Além da qualificação para os Jogos de Paris-2024 de Miguel Nascimento e Diogo Ribeiro, entre outras coisas, os mais de três anos de passagem do ex-treinador nacional de natação Alberto Silva por Portugal ficarão principalmente ligados às conquistas de Diogo a nível internacional e ao trabalho, ao nível da velocidade, uma série de pormenores de podem fazer a diferença.
Com Albertinho, Diogo começou por, ainda júnior, ser bronze no Europeu absoluto de Roma-2022 aos 50 mariposa. Ganhou triplo ouro (50 livres, 100 mariposa) no Mundial júnior de Lima-2022, com um recorde do mundo aos 50 mariposa, arrebatou a prata no Mundial de Fukuoka-2023 aos 50 mariposa e tocou o céu ao ser campeão mundial em Doha-2024 aos 50 e 100 mariposa.
Por isso, além das questões publicadas na edição de ontem por A BOLA sobre as razões porque não houve renovação de contrato e qual a próxima etapa do técnico no Brasil, havia pelo menos outra pergunta a fazer.
É muito positivo, confiante e tem ambição, mas penso que ele é muito melhor do que o que ele próprio acha que é. Agora, as coisas não vêm por causa de eu achar que ele tem um talento muito grande.
É difícil não diferenciar, em termos dos resultados alcançados, e até da amizade que têm mutuamente, o Diogo Ribeiro dos restantes nadadores que trabalharam consigo no CAR Jamor. O Diogo Ribeiro pode ser um fora de série?
«Com toda a certeza, o Diogo Ribeiro é bastante melhor do que ele pensa. É muito positivo, confiante e tem ambição, mas penso que ele é muito melhor do que o que ele próprio acha que é. Agora, as coisas não vêm por causa de eu achar que ele tem um talento muito grande», começa por responder.
Acredito que ainda tem coisas para amadurecer. Inclusive o resultado e o caminho entre o Mundial de Doha e os Jogos Olímpicos irá ensinar-lhe muita coisa
«Desde o início, e mesmo antes de vir para Portugal, diziam que era um miúdo que tem talento e eu, realmente, pude ver que sim. Mas, após dois campeonatos do mundo em piscina de 50 metros, ver o comportamento dele, o que aconteceu no Europeu em piscina longa, acredito que ainda tem coisas para amadurecer. Inclusive o resultado e o caminho entre o Mundial de Doha e os Jogos Olímpicos irá ensinar-lhe muita coisa», espera.
Entre os atletas que já tive oportunidade de treinar — alguns chegaram também a ser medalhados em campeonatos do mundo —, o Diogo é um dos com maior talento. Colocá-lo-ia no mesmo patamar de um César Cielo ou do Thiago Pereira, que foram pódios olímpicos.
«Vai ter que filtrar as coisas junto com as pessoas que vão estar ao lado dele, mas, para mim, entre os atletas que já tive oportunidade de treinar — alguns chegaram também a ser medalhados em campeonatos do mundo —, o Diogo é um dos com maior talento. Colocá-lo-ia no mesmo patamar de um César Cielo ou do Thiago Pereira, que foram pódios olímpicos. Ele é, realmente, um rapaz bastante talentoso», reforça.
Precisa estar comprometido, feliz e motivado. Mas também precisa fazer, algumas vezes, o que não gosta
«Não só pela qualidade técnica, mas pela capacidade de adaptação, de em momentos difíceis conseguir tirar o seu valor. No entanto, apenas o talento não o levará a esse lugar. Precisa estar comprometido, feliz e motivado. Mas também precisa fazer, algumas vezes, o que não gosta», afirma com uma gargalhada.
«Mas posso dizer que hoje em dia o Diogo já não é uma experiência achar-se que é um miúdo bom. Não! É muito mais do que isso, já tem resultados que o provam, mas ainda tem um longo caminho para fazer. Ainda é jovem [20 anos] e continua em formação. Terá de fazer boas escolhas e conviver bem com elas. Acredito e torço muito por ele», garante.
«A cidade de Lisboa cativou-me»
E nesta hora, digamos, de um até já, o que leva deste período em Portugal e dos resultados conseguidos. «Bem, dos resultados, foi além da minha expectativa. Se falar com o António Silva [anterior presidente da federação] ou com muita gente envolvida na natação em Portugal, conseguimos alguns resultados bastante relevantes e que me encheram de orgulho. É um ponto importante quando mostramos até para nós e para a comunidade que podemos ter os atletas em finais, a disputar medalhas, bater recordes. Isso é algo que levarei comigo, mas não é o mais importante», ressalva.
Chega-se a um momento em que a natação acaba, tanto para mim como para eles, mas fiz bons amigos entre aqueles com quem trabalhei e outros que cá conheci. Seja ligados à natação, ao desporto, mas sobretudo levo um carinho muito grande pelo povo.
«Existe também a amizade. Gostei muito de trabalhar com os nadadores, mesmo com aqueles que agora não estavam comigo. Apreciei o comprometimento deles e do caráter como pessoas. Chega-se a um momento em que a natação acaba, tanto para mim como para eles, mas fiz bons amigos entre aqueles com quem trabalhei e outros que cá conheci. Seja ligados à natação, ao desporto, mas sobretudo levo um carinho muito grande pelo povo. As pessoas que conheci foram sinceras, verdadeiras e vibravam connosco e com o trabalho», vai referindo.
Seja para continuar a trabalhar na natação ou apenas para reformar-me e tiver oportunidade e condições de morar, será aqui em Lisboa ou um pouquinho mais pra baixo, no Algarve
«Já o disse noutras ocasiões e não é pra querer agradar ninguém, mas quando contava as minhas viagens pelo mundo, tinha certos lugares que eram os meus preferidos para viver. Tirando o Brasil, como é óbvio, referia sempre Barcelona e a Califórnia. Mas agora posso dizer-lhe que, se em algum momento, quando terminar este meu novo compromisso no Brasil com o clube Swim Floripa [em Florianópolis], seja para continuar a trabalhar na natação ou apenas para reformar-me e tiver oportunidade e condições de morar, será aqui em Lisboa ou um pouquinho mais pra baixo, no Algarve», revela.
Digo-lhe mais, hoje em dia a minha cidade número 1 no mundo é Lisboa. Realmente cativou-me. E é engraçado, no meu dia a dia, tinha mais convivência com a família que tenho cá, quatro primos e duas tias, do que via a minha irmã, irmão e mãe no Brasil.
«Digo-lhe mais, hoje em dia a minha cidade número 1 no mundo é Lisboa. Realmente cativou-me. E é engraçado, no meu dia a dia, tinha mais convivência com a família que tenho cá, quatro primos e duas tias, do que via a minha irmã, irmão e mãe no Brasil. Todas as semanas estava em casa deles. Era algo que não tinha há muito tempo e não esperava encontrar aqui. Concluindo, estou a levar muitas coisas boas de cá para lá», concluiu.