
Quando, a 7 de março de 1993, o Famalicão venceu no antigo Estádio das Antas, estava escrita uma página dourada na história dos minhotos. Nessa data, os famalicenses ganhavam pela primeira vez no anfiteatro azul e branco em jogos a contar para o principal escalão do futebol português. Mas essa mesma história… perdura: não mais o emblema de Vila Nova repetiu o feito, pelo que a conquista continua a ser inédita.
Recuemos mais de três décadas. Voltemos à época 1992/1993 e falemos sobre esse feito. E para contar a história, nada melhor do que o seu mentor. O treinador que guiou os azuis e brancos… do Minho à glória: José Romão. A BOLA esteve à conversa com o antigo técnico e as recordações, claro, vieram à memória.
«Já passaram muitos anos, depois disso já fiz tantos jogos e orientei tantos jogadores, mas claro que me lembro, sim. Foi um tempo que me marcou. Por várias razões. Mas essa foi uma grande vitória. Não só por ter sido diante de uma grande instituição, como é o FC Porto, mas também porque Famalicão é uma terra de futebol, com pessoas muito ligadas ao clube. Nós tínhamos uma grande equipa e ganhámos bem nas Antas. Recordo-me que foi o Vieira que marcou o golo desse triunfo», conta José Romão.
As lembranças da passagem pelos minhotos são profundas. Não só por esse jogo, mas também por toda a temporada: «Fomos crescendo ao longo do tempo e fizemos uma grande época. Estivemos 12 jogos seguidos sem perder [da 7.ª à 18.ª jornada], algo muito meritório para o Famalicão, até porque naquele tempo as diferenças entre os ditos grandes e os ditos pequenos eram ainda maiores. Mas nessa temporada também ganhámos em casa ao Benfica [1-0, golo de Freitas, na 4.ª jornada, a 13 de setembro de 1992]. São provas evidentes da qualidade do futebol que praticávamos. Tínhamos um grande grupo, com jogadores comprometidos, e escrevemos algumas das páginas bonitas do clube.»
Na sexta-feira há novo duelo entre portistas e famalicenses, agora no Estádio do Dragão, e José Romão acredita que pode voltar a haver uma surpresa.
«O Famalicão tem uma boa equipa e já desmistificou o fator casa, ou seja, consegue jogar fora com a mesma atitude. E isso é muito importante, especialmente diante de adversários desta dimensão. Como tal, e mesmo sabendo que o FC Porto tem consciência de que não pode dar mais passos em falso, acredito que o Famalicão pode vencer. Tudo é possível», projeta, mas que para isso tenha de cair o seu recorde: «Tudo tem o seu tempo.»
Segunda volta pintada de azul e branco
É com um sorriso no rosto que o Famalicão olha para trás e vislumbra o que de bom tem feito desde a viragem do campeonato. Se no final da primeira volta a equipa tinha conquistado 20 pontos – terminou a 17.ª jornada no 9.º lugar -, a segunda metade tem sido bem mais profícua e em apenas 12 jogos os minhotos já conseguiram mais pontos (23) do que em toda a fase inicial da época – estão agora no 7.º posto.
Só neste período mais recente, ou seja, na última dúzia de jogos, os famalicenses podem gabar-se de ter somado tanto como o Vitória de Guimarães, contabilidade em que estão apenas atrás de Sporting (28), SC Braga (29) e Benfica (31). Mas se quisermos condensar ainda mais a análise, centramo-nos nos últimos 10 encontros – desde o triunfo sobre o Boavista (2-0), na 20.ª ronda, e que quebrou um ciclo de 9 partidas consecutivas sem qualquer vitória – e percebemos que em 30 pontos possíveis o Famalicão conquistou 22, particular em que é apenas superado por Benfica (28) e SC Braga (23).
Além do poder de fogo no último terço ofensivo ter aumentado, há também a registar as significativas melhorias no capítulo defensivo: somente 11 golos sofridos nos 12 jogos já realizados na segunda volta – apenas SC Braga (6), Vitória de Guimarães (7) e Sporting (10) conseguiram melhor -, em contraste com os 20 tentos consentidos nas primeiras 17 jornadas.
A época começou com Ivan Zlobin entre os postes, mas Lazar Carevic ganhou entretanto o lugar. Ambos são responsáveis pelas 13 clean sheets conseguidas pelo Famalicão até ao momento. Todos estes méritos dão corpo ao sonho do 6.º lugar, uma vez que o Santa Clara está (apenas) a três pontos de distância…
Na sexta a pensar em meter... a quarta
Benfica (2-0), Estrela da Amadora (3-0) e Boavista (1-0). Estávamos na 1.ª, 2.ª e 3.ª jornadas do campeonato, respetivamente, e era ainda Armando Evangelista o treinador.
Aves SAD (4-1), Arouca (2-1) e Estoril (3-0). Falamos da 27.ª, 28.ª e 29.ª rondas da Liga, respetivamente, e já com Hugo Oliveira como técnico.
A comparação entre estes dois períodos está assente num fio condutor: três vitórias consecutivas. Mas ao contrário do que aconteceu nas três jornadas inaugurais, uma vez que logo a seguir deu-se um desaire com o Vitória de Guimarães (1-2), o Famalicão tem agora a possibilidade de chegar a um inédito quatro triunfo consecutivo.
A missão não se adivinha fácil, mas o emblema de Vila Nova vai ao Estádio do Dragão altamente moralizado e com um forte desejo de continuar a fazer história. Olhando ao dia do jogo, é caso para dizer que os minhotos chegam à sexta(-feira) com o objetivo de meterem… a quarta.