A história dos clubes é escrita por todos quantos por eles passam e recordar a história é a melhor forma de tributar os nomes grandes da vida desses mesmos emblemas. E foi (também) por isso que o Leixões promoveu, na manhã desta quinta-feira, uma iniciativa recheada de enorme simbolismo e que se centrou num dos jogadores mais icónicos das últimas décadas da formação nortenha: Abílio Novais.
O antigo médio foi convidado a deslocar-se ao mítico Estádio do Mar, sendo que, na ocasião, teve a oportunidade de privar durante alguns minutos com os jogadores que compõem o plantel orientado por Carlos Fangueiro (também ele uma lenda viva do Leixões), bem como com os elementos do staff matosinhense.
Como pano de fundo deste tributo esteve o jogo de sábado (18.30 horas), diante do SC Braga, referente à 4.ª eliminatória da Taça de Portugal. E tudo porque, há 22 anos, Abílio Novais foi um dos heróis do triunfo dos nortenhos frente aos minhotos (3-1), que valeu ao Leixões o apuramento para a final da prova rainha do futebol nacional.
A 21 de fevereiro de 2022, no antigo (e não menos mítico) Estádio 1.º de Maio, em Braga, o conjunto de Matosinhos - então orientado por... Carlos Carvalhal - eliminou a formação do Minho - à época treinada por Manuel Cajuda -, sendo que um dos golos foi da autoria de... Abílio Novais.
Agora, mais de duas décadas depois, o antigo médio recorda esse jogo e eleva o feito histórico alcançado pelo Leixões que, na altura, competia na (já extinta) II Divisão B. Foi, portanto, David contra Golias e os bebés do Mar vestiram a pele de tomba-gigantes.
«Merecemos esse rótulo de tomba-gigantes, sem dúvida nenhuma. Foi um jogo incrível, diante de um colosso como era, e é, o SC Braga, e o facto de o Leixões estar, nessa altura, na antiga II Divisão B tornou o feito ainda mais extraordinário. Recordo-me perfeitamente desse jogo, tal como de todo o trajeto que fizemos nessa época na Taça de Portugal, em que eliminámos várias equipas que estavam em divisões superiores à nossa. Foi uma caminhada excecional e só foi pena termos perdido na final, contra o Sporting (0-1)», assume Abílio Novais, em declarações exclusivas a A BOLA.
Ora, perante o exposto referente a tão importante página de história escrita na época 2001/2002, Abílio não poderia ter ficado mais sensibilizado com o tributo de que foi alvo esta manhã e que o levou a pisar de novo o relvado do Estádio do Mar - palco do jogo de sábado com os arsenalistas: «Foi muito especial, sem dúvida nenhuma. Permitiu-me ver alguns amigos e, acima de tudo, relembrar bons momentos que aqui passei. O Leixões fez-me atleta e o Estádio do Mar é uma casa que me diz muito. Fiquei muito satisfeito com este convite e só tenho de agradecer aos responsáveis do Leixões o facto de terem tornado possível esta iniciativa.»
E a pouco mais de 48 horas do (novo) duelo entre Leixões e SC Braga, da 4.º eliminatória da Taça de Portugal, A BOLA desafiou o antigo craque a projetar o embate entre dois históricos do futebol nacional. A resposta era a esperada, mesmo que do outro lado esteja alguém que tanto diz a Abílio.
«Em primeiro lugar, acho que estão reunidas todas as condições para ser um excelente espetáculo de futebol. O Leixões e o SC Braga são dois grandes clubes, são duas equipas com excelentes jogadores e treinadores e, como tal, penso que será um jogo de enorme qualidade. Naturalmente que, no plano teórico, o SC Braga é favorito, mas tenho a certeza de que não será um jogo nada fácil para eles. O mister Carvalhal sabe o que é estar do outro lado e está escaldado com o que fez em 2001/2022 [risos]. Tenho a certeza que o SC Braga virá a Matosinhos na máxima força e que vai dar tudo para vencer e seguir em frente na Taça de Portugal. O SC Braga é favorito, mas o Leixões terá uma palavra a dizer», antevê.
Natural de Vila Nova de Gaia, Abílio Novais, hoje com 57 anos de idade, formou-se no Candal e no FC Porto, sendo que já enquanto sénior representou UD Oliveirense, Leixões, FC Porto, Salgueiros, Belenenses, Campomaiorense e Aves. Foi um médio de fino recorte técnico e que ficou também conhecido pelos muitos golos que marcou, especialmente de bola parada, um dos seus principais atributos. Em termos de títulos, viveu o auge da carreira ao serviço dos dragões, vencendo uma Liga (1989/1990), uma Supertaça (1990) e uma Taça de Portugal (1990/1991).
Durante os muitos anos em que espalhou magia nos relvados nacionais foi orientado, naturalmente, por vários treinadores, sendo que Carlos Carvalhal, precisamente o técnico que levou o Leixões a essa final da Taça de Portugal em 2001/2002, foi um dos que ficou marcado eternamente na sua memória.
«Um excelente treinador, sem dúvida. Já na altura em que fui treinado por ele dava para ver que era muito evoluído para a época. E nessa altura, recordo-me perfeitamente de nos ter dito que nem daí a 100 anos iríamos ver uma equipa da II Divisão B [hoje comparada à Liga 3, por ser o terceiro escalão do futebol nacional, tal como era, naquela época, a II Divisão B] na final da Taça de Portugal. E, pelo menos até agora, a profecia está a bater certo... O Carvalhal é gente muito boa, gosto muito dele. Desejo-lhe todo o sucesso, menos no sábado [risos]. O Leixões é especial [risos]», concluiu, visivelmente bem-disposto.