À chegada a Portugal, o selecionador nacional Francisco Neto e a diretora para o futebol feminino da FPF Mónica Jorge destacaram o esforço e a evolução da Seleção feminina, que esta terça-feira garantiu o apuramento para o Euro'2025 ao bater a República Checa fora de casa, por 2-1.

"Hoje já vínhamos um bocadinho mais calmos. A noite foi longa. É verdade que para muitas delas já é o terceiro Europeu. À hora de jantar foi uma celebração muito grande, mas agora estamos a pensar no processo de recuperação", referiu, inicialmente, Francisco Neto.

Mais uma fase final, o que significa para si?
"É a continuidade do crescimento do que tem sido uma aposta muito grande da Federação, dos clubes e do futebol feminino. Sabemos e assumimos a responsabilidade. Quando a Seleção joga, a visibilidade é diferente. É a confirmação do estatuto e da qualidade da jogadora portuguesa".

Passar a fase de grupos é o objetivo?
"Em 2017 chegámos ao último dia a depender só de nós, em 2022 igual, e no Mundial o mesmo. É isso que queremos novamente. E depois é a nossa competência. Se formos competentes passaremos, se não formos, viremos para casa".

Como tem assistido a estes últimos dias? Mais de 40 mil pessoas estiveram no Dragão...
"Eu sou apenas mais uma peça do puzzle. Assumo que tenho a minha visibilidade, mas sou apenas mais um num staff incrível onde todos são importantes e contam. É uma felicidade imensa, um privilégio e um orgulho fazer parte deste trajeto, e acredito que os portugueses também achem maravilhoso ver estas jogadoras fazerem o que fazem. Trabalham muito para, no dia-a-dia, darem esta alegrias".

Ponto alto desta caminhada?
"Foi uma caminhada muito bem conseguida. 12 jogos, 10 vitórias, 2 empates. Se calhar o que não foi tão apelativo da nossa parte foi a nossa incapacidade de concretizar em alguns jogos, o que não nos permitiu estar mais à vontade. Ponto alto, aquilo que são enquanto equipa, a energia, a disponibilidade. Todas sabem que, seja em que campo for, Portugal vai ser altamente competitivo".

Chegou ao lado de Fernando Gomes. Que palavras trocaram?
"Acima de tudo, o que lhe disse foi agradecer pelo trabalho que tem feito. A ele e à professora Mónica Jorge, que tiveram a ousadia de trazer um treinador de 32 anos, vindo da distrital. Tiveram esse atrevimento e deram-nos todas as condições. Para ele, e para a sua estrutura, uma gratidão imensa. Sem eles, nada disto era possível".

Encontrou sempre caminhos muitos longos para se qualificar para as grandes competições... O próximo passo será um apuramento menos sofrido?
"A curto prazo, não é fácil. Se olharem para os apuramentos, quem apura direto são só oito equipas. O futebol na Europa é de um nível incrível, nós ainda nos estamos a consolidar. A Suécia, por exemplo, esteve neste playoff, a Noruega também. Estamos a falar de equipas que já foram campeãs da Europa e do mundo. O nível está muito alto. Queremos é lá estar, temos é de ser competentes para isso, a forma como chegamos não interessa muito. Reconhecemos que o apuramento direto é possível, mas temos de trabalhar para acontecer".

Mónica Jorge

O que sentiu depois do apito final? É um apuramento muito especial?
"Claro que sim, para mim, para a Federação, para toda uma direção que teve um plano estratégico para todo o futebol feminino. A missão era grande, o desafio enorme, e conseguiu-se tudo isso. Foi fantástico estarmos presentes novamente numa fase final, é importante para a nossa estrutura".

O que representa esta caminhada a nível pessoal?
"Neste momento, eu pouco interesso. Isto foi feito para elas. Eu tive esta missão sempre a pensar nelas, para o palco poder ser delas. Eu agora não importo nada. Vem aí uma Liga das Nações com jogos muito competitivos, que as vai preparar para um Europeu".

Enquanto mulher, onde vão os seus pensamentos quando vê mais de 40 mil pessoas no Dragão?
"Que valeu a pena, é um orgulho muito grande como mulher e pessoa que ajudou a construir esse processo. Todas as derrotas e quedas valeram a pena. Não fui só eu que morri muitas vezes a dar o melhor de mim, mas foi sempre em prol delas. Chegar agora e ver onde o futebol feminino está é das coisas mais importantes. Neste momento, já não é uma coisa que está a chegar. Está muito presente e tem um mercado aberto e grandioso na nossa cultura desportiva".

E o futuro em termos pessoais?
"No futuro não penso muito. Agora quero é chegar a casa e abraçar o meu filho. Poder ir jogar um bocadinho de futebol...".

Deu alguma palavra às jogadoras no balneário?
"Não, isso é sempre para o presidente e para o Francisco. Elas não precisam das minhas palavras, sabem bem o que penso. Às vezes entendo-as só pelos olhares".

Ganhar assim acaba por ter outro sabor?
"Claro, é sempre bom. As últimas duas qualificações fora, para um Europeu, não foram muito fáceis. Havia esse objetivo de querer ganhar fora. Quando os jogos têm muita pressão, elas conseguem superar-se em emoção e nível competitivo. Cresceram muito nos últimos anos. Foi sempre muito bom. Agora é preparar os próximos 10 anos: novos desafios, desenvolvimentos. Não podemos ficar para trás. Temos de trabalhar muito, mais e melhor para conseguirmos estar nas fases finais e fazer com que a nossa base do futebol feminino seja cada vez mais sustentável".