Steve Bannon tudo fará para manter Elon Musk “fora da Casa Branca”. Foi a garantia que o antigo estratego de Donald Trump deu ao jornal “Corriere Della Sera”, traçando do multimilionário um retrato demolidor.
Para Bannon, que aconselhava de perto Trump no seu primeiro mandato, Musk não serve os interesses políticos da extrema-direita, apenas se serve a si mesmo e à sua busca incessante por mais dinheiro. “Tem a maturidade de uma criança”, declarou o nativista Bannon, sobre o libertário Musk, assegurando ainda que as pessoas que rodeiam Trump estão “cansadas” da presença do empresário que quer levar o Homem a Marte. “Vimos a sua natureza intrusiva, a sua falta de compreensão das verdadeiras questões e a sua atitude egoísta. O seu único objetivo é tornar-se um trilionário. Fará de tudo para garantir que as suas empresas estão protegidas, ou conseguem um negócio melhor, ou ganham mais dinheiro.”
Os fins de Musk serão claros, de acordo com o radical da extrema-direita que acompanhou Trump na primeira Presidência, antes de o líder eleito o ter dispensado. “A acumulação de riqueza e, através da riqueza, de poder: é este o seu objetivo. Os trabalhadores americanos não tolerarão isto. Apoiei o cheque de 250 milhões de dólares que assinou para Trump [patrocínio à sua campanha presidencial} e sou um apoiante do seu envolvimento com movimentos de extrema-direita na Europa: espero que ele assine cheques e lhes dê uma plataforma. O que não é bom é que de repente ele tenta aplicar as suas ideias mal elaboradas que visam implementar o tecnofeudalismo à escala global.”
Tal como Musk (que, porém, não o fez abertamente), Bannon comprometeu-se com a criação de uma rede de grupos de extrema-direita na Europa e em outras regiões do mundo. Steve Bannon vê-se como um tradicionalista e conservador. Fez parte do conselho da empresa de análise de dados Cambridge Analytica, entretanto extinta e que foi descrita por analistas como uma “agência global de gestão eleitoral”. Em 2016, Bannon tornou-se o diretor executivo da campanha presidencial de Trump, sendo conduzido a conselheiro sénior do Presidente após a eleição de Trump. Deixou o cargo oito meses depois. Donald Trump ter-lhe-á virado definitivamente as costas em janeiro de 2018, depois de as suas críticas aos filhos de Trump terem sido denunciadas no livro “Fire and Fury”, de Michael Wolff. Desde então, o politólogo Bannon tem dirigido pesadas críticas ao Partido Republicano.
Em agosto de 2020, Bannon foi detido sob acusações federais de conspiração para cometer fraude postal e branqueamento de capitais, no âmbito da campanha de angariação de fundos “We Build the Wall”. De acordo com a acusação, Bannon e os arguidos prometeram que todas as contribuições iriam para a construção de um muro na fronteira entre os EUA e o México, mas, em vez disso, enriqueceram. Bannon declarou-se inocente. A 20 de janeiro de 2021, no seu último dia de mandato, Trump perdoou Bannon, poupando-o a um julgamento federal, mas não perdoou os restantes réus.
O estratego volta agora a mostrar-se preocupado com o círculo íntimo de Donald Trump, nesta entrevista ao jornal italiano. “Vou fazer com que o Elon Musk seja expulso. Não terá um livre passe com acesso total à Casa Branca. Será como qualquer outra pessoa. É uma pessoa verdadeiramente má. Pará-lo tornou-se um assunto pessoal para mim. Antes disto, como ele investiu tanto dinheiro, eu estava disposto a tolerá-lo. Isso acabou."
A disputa mais recente a que Bannon se refere é em torno dos vistos H-1B. A controvérsia eclodiu no natal, opondo Bannon a Musk. Os vistos H1B alegadamente destinam-se a imigrantes qualificados e talentosos, um programa que Musk disse apoiar, para depois recuar em parte, dizendo que devem ser reformados. Mas isso não é suficiente para Bannon. Já Trump disse concordar com Musk, dizendo que apoiava os vistos H-1B, embora os tenha limitado em 2020. Uma sondagem recente revelou que 67% da base de apoiantes “Make America Great Again” (MAGA) é hostil a estes vistos.
“O problema é que os senhores tecnofeudais estão a usá-los em seu benefício e as pessoas estão furiosas”, refere Bannon, contextualizando: “76% dos engenheiros de Silicon Valley não são americanos. É uma parte central da recuperação da nossa economia. São os melhores empregos, e os negros e hispânicos não têm acesso a eles.”
Nas eleições de novembro, Trump conseguiu vencer na Florida, um estado de maioria hispânica. Para a vitória de Trump contribuiu em grande parte o apoio dos eleitores latinos e hispânicos, especialmente dos homens latinos. Essa base de votantes ajudou o republicano a ser o mais votado em todos os estados indecisos. Na Pensilvânia, um reduto de porto-riquenhos que viram a sua terra natal ser apelidada de “ilha flutuante de lixo” no comício de Trump no Madison Square Garden, apenas uma semana antes, reuniram-se para votar no antigo Presidente.
“Ele devia regressar à África do Sul. Porque é que temos sul-africanos brancos, o povo mais racista do mundo, a comentar tudo o que acontece nos Estados Unidos?” A revolta contra Musk continua ao longo da entrevista: “Expulsei-o da Casa Branca todos os dias durante 30 dias consecutivos em 2017, quando tentou obter subsídios pagos pelos trabalhadores americanos, basicamente impostos sobre as pessoas que ganham 35 mil dólares por ano, para reescrever o software da Tesla. Não preciso de falar com Elon Musk, sei o que ele pretende.”
Outra nota da entrevista é relativa à política internacional. Tecendo loas a Meloni, em quem Bannon diz ter visto “potencial” desde o início, o antigo chefe de campanha de Trump considera que a líder italiana poderá ajudar o Presidente norte-americano a dar um fim à guerra na Ucrânia. “Não falo por Trump, falo pela extrema-direita dos EUA e digo: por favor ajudem o Presidente a acabar com a guerra e a ir para a mesa das negociações.”