No meio da euforia que rebentou instantes após Martim Costa marcar o decisivo 31-30, a cinco segundos do final do prolongamento, um menino caiu de joelhos no meio da área de Portugal num choro compulsivo. Mas aquelas lágrimas não eram apenas dele. Eram de toda uma legião de amantes de andebol que acabavam de confirmar o momento mais alto da modalidade que há pouco mais de cinco anos tantos apontavam como moribunda em Portugal. Era de todo um país!

E aquele menino nem parecia o mesmo que, minutos antes, num momento de pressão impossível de imaginar, assumiu a marcação de um livre de sete metros, quando Portugal perdia por um, menos de dois minutos do final do tempo regulamentar. O 26 nas costas era o mesmo. Mas diante de um gigante Andreas Wolff que parecia inultrapassável, aquele F. Costa, que o país conhece como Kiko, não tremeu e meteu a bola na ‘gaveta’.

E esse pode muito bem ter sido o empurrão que faltava para os Heróis do Mar voltarem a transcender-se para aumentarem a lenda. Porque se o puto de 19 anos não treme naquele momento, ninguém pode tremer. Muito menos o irmão mais velho, que até ali tinha tido um dia para esquecer.

É verdade que antes daquele livre de sete metros de Kiko Costa, houve muito jogo. Houve uma defesa de betão com um Victor Iturriza superlativo. Monstro a defender, imperturbável a atacar. E o que dizer de Salvador Salvador? Faltam palavras para o Mundial que está a fazer ele, outro menino, este de 23 anos, que também não conteve as lágrimas no final. Voltou a aparecer Diogo Rêma, com nove defesas, e ainda Gustavo Capdeville que entrou para ser decisivo nos últimos minutos e no prolongamento.

Antes de tudo, bem lá no início, houve uma entrada a fazer tremer o vice-campeão olímpico. Um Portugal que está a fazer o mundo do andebol abrir a boca de espanto e que aos 10 minutos vencia por 5-1, obrigando o selecionador alemão a pedir time-out. Que a meio da 1.ª parte, e apesar de estar a ter uma luta desigual com Wolff, a muralha que se erguia na baliza alemã, continuava na frente, por 7-3. E que ao intervalo, apesar das nove defesas do guardião germânico, liderava por 13-9, sem ter estado em desvantagem em momento algum.

AGORA SEM FRADE?

A exibição sem mácula continuou até aos cinco minutos da 2.ª parte. Apesar da reação alemã, que encurtara para dois de diferença. Mas o que virou o jogo do avesso foi o cartão vermelho mostrado a Luís Frade a meio do segundo tempo, numa decisão muito questionável da dupla de árbitros noruegueses. Porque isso mexeu emocionalmente com os jogadores e até o selecionador luso. Na sequência, a 15 minutos do final, os germânicos empataram o jogo, algo que não se vira desde o 0-0. E aos 47’, passou para a frente pela primeira vez. E apesar de Wolff continuar a somar defesas — terminou com 21 (!!) — o melhor que a Alemanha conseguiu foi chegar a dois golos de vantagem. E isso não foi suficiente para derrubar estes Heróis do Mar. Apareceu a coragem de Kiko Costa — acabou com oito golos — e depois foi o irmão Martim em auxílio.

«Às vezes, não sei onde é que esta malta vai buscar forças para lutar», diria Paulo Jorge Pereira após o encontro. Ora bem, após o empate no final dos 60 minutos (26-26), o mais velho dos irmãos Costa surgiu transfigurado. Ele que durante o tempo regulamentar estivera desastrado, com apenas um golo em sete remates, deu a volta ao seu momento pessoal e carregou com ele a esperança da continuidade do sonho de Portugal. Dos cinco golos lusos durante os 10 minutos do prolongamento, Martim marcou foi autor de três. O último dos quais, o tal que é histórico e foi apontado a cinco segundos do final.

Esse mesmo golo que deixou o irmão em lágrimas. Mas as lágrimas que tantas vezes foram de frustração em Portugal, agora são de orgulho. E que orgulho. Que orgulho!