Há um fenómeno curioso a desenrolar-se no futebol inglês e no seu mercado de transferências. Algo que até este verão de 2024 raramente acontecia, agora repete-se constantemente, num padrão que tem feito algumas sobrancelhas levantar. Veja, caro leitor, se consegue perceber ao que nos estamos a referir...

Ian Maatsen assinou pelo Aston Villa, com o Chelsea a encaixar 45 milhões de euros. Um dia depois, o jovem Omari Kellyman seguiu o caminho inverso a troco de 22,5 milhões.

Mais a norte, o Nottingham Forest vendeu Odysseas Vlachodimos ao Newcastle United, num negócio separado do que os levou a pagar um valor acima dos 40 milhões de euros por Elliot Anderson.

O carrossel não parou ainda, já que esta terça-feira houve acordo entre Chelsea e Leicester City por Dewsbury-Hall (35 milhões de euros) e Michael Golding está a preparar-se para trocar os blues pelos foxes.

«Porquê?» É essa a questão que se levanta, e à qual o zerozero tentará responder.

Em nome da rentabilidade e sustentabilidade

A versão mais curta da resposta a essa questão tem apenas três letras: PSR. É essa a sigla que tem dado fama às Profit and Sustainability Rules (Regras de Rentabilidade e Sustentabilidade), uma espécie de fair-play financeiro que afeta apenas os clubes do principal escalão do futebol inglês.

Trata-se do bicho-papão que tem assombrado os dirigentes e gestores dos emblemas da Premier League, especialmente depois de na última edição Everton e Nottingham Forest terem sido penalizados com dedução de pontos (oito e quatro, respetivamente) por incumprimento das regras.

A premissa é simples: são permitidas perdas de um máximo de 105 milhões de libras (cerca de 125 milhões de euros) ao longo de cada dado período de três anos e a data limite para estar dentro desses pressupostos é a meio de cada ano, ou seja, no fim de junho.

Após apenas sete jogos pelo Nottingham Forest, Vlachodimos, ex-Benfica, vai jogar no Newcastle United @Nothingham Forest


Mas a existência do PSR não justifica, por si só, o surgimento deste fenómeno de trocas milionárias de jogadores na janela de transferências...

Mais do que reforçar a equipa, os clubes estão a utilizar o mercado como ferramenta de contabilidade. O processo passa por vender jogadores, encaixando imediatamente esse valor - lucro puro quando se tratam de jogadores formados no clube -, e comprar outros, amortizando o valor da compra.

Isso explica, por exemplo, a lógica da transferência de Tim Iroegbunam do Aston Villa para o Everton, por pouco mais de 10 milhões de euros, apenas um dia antes de Lewis Dobbin seguir o caminho inverso por um valor semelhante. Por que não trocá-los diretamente? Porque os milhões ganhos entraram integralmente nas contas do exercício atual e os gastos foram divididos pela duração do novo contrato.

Alguma polémica à mistura

Dewsbury-Hall
Leicester City
2023/2024
49 Jogos 3855 Minutos
12 6 0 02x

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Sendo o primeiro verão em que este tipo de negócios surgiram em peso, o tema gerou discussão em Inglaterra. Estarão estes clubes a aproveitar uma lacuna nas leis existentes? Ora, desde que não comprometam a sua saúde financeira a longo prazo, uma vez que é esse o objetivo deste tipo de regulamentação, então estes negócios de benefício mútuo não afetam diretamente ninguém.

A principal crítica apontada aos clubes é que estes não se importam de sacrificar alguns dos seus jovens mais promissores de forma prematura na procura pelo tal lucro puro, mas até isso é compreensível quando há o risco de uma arrasadora dedução pontual numa liga extremamente competitiva.

O fator novidade ainda está presente, mas uma coisa é certa: caso não haja nenhuma mudança nas regras, voltaremos a ver este sistema de transferências em operação no próximo verão.