Um jovem russo a cumprir uma pena por ter alegadamente queimado o Corão foi condenado a 13 anos e meio de prisão por traição a favor da Ucrânia, anunciou um tribunal regional russo, esta segunda-feira.

Nikita Juravel tinha sido condenado a três anos de prisão em fevereiro na Chechénia, para onde foi transferido depois de ter aparecido num vídeo a queimar o livro sagrado dos muçulmanos junto a uma mesquita em Volgogrado.

O jovem foi detido pela primeira vez em maio de 2023 em Volgogrado, no sudoeste da Rússia, segundo a agência francesa AFP.

Então com 19 anos, Juravel foi transferido para a Chechénia a pedido das autoridades da república do Cáucaso de maioria muçulmana governada com "mão de ferro" por Ramzan Kadyrov.

As autoridades de Grozni alegaram que os muçulmanos locais eram as vítimas do alegado crime, pelo que deveria ser julgado e cumprir pena na Chechénia se fosse condenado, o que acabou por acontecer.

Depois de ter sido enviado para a Chechénia, foram difundidas imagens que mostravam o filho de Kadyrov, Adam, na altura com 15 anos e entusiasta de artes marciais, a espancar Juravel quando o jovem estava sob custódia.

Kadyrov disse na altura estar orgulhoso do filho, que foi posteriormente designado "herói da República Chechena" e recebeu condecorações oficiais de várias regiões russas.

As autoridades russas abriram então uma investigação separada por "alta traição", acusando Juravel de ter trabalhado para os serviços de segurança ucranianos ao enviar um vídeo de um comboio com equipamento militar russo em março de 2023.

O jovem foi considerado culpado pelo tribunal regional de Volgogrado (antiga Estalinegrado) A pena foi fixada em 13 anos e meio de prisão, de acordo com um vídeo da leitura da sentença divulgado, esta segunda-feira, pelos meios de comunicação social locais.

ONG diz que não há provas contra Nikita Juravel

A organização não-governamental (ONG) russa de defesa dos direitos humanos Memorial considera Juravel um preso político. A ONG condenou a destruição do Corão, mas considerou que não há provas de que Nikita Juravel tenha sido o responsável.

Desde o início da ofensiva russa contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022, multiplicaram-se na Rússia casos de espionagem, traição, terrorismo ou sabotagem contra opositores, com penas muito pesadas pronunciadas pelos tribunais.

Ramzan Kadyrov, que governa a Chechénia há quase 20 anos, é um fiel apoiante do Presidente russo, Vladimir Putin. Kadyrov é acusado de numerosas violações dos direitos humanos na Chechénia.