"Do trabalho que foi desencadeado, foram recapturados 19 reclusos e também seis manifestantes encontram-se nesta altura sob custódia policial a responder pelo facto de terem encetado estas manifestações violentas", disse Dércio Chacate, porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), em Sofala.

A evasão dos 220 reclusos ocorreu na manhã do dia 03 de fevereiro, após a polícia repelir um grupo de moto-taxistas e garimpeiros que tentava juntar-se para protestar contra o elevado custo de vida no distrito da Gorongosa.

Segundo a polícia, o grupo responsável pela fuga dos reclusos era composto por cerca de 500 pessoas, que também tentaram bloquear acessos e vandalizar a casa do autarca local.

O porta-voz da PRM em Sofala avançou que a polícia está a tentar recapturar mais reclusos fugidos e manifestantes supostamente envolvidos na evasão, referindo ainda que foi reforçada a presença da polícia na Gorongosa.

"Em relação a ações concretas, do ponto de vista de restabelecimento da ordem pública, o que nós temos como prioridade é recapturar os foragidos e identificar os manifestantes. Mas para a população, no cômputo geral, o que nós queremos é que haja o resgate desta confiança entre a polícia e a comunidade", acrescentou Chacate.

Este não é o primeiro caso em que as autoridades moçambicanas responsabilizam os manifestantes pela evasão de reclusos.

No dia 25 de dezembro, 1.534 reclusos fugiram, após rebeliões nos estabelecimentos Penitenciário Especial da Máxima Segurança e Provincial de Maputo, localizados a mais de 14 quilómetros do centro da capital moçambicana, Maputo.

Na altura, o então comandante-geral da PRM, Bernardino Rafael, considerou que se tratou de "uma ação premeditada" e da responsabilidade de manifestantes que, desde outubro, estão na rua a protestar contra os resultados das eleições gerais.

No mesmo dia, segundo a polícia, rebeliões similares foram registadas na Cadeia de Manhiça, norte da província de Maputo, onde os manifestantes libertaram os presos, e na Cadeia de Mabalane, que registou uma tentativa de fuga.

Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas, primeiro, pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro.

Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e outros problemas sociais.

Desde outubro, pelo menos 327 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 foram baleadas durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.

LN (EAC) // VM

Lusa/Fim