Ser do Benfica é mais do que vibrar com cada golo ou celebrar cada conquista. É fazer parte de uma gloriosa história construída por gerações de sócios que sempre colocaram o clube acima de qualquer individualidade. O Sport Lisboa e Benfica é, por natureza, um clube de associativismo. A sua força não reside apenas nas lideranças momentâneas, mas na capacidade dos seus sócios e adeptos para contribuírem para o crescimento do clube.

Vivemos tempos de mudança. Recentemente houve eleições na Federação Portuguesa de Futebol, aproximam-se eleições na Liga e, naturalmente, teremos também um ato eleitoral no Benfica. Contudo, mais importante do que qualquer ciclo eleitoral são as ideias que perduram, aquelas capazes de servir o Benfica em qualquer contexto. As boas ideias não têm dono e não devem surgir apenas nas vésperas de eleições: são património de todos os Benfiquistas e devem servir o clube, independentemente de quem o lidera.

Foi com esse espírito que decidi escrever A Nossa Camisola: um livro que não é apenas uma reflexão sobre o presente do clube, mas uma estrutura clara de ideias para o futuro. Porque pensar o Benfica exige mais do que reagir à espuma dos dias: exige um plano estratégico, respeitando a nossa história e preparando o clube para os obstáculos que se avizinham. Esse é o verdadeiro desafio: olhar o futuro com ambição e responsabilidade, dentro e fora do campo.

As ideias que defendo não são contra nem a favor de uma direção. São para ajudar o Benfica a vencer mais e a crescer melhor. Nos últimos tempos, têm surgido diagnósticos sobre os desafios do clube e, em particular, sobre a sua liderança. Na verdade, o problema não está apenas na liderança, mas sim nas ideias e na capacidade da sua execução. Num clube com a dimensão e a mística do Benfica, liderar não é um fim em si mesmo. É um meio para implementar um projeto claro e sólido.

A maioria dos adeptos concentra a sua atenção em três pilares fundamentais: o futebol, a formação e a sustentabilidade financeira. Estes temas não podem ser tratados isoladamente, nem abordados com uma visão de curto prazo. Um Benfica hegemónico necessita de uma Liga mais forte e atrativa, capaz de valorizar todos os clubes e proporcionar uma competição mais transparente. Um Seixal de excelência precisa de políticas fiscais mais justas para segurar os nossos talentos e evitar que sejam vendidos demasiado cedo. E a estabilidade financeira depende, também, da capacidade de gerar novas fontes de receitas e de assegurar que o Benfica não depende da venda de jogadores para financiar a sua operação.

Tudo isto são ideias que podem transformar o futuro do Benfica, mas exigem um clube atento, proativo e inovador. Ideias como estas, que defendo no livro, são, acima de tudo, um ponto de partida. Um convite para que todos os Benfiquistas reflitam sobre o futuro do clube e contribuam com as suas próprias perspetivas. Porque o Benfica cresce quando há espaço para debater, questionar e inovar — sempre com o mesmo objetivo: tornar o clube mais forte e preparado para vencer. Só depende dos Benfiquistas construir o Benfica que ambicionamos. Como dizia Borges Coutinho, "o Benfica não pode ter medo do Benfica".

Mauro Xavier, sócio n. 25768 do Sport Lisboa e Benfica