
Uma das unidades encerradas, devido à vandalização ocorrida no passado dia 04, é o Centro de Saúde da vila de Nametil, num dos distritos mais afetados pelo surto de cólera desde outubro de 2024.
"O centro de saúde continua fechado, porque desta vez queimaram a farmácia e o laboratório. E (...) temos que sentar para tentar organizar e ver como e onde vamos arranjar algum equipamento para reforçar a unidade sanitária e continuar com a sensibilização da comunidade, porque é a segunda vez que o centro de saúde está a ser vandalizado", disse a diretora provincial de saúde de Nampula, Selma Xavier, em declarações à Lusa.
Segundo Selma Xavier, indivíduos desconhecidos incendiaram a farmácia e o laboratório daquela que é a referência hospitalar do distrito de Mogovolas, que dista 87 quilómetros da cidade de Nampula.
A maior preocupação, adiantou, está relacionada com o facto de os mesmos grupos estarem a vandalizar residências dos profissionais de saúde.
"Por isso é que estamos um pouco reticentes para definir a data da nova reabertura da unidade sanitária. Neste momento alguns profissionais estão aqui na cidade e outros foram realocados para alguns centros de saúde do distrito que ainda continuam a funcionar", explicou Selma Xavier.
As autoridades de saúde alertaram para a possibilidade de aumento de casos de cólera no distrito face ao encerramento da unidade sanitária, o segundo devido a vandalizações, depois de ter sido reaberta no passado dia 31 de janeiro.
"Esse cenário preocupa-nos bastante, porque estamos a dizer que é o distrito com mais casos de cólera (...). É uma grande preocupação, porque sabemos que a cólera é um problema de saúde pública e devia ser contida naquele raio em que as pessoas se encontram", disse Selva Xavier, defendendo ações para evitar a propagação da doença.
O surto de cólera na província de Nampula provocou, desde outubro, 30 mortos e quase mil infetados, disparando perto de 400 novos casos desde o final de fevereiro, segundo dados oficiais.
De acordo com as autoridades de saúde, a província contava 579 casos acumulados desde outubro até final de fevereiro, com 29 óbitos, em três distritos, número que no balanço desta semana cresceu para um acumulado de 929 infetados e mais um óbito.
Num balanço feito pelo Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), com dados até 11 de março, face às consequências da passagem do ciclone tropical Jude pela província de Nampula, é referido que o surto de cólera está agora ativo, localmente, em Mogovolas, na cidade de Nampula, em Murrupula e Larde.
Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro, que deram a vitória a Daniel Chapo.
Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.
Desde outubro, pelo menos 357 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 3.500 feridos durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais
O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias, durante as manifestações.
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