pelo sucedido.
"A vida hoje não dá para as pessoas se chatearem. O Sérgio Conceição tem 50 anos e leva as coisas de uma forma muito intensa, como eu levava com a idade dele. Eu já tenho uma idade diferente e olho para as coisas de forma diferente", explicou.
"Sonho da vida" esteve muito perto
Outro treinador português em destaque nos últimos anos é Ruben Amorim, que em novembro assinou pelo Manchester United.
O treinador do Al Hilal elogiou a coragem do colega de profissão e revelou que, contrariamente ao ex-Sporting, não teve a audácia de abraçar o sonho da sua vida.
"Percebo-o perfeitamente. Eu este ano tive o sonho da minha vida e não tive coragem porque sou muito bem tratado aqui, ele teve. Qual era? Fica comigo. Seleção ou clube? Não quero falar, está nos segredos dos deuses. Ele teve coragem, era o sonho dele. Arriscado? Arriscado é. Quando queremos dar passos com mais sentido de responsabilidade, não é que o Sporting não seja um grande clube, mas foi para um clube que tem um estatuto completamente diferente. Tem outro 'pedigree'. Foi para um clube, não digo o top, mas próximo disso."
O experiente técnico reconheceu ainda qualidades em Amorim, o jogador com quem trabalhou durante mais tempo, mas defendeu que o técnico dos 'red devils' demorará a ter êxito, isto porque está a tentar implementar um sistema "com os jogadores que tem" e não com os que escolheu.