Por algum tempo, os Milwaukee Bucks foram um farol de estabilidade e sucesso no meio de uma NBA marcada por volatilidade, super equipas e trocas bombásticas. Guiados pela força titânica de Giannis Antetokounmpo, construíram uma narrativa improvável — a de um mercado pequeno que não só reteve uma superestrela, mas também conquistou um título. Mas como todas as grandes histórias, também esta parece estar a aproximar-se do seu ponto final.

Hoje, Milwaukee encontra-se num momento de transição profunda. Um ponto de inflexão. E, possivelmente, num dos períodos mais sombrios desde a ascensão de Giannis à elite da liga.

A sombra do passado e o peso do presente

Nos últimos três anos, os Bucks foram eliminados na primeira ronda dos playoffs. Três anos consecutivos a falhar o mínimo exigível a uma equipa que ainda conta com um dos três melhores jogadores do mundo. E este ano, nem o heroísmo de Giannis — um triplo-duplo histórico com 30 pontos, 20 ressaltos e 13 assistências — foi suficiente para evitar o colapso frente a uns Indiana Pacers mais jovens, mais frescos e mais coesos.

A ausência de Damian Lillard, com uma rotura no tendão de Aquiles, foi o golpe final numa época já de si titubeante. Mas não sejamos ingénuos: mesmo com Lillard em campo, esta equipa não parecia ter o que era preciso. A química era intermitente, os role players estavam envelhecidos e o banco era raso. A dependência de estrelas lesionadas e o compromisso financeiro sufocante impedem qualquer esperança de reconstrução rápida.

Giannis: lealdade ou lucidez?

É aqui que se impõe a questão que poucos em Milwaukee querem realmente enfrentar: será altura de trocar Giannis?

É uma pergunta cruel, quase herética. Como se propõe a uma cidade, a uma base de adeptos, a um baluarte da NBA moderna, que abdique da sua figura maior? Giannis não é apenas um jogador. É um símbolo de trabalho árduo, de superação, de fidelidade num tempo em que essas virtudes parecem antiquadas.

Mas a verdade nua e crua é que o futuro em Milwaukee está selado — e não é um destino glorioso. Sem escolhas de draft relevantes, com salários inflacionados e um núcleo envelhecido, os Bucks não têm como rejuvenescer a sua equipa de forma orgânica. E cada ano que passa é um ano a menos do prime atlético de Giannis.

Permanecer nesta rota é repetir os erros do passado: os mesmos que condenaram os Portland Trail Blazers nos últimos anos de Lillard, agarrados a uma ilusão de competitividade enquanto a realidade os arrastava para o fundo da tabela.

A coragem de recomeçar

Trocar Giannis pode ser a única forma de dar um novo rumo à franquia. Um adeus estratégico, não sentimental. E isso não significa desrespeitar o legado do grego, mas sim honrá-lo ao reconhecer que ele merece mais do que ser o farol solitário de uma embarcação naufragada.

Equipa como os Houston Rockets, Brooklyn Nets, San Antonio Spurs ou até os Raptors podem oferecer pacotes de reconstrução sérios: jovens promissores, escolhas altas de draft e flexibilidade salarial. Giannis, com o seu talento e postura, ainda é um dos ativos mais valiosos do desporto mundial.

Milwaukee precisa de fazer o que poucos têm coragem de fazer: admitir que é o fim de uma era e preparar, com sabedoria, o início da próxima.

O futuro, sem ilusões

A alternativa? Fingir que ainda é possível lutar por um título. Esticar a corda mais um ou dois anos, apostar tudo numa recuperação milagrosa de Lillard, tentar atrair reforços com salários mínimos e esperar que a sorte mude. Mas a sorte não é um plano. E a NBA não perdoa estagnação.

Giannis tem contrato até 2027, com uma opção de saída em 2026. Lillard, por sua vez, absorverá mais de 110 milhões de dólares em salários nos próximos dois anos, enquanto tenta regressar de uma das lesões mais difíceis para um jogador da sua idade. Os restantes jogadores em redor são ou apostas frágeis ou veteranos em fim de ciclo.

Este núcleo não voltará a ser campeão. E quanto mais tarde Milwaukee o aceitar, mais tempo perderá.

Conclusão: honestidade, não nostalgia

É fácil romantizar. É fácil querer que Giannis acabe a carreira nos Bucks, que vença um segundo título, que se torne o novo Nowitzki. Mas Dirk teve ao seu lado uma estrutura que soube planear, esperar e acertar no momento certo. Milwaukee não tem esse luxo.

A decisão difícil raramente é a popular. Mas é nas decisões difíceis que se mede a grandeza de uma organização.

Trocar Giannis não é desistir. É dar a si mesmos uma nova oportunidade.

E talvez, no futuro, possamos olhar para trás e dizer que foi aí, nesse momento de coragem e lucidez, que começou a próxima grande história dos Milwaukee Bucks.