De levar às lágrimas. Alisson Becker escreveu uma carta emocionante, na qual recordou a morte trágica do pai durante a pandemia. O guarda-redes do Liverpool não conseguiu ir ao funeral de José Agostinho Becker, que tinha 57 anos quando foi encontrado morto numa barragem.

"Quando recebi o telefonema com a notícia de que o meu pai tinha morrido estava a um oceano de distância. Estava em Liverpool, a meio da época 2020/21. A morte dele foi repentina. Um choque total. A minha mãe ligou-me a dizer que houve um acidente e que o meu pai se tinha afogado na barragem perto da nossa casa. Caiu-me o chão. Não parecia possível que alguém como o meu pai pudesse realmente ter morrido. Era um homem de verdade, como diziam. Um homem muito forte", escreveu no 'The Players' Tribune'.

A mulher do internacional brasileiro estava grávida do terceiro filho do casal quando tudo aconteceu. Natália, que gostava muito do sogro, foi aconselhada a ficar em Inglaterra devido à covid-19: "Quando ele faleceu, fiquei destruído. Não conseguia pensar no futebol. Tinha de me lembrar que jogava futebol e que estávamos a lutar pelos quatro primeiros lugares na Premier League. Era ainda mais complicado porque estávamos a meio de uma pandemia e a logística de voltar para casa era um pesadelo. A minha esposa estava grávida do nosso terceiro filho e a covid-19 estava a explodir novamente no Brasil. O médico dela disse que era arriscado viajar e que teria de ficar em Liverpool com os nossos filhos. Isso foi uma angústia total para ela porque amava muito o meu pai. Brincávamos ao dizer que ele a amava mais (...). Ela era a filha que ele nunca teve. Teria de voar para o Brasil sozinho".

Alisson Becker agradeceu o apoio fundamental dos companheiros de equipa e de Klopp, relevando que também recebeu cartas de condolêcia de Guardiola e Carlo Ancelotti. O guarda-redes acabou por decidir não ir ao funeral do pai porque teria de ficar em quarentena durante duas semanas, deixando a mulher sozinha: "Klopp permitiu-me ter tempo para cuidar das minhas dores e poucos treinadores seriam tão compreensivos (...). Ray Haughan, que era o diretor do clube na altura, mandou-me mensagem a dizer que se tinham reunido e concordado em arranjar um voo particular para eu ir ao funeral para que eu não me tivesse de preocupar com nada. Mas era uma situação impossível porque, quando voltasse, teria de ficar em quarentena num hotel durante 15 dias. A ideia de voltar do funeral do meu pai e ficar preso num quarto sozinho era difícil, mas a pior parte era imaginar a minha esposa ficar sozinha durante tanto tempo. Estava nos últimos meses de gravidez, tudo poderia acontecer".

"Tivemos de assistir ao funeral por videochamada. O meu irmão segurou o telemóvel durante toda a cerimónia e eu pude rezar e chorar com a minha mãe e até me despedir do meu pai no seu caixão. Naquele momento, por mais estranho que pareça, esqueces-te de que está num ecrã. Todas as memórias e o amor superam a distância e estás a falar com o teu pai na eternidade".