Tiago Pereira é um dos mais importantes e interessantes agentes de divulgação da música tradicional portuguesa, mas não só. Este realizador e documentarista anda há 14 anos na estrada a gravar pessoas, muitas delas com mais passado do que futuro, para criar uma “alfabetização da memória” e não deixar cair no esquecimento os seus saberes, histórias e ofícios.

O seu projeto “A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria”, começou em 2011 com amigos, mas passou a ser um projeto pessoal e uma missão de vida ou “um farol para não perder o norte” que persiste na importante e valiosa missão de devolver auto-estima à música que tem raízes nossas e de dar visibilidade e palco aos mais velhos que ainda cantam e tocam, e têm muito para nos contar e ensinar.


José Fonseca Fernandes

Deem-lhe uma velhinha que cante que Tiago Pereira dá-nos o mundo e a riqueza do país que tantas pessoas desconhecem.

E neste mundo tão idadista, que descarta, desvaloriza e maltrata os mais velhos, em prol da novidade e do que é massificado à escala global, o projeto “A Música Portuguesa a Gostar dela Própria” é um diamante raro e único.


José Fonseca Fernandes

Tiago Pereira conta neste episódio como tudo começou e a origem ter ligações à sua infância e ao facto de ter sido criado pelos avós paternos, de ter crescido sem mãe, e ter um pai músico, que andava na estrada em concertos, Júlio Pereira.

Este realizador diz de si que é “um átomo dinamizador de velhinhas” e explica neste podcast como, pouco a pouco, o foco d´“A Música Portuguesa a Gostar dela Própria” começou a ser muito além da música, e mais sobre as histórias das pessoas, dos mais velhos, numa vontade de humanizar a música e a geografia do país.


José Fonseca Fernandes

Tiago Pereira relata também o que levou há dois anos a mudar-se com a companheira, Cristina Enes, para a pequena vila de Serpins, no concelho da Lousã, distrito de Coimbra, onde abriu as portas da sede da associação “A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria”.

Um lugar que merece uma visita, mas com espólio que pode ser conhecido no portal amusicaportuguesaagostardelapropria.org que contém com um mapa interativo de 8100 vídeos, a abranger todo o país. E não só.

E adianta que pretende usar a IA para potenciar o motor de busca da sua base de dados, para se poder traçar uma rede neural de cantigas tradicionais, fazer-se ligações rápidas entre elas e criar pensamento a partir disso.



José Fonseca Fernandes

A IA pode ser uma boa aliada para material tão humanizado, delicado e artesanal? Que riscos e vantagens vê Tiago Pereira nestas tecnologias de ponta com inteligência sintética?

Tiago responde a tudo isto e esclarece a razão de ter chamado “Cura”, à sede da sua associação. Um nome que tem um significado valioso para si, relacionado com a acção do tempo.

O currículo de Tiago é extenso como a vida das suas velhinhas. É autor da série sobre música tradicional para a RTP2, chamado “O Povo que ainda canta”, editou um disco de gravações chamado “Deem me duas velhinhas eu dou vos o universo” e realizou um filme chamado: “Porque não sou o Giacometti do século 21”.

Mais tarde fez parte de bandas como vídeo músico, dos “Chuchurumel” e “Omiri” e criou os “Sampladélicos” com o músico Sílvio Rosado.

Mais recentemente criou o coro da Cura, com o qual afirma ter uma relação amor ódio. E neste episódio explica a razão.


José Fonseca Fernandes

Atualmente Tiago Pereira faz rádio, é programador cultural, tem um palco no Festival Bons Sons, é diretor artístico e mantém um projecto de longo prazo em Penamacor, onde é artista residente do Plano Nacional das Artes.

Tiago que tantas vezes filma o fim da vida, afirma que não tem medo da morte, apenas tem “medo de viver mal.”


Partilha ainda que passa metade do tempo a viajar, a filmar e a comer em restaurantes e a outra metade a colocar vídeos na net e a cozinhar. E que faz mais de 30 mil quilómetros por ano, mas não tem carta de condução. Que gosta de ler e ouvir podcasts no comboio, aprecia a vida calma e adora comer, aliás acha que o melhor desta vida, é o que se come, o que se bebe e o que se passeia.

E, no final desta primeira parte, é surpreendido com um áudio da sua companheira, Cristina Enes. Boas escutas!

José Fonseca Fernandes

Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de José Fernandes. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.

A segunda parte desta conversa fica disponível na manhã deste sábado.