O local é propício a milagres e é bem próximo do Santuário que o CD Fátima tem protagonizado uma das sensações dos campeonatos nacionais, ao associar a juventude do seu plantel ao êxito desportivo.

Duas vertentes tantas vezes difíceis de conjugar, mas que este plantel tem conseguido ao apresentar a mais baixa média de idades do Campeonato de Portugal, com 21,47 anos, apenas mais elevada do as registadas pelas equipas B de Vitória de Guimarães (20,62), Estrela da Amadora (20,72 anos) e Alverca (21,39).

O Fátima apresenta, inclusive, um plantel mais jovem do que o Marítimo B (21,78 anos) e a isto tudo junta o facto de estar no 2.° lugar da Série C, em zona de subida à Liga 3, sabendo que pela frente tem, este sábado, grande duelo com o líder da prova, O Elvas.

Por detrás deste sucesso está um nome que, noutros tempos, jogou ao lado de estrelas como Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma e que foi treinado por técnicos consagrados como José Mourinho e Jorge Jesus. Trata-se do atual diretor desportivo do Fátima, o antigo futebolista profissional Nuno Laranjeiro, que se formou no Sporting e que vestiu as camisolas de vários emblemas nacionais, com destaque para o UD Leiria, durante sete temporadas.

«Não é apenas por serem jovens. São jovens e 14 deles passaram pela formação do Fátima, ou seja, não são oriundos de outras longitudes, do Norte ou do Sul… são todos daqui à volta da zona e deste distrito. Temos a média mais baixa de idades e jogadores que se conhecem uns aos outros, o que também facilita e torna a união do grupo mais forte. O que eles estão a fazer é fantástico», constata o dirigente de 42 anos em conversa com A BOLA.

O Fátima detém, ainda, o estatuto de equipa com menos golos sofridos (nove). Culpado? O guarda-redes Martim Duarte, de 22 anos, que passou pelas escolas do Sporting, soma duas internacionalizações jovens por Portugal e cujo momento de forma se reflete no registo de apenas quatro golos nos últimos 18 jogos.

Um caso de êxito que, conta Laranjeiro, consiste numa história curiosa: «O Martim é um caso divertido, porque ele foi-nos oferecido já no início da época e nós tínhamos - e temos - dois excelentes guarda-redes, o Ivo e o Tetteh. O Martim foi-nos oferecido e não quisemos na altura porque tínhamos esses dois guarda-redes e na altura não aceitámos. Depois, um deles lesionou-se e só tínhamos um, tínhamos o dos juniores como terceiro guarda-redes, mas não nos dava totais garantias para um Campeonato de Portugal. E isso fez com que fôssemos buscar o Martim. É um excelente guarda-redes, sem dúvida, e veio, é mais um para ajudar», define.

Além de Martim Duarte, destacam-se na equipa nomes como Dinis Almeida, central de 19 anos, o médio defensivo Alex Silva (21), o extremo Martim Santos (20) ou o avançado Tiago Rodrigues (21 anos). E o mais veterano é Ganso, de… 27 anos.

Mas há mais: o CD Fátima está invicto no ano civil de 2025, com nove vitórias e dois empates, um registo de candidato à subida que, confessa Laranjeiro, excedeu largamente as expectativas do clube.

«O clube não queria subir, mas nós não vamos jogar para perder. Se tivermos de subir, iremos subir, não vamos abdicar de nada. Tudo isto foi consequência do grande trabalho que equipa técnica, estrutura e atletas têm a vindo a desenvolver. E era um prémio mais que justo irmos à fase de subida, independentemente de subirmos ou não. Pelo que eles têm feito, subir de divisão era o que mereciam, claramente. Seria a cereja no topo do bolo», assume.

«O segredo é o trabalho diário. É quem não joga puxa pelos que jogam, é uma união de grupo que se nota em cada lance ganho como se fosse um golo. Um bom espírito que se criou aqui, também porque a equipa técnica assim o exige, de grandes seres humanos. Estamos a remar todos para o mesmo lado», continua Laranjeiro, antigo lateral que, em 2018/2019, terminou a carreira no Fátima e permaneceu no clube, assumindo logo as atuais funções.

«Gosto de ser diretor desportivo, porque já trabalhei com grandes profissionais, estive e lidei com muitos balneários e gosto de lidar com os jogadores, estudar a cabeça de cada um e lidar com cada um individualmente, porque não gosto muito de falar para o geral. Gosto mais de me focar no jogador, porque cada um tem uma maneira de pensar e temos de buscar o melhor de cada um, isso é fascinante», assumiu o dirigente, que não escondeu a sua ambição: «Sinto-me muito bem aqui, as coisas estão a correr bem, mas sou ambicioso e não acomodado.»

Com Mourinho, Jesus, Quaresma, Cristiano Ronaldo… Um privilegiado!

Serão poucos os privilegiados que podem gabar-se de ter trabalhado com figuras como José Mourinho, Jorge Jesus, Ricardo Quaresma e Cristiano Ronaldo. Um desses poucos privilegiados reside em Fátima e responde pelo nome de Nuno Laranjeiro, que partilha a sua experiência com estes nomes grandes do futebol português e internacional.

O primeiro de todos, quando ainda se estreava no futebol sénior, foi José Mourinho. «Subi à equipa principal do UD Leiria em 2001, com Mourinho. Fui promovido por ele aos seniores, ainda era júnior, e na altura foi muito importante porque era um treinador que estava muito à frente de todos os outros», recorda o antigo jogador.

Em Leiria, Laranjeiro foi orientado também por Jorge Jesus, que o marcou particularmente. «Para mim é um exemplo, aprendi muito com ele. Taticamente, foi o treinador que me encheu todas as medidas, ele vai ao pormenor. Pode ser rígido com os jogadores, mas tem a exigência máxima», elogiou.

Dentro das quatro linhas, o antigo defensor, hoje com 42 anos, competiu ao lado de estrelas como Cristiano Ronaldo ou Quaresma, entre os escalões de formação do Sporting e as seleções nacionais jovens, pelas quais conta 13 internacionalizações.

«Recordo-me perfeitamente deles. Aliás, com o Cristiano Ronaldo estava no centro de estágio, estávamos no mesmo espaço, e o Quaresma é do meu ano, joguei com ele na seleções e no Sporting. O Cristiano estava lá na academia que era, na altura, debaixo das bancadas do antigo Estádio de Alvalade, e íamos vê-lo jogar, era um gosto. Íamos ver os jogos dele porque ele pegava na bola e fintava toda a gente, notava-se perfeitamente que era um fora de série, destacava-se dos outros. O Aurélio Pereira e o Sporting fizeram um excelente trabalho com ele, como com outros, mas viu-se ali grande capacidade para pegar no jogador e fazer dele o que ainda é hoje», considerou, trazendo gratas memórias.