Um dos cinco fugitivos do estabelecimento prisional de Vale de Judeus poderia estar a usar um auricular para comunicar com os cúmplices no exterior. As imagens captadas pelas câmaras de videovigilância parecem indiciar que Fernando Ribeiro, de 61 anos, estaria a usar um auricular no momento da fuga.

Ao que a SIC apurou, o relatório preliminar de 41 páginas, apresentado à ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, detalha todos os momentos da fuga ocorrida no passado sábado.

As primeiras movimentações suspeitas ocorreram às 9:22, quando um dos reclusos montou um estendal no pátio para ocultar as ações de fuga. Outros reclusos terão ajudado a ocultar as movimentações colocando caixotes do lixo próximos dos muros.

A observação de sete câmaras do sistema de videovigilância foi decisiva para fazer o filme dos acontecimentos.

O relatório conclui ainda que foi descurada a vigilância dos pátios e da zona exterior e que os guardas e as chefias prisionais estavam convencidos de que os muros eram intransponíveis e negligenciaram a necessidade de vigilância nos pátios.

O documento não aponta qualquer suspeita relacionada com o envolvimento de guardas prisionais na evasão.

Por fim, são apontadas sete propostas de melhoramento da segurança no estabelecimento prisional, entre as quais a construção de quatro torres de vigilância, a proibição de estendais nos pátios, rondas no exterior da cadeia e o reforço dos rolos de arame farpado.

Demissões, auditorias e processos disciplinares: ministra toma medidas após "desleixo e irresponsabilidade"

A ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, afirma que houve “desleixo, facilidade, irresponsabilidade e falta de comando” e que foi isso que levou à fuga de cinco reclusos do estabelecimento prisional de Vale de Judeus. A ministra anuncia, por isso, que aceitou a demissão do diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais e que este será substituído por Isabel Leitão, até aqui subdiretora-geral. Foram também ordenadas uma “auditoria urgente aos sistemas de segurança" de todas as prisões do país” e uma “auditoria de gestão” ao sistema prisional.

Esta foi a primeira vez que a governante se pronunciou sobre a fuga dos cinco reclusos, ocorrida no passado sábado. “Só agora entendo ser o momento de falar”, declarou a ministra, justificando que “falar por falar" não é o seu “timbre” e que quis “dar espaço à investigação”.

ANTÓNIO COTRIM

Para a ministra, a fuga em causa “é de uma gravidade" que não se pode “desculpar”, em nome da ”segurança da população, da confiança no funcionamento das prisões, do Estado de Direito e da reputação do país".

A governante retira, desta fuga, três conclusões essenciais. A primeira é que houve “uma cadeia sucessiva de erros e falhas graves, grosseiras, inaceitáveis”, que não quer que se voltem a repetir.

A segunda conclusão é que a fuga “foi orquestrada”. "Não resultou do aproveitamento de uma distração”, explica. "Foi um plano preparado com tempo, com método e com ajuda de terceiros.

Finalmente, a ministra conclui que a recuperação da confiança no sistema prisional vai exigir "a responsabilização a vários níveis e o reforço da fiscalização ao sistema prisional”.