
É um clássico inglês, mas, confiando nas indicações dadas pelo astrolábio da Google, o caminho mais rápido para se fazer a pé entre Old Trafford e o local onde se vai realizar a final da Liga Europa contempla 1.410 quilómetros. Correndo tudo dentro da normalidade e torcendo para que não existam atrapalhações no segmento que é necessário ser feito de ferry, de um lado ao outro do Canal da Mancha, seria necessário despender 284 horas para chegar ao destino.
Parece uma quimera. No entanto, também é numa camada onírica que está o possível final de época do Manchester United. Mesmo depois de uma época marcada por mínimos históricos, os red devils podem terminar a dormir em conchinha com um troféu europeu que lhes daria a qualificação para a Liga dos Campeões.
Quando se aventurou por Inglaterra, Ruben Amorim não tardou em alertar para as diferenças entre o nível de exigência no Sporting em comparação com o do Manchester United. É inegável que a ignição da mudança se assemelha e, como tal, os métodos. Assim sendo, o afamado "onde vai um vão todos", frase eternizada quando foi pela primeira vez campeão pelo Sporting,é lema que não demorou a ser exportado.
Não é tempo de vacas gordas no clube. Apesar dos investimentos megalómanos, continuam a ser feitos cortes no número de funcionários. Amorim responsabilizou a falta de rendimento da equipa pelos despedimentos, colocando o ónus do problema em si. “Há pessoas a perderem o seu trabalho, temos que perceber que o maior problema é a equipa de futebol. Nós gastamos dinheiro e não estamos a ganhar”, realçou, durante esta época.
O título que o Manchester United irá discutir em Bilbao, a 21 de maio, frente ao Tottenham, é um raro momento de frenesim e, talvez, um daqueles que pode alterar o curso das coisas. Ruben Amorim não prevê deixar ninguém de fora e vai pagar bilhetes à família de 30 elementos do staff dos red devils – adjuntos, fisioterapeutas, entre outros – para que também possam estar no San Mamés.
Revelou a ESPN que o Manchester United estava a exigir que os acompanhantes dos seus empregados pagassem do próprio bolso o bilhete para a final. Explica o artigo que o técnico interveio num gesto de “recompensa e reconhecimento pela contribuição e comprometimento” de quem atua nos bastidores. A mesma fonte adianta que os próprios jogadores só vão ter direito a dois bilhetes cada para distribuírem por família e amigos num esforço por parte do clube de que a maioria dos ingressos disponíveis seja adquirida por adeptos.
Equiparável em termos de simbolismo com os maiores clubes do mundo, na prática, o Manchester United não se coloca nesse lugar. O Paris Saint-Germain, finalista da Liga dos Campeões, vai pagar o bilhete e a viagem a todos os seus 600 funcionários. “A filosofia e o sucesso do nosso baseiam-se na soma dos nossos esforços coletivos”, descrevia a nota interna difundida nos meandros dos campeões franceses. “É por essa razão que o nosso staff vai ter a oportunidade de estar ao lado da nossa equipa na missão final em Munique.”
Nas interações com a imprensa que se seguiram ao apuramento para a final da Liga Europa, Ruben Amorim deixou o futuro em aberto. “Precisamos de ser muito fortes e corajosos no verão. Se estes sentimentos continuarem aqui, temos que dar espaço para outras pessoas.” Apesar das declarações, garante-se em Inglaterra o Manchester United não prevê deixar de contar com o português. Certo é que há decisões a tomar.