A 21 de abril de 1996, o Farense escreveu uma das páginas mais memoráveis da sua história. Num estádio da Luz com bancadas quase vazias, diante de uma equipa do Benfica que lutava pelos lugares de topo, o conjunto algarvio surpreendeu e conseguiu a sua primeira e única vitória no terreno dos encarnados, por 0-1.

Curiosamente, o marcador do único golo já sabia que na época seguinte iria mesmo trocar a equipa algarvia pelas próprias águias, uma vez que, três meses antes desta partida, já havia assinado um contrato de longa duração com o clube de Lisboa.

Jorge Soares
Total
389
Jogos
32286
Minutos
17
Golos
1
Assistências
76 3 3 2x

Jorge Soares, o autor desse tento que selou o triunfo histórico dos leões de Faro, esteve à conversa com o zerozero, onde confessou que aquele remate ao cair do pano «não se esquece». Depois de aguentarem a pressão e a avalanche dos encarnados, chegou o minuto 90, onde Hajry bateu o canto que foi desviado ao primeiro poste pelo ex-defesa central, tornando-se num momento memorável não só para o herói, mas também para os jogadores e adeptos do clube.

«É impossível esquecer. Ainda para mais tendo sido eu a marcar o golo, obviamente que não irei esquecer esse jogo. É uma boa memória que temos, a única vitória do clube no estádio da Luz, e portanto e mais importante que isso, foram mesmo os três pontos conseguidos», recordou Jorge Soares, que recusou os louros todos.

«O herói foi toda a equipa, não me considero isso. No fundo, foi em equipa que conseguimos vencer e conquistar os três pontos», declarou ao nosso portal.

«O segredo passou, essencialmente, por muito trabalho e acreditar que seria possível ganhar. No final, sentimos que o objetivo tinha sido cumprido. O nosso objetivo em todos os jogos é ganhar e conseguir os três pontos foi o mais importante para o clube», acrescentou.

Esta vitória marcou também o fim de uma série invicta notável do Benfica, onde não perdeu por 11 partidas consecutivas. Nesse período, que por sinal começou com uma vitória em casa contra o mesmo Farense (3-0 para a Taça de Portugal), empatou ainda com o Sporting (0-0) e venceu o FC Porto (2-1) e o SC Braga (3-0), tudo no estádio da Luz.

Tendência e atualidade negativa

Em toda a sua história, o Farense visitou a Luz por 27 ocasiões, onde somou apenas uma vitória, três empates e 23 derrotas, em todas as competições. Este registo fica ainda mais pesado quando olhamos para a diferença de golos: 18 golos marcados pelos algarvios contra 80 tentos sofridos.

Esta histórica vitória interrompeu uma série impressionante de 17 jogos sem ganhar no terreno dos encarnados. Atualmente, as águias estão invictas nos últimos sete encontros em casa contra a equipa algarvia, sendo que o resultado mais recente é o empate da época passada (1-1).

«Obviamente que existe uma grande diferença entre as equipas, fora que o Benfica naturalmente em casa, não costuma perder assim tantos jogos contra equipas de diferentes campeonatos. Para tentar inverter esta tendência é entrar em campo e acreditar que conseguem ganhar. É preciso também trabalhar para isso e depois é lutar até ao fim, não há outra opção», admitiu.

Plantel do Farense nos anos 90 @Reprodução Facebook

Em antevisão à partida desta quarta-feira, o antigo jogador, que representou os dois emblemas, atribuiu favoritismo à equipa da casa: «Obviamente que o Benfica parte sempre em vantagem, principalmente a jogar em casa, e também possui um outro tipo de argumentos que o Farense não tem. De qualquer das formas, o Farense tem de lutar até ao fim para conseguir alcançar os objetivos que tem para o encontro.»

A tarefa que os algarvios têm pela frente já não é por si só fácil, mas torna-se numa montanha ainda maior de escalar, com a atual forma e momento do clube. Esta temporada, os algarvios têm 16 derrotas em 29 jogos, estando assim numa luta pela manutenção.

«Para a equipa não descer de divisão vai ter que lutar até ao fim, não há outra coisa a fazer. É lutar porque matematicamente é possível. Ainda faltam alguns jogos e o clube tem condições para se manter na primeira liga, o que também não é fácil. Os orçamentos das equipas mais pequenas são menores e não permitem ter jogadores com mais qualidade, a comparar com os de cima da tabela. Depois, é claro que isso acaba por fazer a diferença», apontou.

1995/96 ficou na história por outra razão

Para além desta vitória digna de registo, a época de 1995/96 ficou na história da equipa algarvia por outro motivo. Nesta temporada, os leões de Faro disputaram uma pré-eliminatória da Taça UEFA frente ao Lyon, onde acabaram por perder nas duas mãos (0-1; 1-0).

Lyon - Farense para a Liga Europa @Getty Images

«É sempre importante para o clube, foi um marco histórico e uma conquista da época anterior. Em termos classificativos, o clube conseguiu alcançar a qualificação para a Europa e é claro que a experiência foi boa. Obviamente não correu como queríamos, pretendíamos continuar mas com o nível competitivo da Liga Europa e a equipa que nos calhou na altura, pronto... Ainda assim, acho que representámos bem Portugal nessa eliminatória e o Farense ficou na história», afirmou Jorge Soares, antes de admitir que os objetivos do clube nunca mudaram.

«Não tínhamos o objetivo de voltar à Europa. Os objetivos do Farense são sempre a manutenção, mas obviamente que jogo a jogo vai-se vendo até onde é que se pode chegar, mas a prioridade é sempre manter a equipa no primeiro escalão», concluiu.

Depois do quinto lugar em 1994/95, que deu essa qualificação europeia de registo, o Farense terminou o campeonato na décima colocação em 1995/96. Depois de muitos sobe e desce, a equipa de Faro está agora na segunda época consecutiva no primeiro escalão do futebol português, onde ocupa a 17º posição com apenas 17 pontos.

*com Bernardo Castro