O pugilista Octávio Pudivitr, de 37 anos, fez uma pausa na sua programação diária de treinos do Sporting para uma manhã diferente junto dos alunos do curso profissional de Técnico de Apoio à Gestão Desportiva do Instituto de Desenvolvimento Social, em Lisboa. Perante uma plateia de jovens provenientes de contextos sociais desfavoráveis, Pudivitr captou a atenção falando-lhes de como também a vida dele teve "tudo para dar errado". Desde as dificuldades económicas em Maputo, onde nasceu, à chegada a um colégio interno no Porto, para onde a família o enviou a ele e ao seu irmão, à expulsão desse mesmo colégio, passando a viver sozinho com o irmão e alguns amigos, e de como as tentações sempre estiveram muito presentes; entrou nos desportos de combate pelo Jiu-Jitsu, judo, depois wrestling, MMA e por fim boxe.

O boxe chegou tarde "um pouco de paraquedas", mas funcionando na altura como escape numa nova fase difícil: o cancro de um dos filhos e o falecimento devido ao Covid do pai. "O boxe foi a minha terapia", reconhece agora, não escondendo também que face a tantas provações chegou a uma altura em que entrou em depressão.

"O meu primeiro combate foi o mais difícil porque não sabia se estava preparado, mas também porque senti que aquele combate mudou muitas coisas na minha vida", admite. E depois de ter conseguido ser bem-sucedido nos vários desportos de combate, também no boxe foi tendo sucesso, vencendo até agora nove dos 11 combates em que participou.

No último em que esteve inserido, o maior de todos, em Riade, disputando um título mundial na WBA, combatendo "onde nenhum português conseguira chegar", caiu com estrondo… ao primeiro golpe, uma deslocação da retina impediu-o de continuar. "Essa derrota foi como um trovão. Só pensava nas dificuldades que tive para ali chegar e de como depois de ter chegado ao ponto mais alto… estava a cair a pique. Aí achei que era o fim de um ciclo e que já não conseguia voltar".

Mas encontrou forças para se erguer de novo. "Achei que estava no meu limite, mas agora tenho a sensação de que este ano ainda vai ser melhor que os anos transatos. Temos algumas coisas fechadas, mais do que nos últimos três ou quatro anos por esta altura, por isso acredito que vem aí muita coisa boa a caminho e a tendência é ser cada vez melhor. Enquanto houver força da minha parte, enquanto houver energia vou estar sempre aqui em alto nível."

Um dos sonhos de infância sempre foi o de "representar o Sporting como jogador de futebol". A vida levou-o para outros desportos, mas o Sporting cruzou-se mesmo com o seu caminho. "Quando achava que já não conseguiria ser atleta do Sporting eis que aos 36 anos o Sporting surgiu a oferecer-me contrato. É a prova de que nunca devemos desistir, de que não existe um tempo certo para conseguir as coisas, que temos sempre de nos reinventar, ser resilientes e continuar sempre a crescer. Não foi no futebol, cheguei ao Sporting através do boxe e estou muito orgulhoso por isso."