Débora Souza Costa, jogadora de 22 anos do Atlético Mineiro, concedeu recentemente uma emocionante entrevista à ESPN Brasil onde contou a sua história de vida e recordou alguns dos traumas que a atormentam desde os oito anos de idade. Abandonada pelo pai biológico praticamente desde a nascença, Debinha - como é conhecida no mundo do futebol - acabou por ser acolhida pela família que já tinha acolhido a sua mãe de sangue. Criada pela "mãe de criação" e pelo padrasto, que trabalhava como segurança numa escola pública em Tocantins, Dabinha revelou ter memórias horríveis que perduram até ao dia de hoje.

"Ele devia ser o meu protetor, certo? Era o marido da minha mãe. Foi conturbado, sofri. Fui violada, para ser bem clara. Tinha oito anos e durou até aos 12, foi muito tempo. Na época, não contei a ninguém porque, quando és criança, não entendes muito bem tudo aquilo, não entendia aquele ato. E também tinha medo de não ter para onde ir", começou por revelar na entrevista à ESPN.

Apesar de tudo o que sofreu e pelo que teve de passar, Debinha encontrou no futebol o seu refúgio e o seu porto seguro. Com 14 anos, partiu para Goiânia em busca do sonho. "Saí de casa pela primeira vez para ir a um projeto em Goiânia, e conheci duas mulheres que ficaram muito comovidas com a minha história e me ajudaram, fizeram com que eu fosse morar com elas. Quando fui para a cidade grande, saindo do interior, comecei a repensar no que havia acontecido na minha infância e entendi que não era minha a culpa", contou.

Contudo, foi durante uma visita repentina à família que tomou a decisão de contar ao mundo todos os abusos de que tinha sido vítima por parte do padrasto, em busca de alguma tipo de justiça. "Um dia voltei à minha cidade natal [São Sebastião do Tocantins] para visitar essa família que me criou e a minha mãe de sangue estava lá de passagem. Contei-lhe tudo o que tinha acontecido comigo e ela disse-me que tinha passado pelo mesmo, nas mãos da mesma pessoa, porque ele primeiro criou a minha mãe e depois criou-me a mim. Eu não sabia como pedir ajuda, não tinha orientação, nem nada. Publiquei um vídeo no Instagram porque já estava no meu limite. Tudo aquilo deu-me uma revolta muito grande. Quando regressei a Goiânia estava desgastada e arrasada, não sabia o que fazer, então publiquei o vídeo", explicou.

Após publicar o vídeo nas redes sociais, Debinha recebeu muitas mensagens de apoio, mas também algumas negativas. "Esse vídeo explodiu, tanto para o bom, como para o mau. Recebi muitas mensagens horríveis de pessoas a dizerem que conheciam o meu padrasto, que eu estava a estragar a família dele, que ele nem tinha a obrigação de me criar...", elucidou. A verdade é que o vídeo acabou por dar início à abertura de um caso de polícia, com o pai biológico de Debinha a entrar em ação: "O meu pai biológico nunca fez nada por mim. Abandonou a minha mãe, a mim e ao meu irmão e nunca cuidou de nós. Mas ele foi corajoso em levar essa história para a frente. Eu não tinha com quem contar. Nessas horas, a vítima torna-se culpada. E ele foi fundamental para que a justiça fosse feita", atirou.

Hoje, Debinha sente que alertar para este tipo de problemas é uma das suas missões. "Só consegui expor a minha história porque acredito que, daqui para a frente, terei uma missão. Uma missão de alertar os pais, as crianças e os jovens para que fiquem atentos a qualquer tipo de atitude suspeita. Para que não deixem tocar nas partes íntimas. Para que entendam que o abuso sexual é recorrente nas nossas casas, nas nossas próprias famílias. Resolvi contar tudo isso porque quero continuar a lutar para que os abusos sexuais, principalmente para com pessoas vulneráveis, como crianças e adolescentes, nunca mais voltem a acontecer no nosso país, que é muito machista."

Apesar de tudo, Debinha assume estar a atravessar um bom momento agora, ao serviço do At. Mineiro. "Olho para trás e vejo até onde eu já cheguei. Hoje estou aqui no Atlético e sinto-me muito feliz e realizada. Tenho a oportunidade que pedi a Deus, tenho tudo o que sempre quis e procurei. Sinto-me muito feliz pelo presente", terminou.