
Na sequência da morte do Papa Francisco, na segunda-feira, aos 88 anos, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), à margem de uma missa de homenagem ao líder da Igreja Católica, disse que vai propor ao executivo camarário a alteração do nome do Parque Tejo para Parque Papa Francisco.
A Lusa questionou o gabinete de Carlos Moedas, que governa Lisboa sem maioria absoluta, sobre quando será discutida a proposta em reunião de câmara, inclusive se será na sessão pública de quarta-feira, mas a resposta foi de que ainda não está agendado.
Localizado em terrenos dos concelhos de Lisboa e de Loures, num total de cerca de 100 hectares, o Parque Tejo nasceu após a transformação de uma lixeira, o aterro sanitário de Beirolas, num parque verde.
O Parque Tejo foi um dos palcos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em agosto de 2023, que contou com a presença do Papa Francisco e juntou cerca de 1,5 milhões de pessoas.
Reagindo à proposta de Carlos Moedas, a vereação do PS em Lisboa disse que "não poderia deixar de concordar com uma justa homenagem ao Papa que visitou Portugal duas vezes, que em Lisboa foi o anfitrião da JMJ", mas ressalvou que preferia que houvesse uma intervenção significativa na zona, "para não batizar com o seu nome um descampado".
Numa declaração enviada à agência Lusa, o vereador do Livre, Rui Tavares, considerou que "o presidente da Câmara de Lisboa trata com descaso um assunto que é sério", lembrando que as regras da toponímia determinam que para alterar o nome ou dar nome a uma rua na cidade "é preciso esperar cinco anos após o falecimento da pessoa".
"O Livre e todos os outros partidos fartaram-se de ouvir isto durante todo este mandato. Claro que as regras contemplam exceções, mas é preciso pensar nelas em conjunto, e é uma falta de respeito para com o próprio Papa Francisco o presidente da Câmara de Lisboa não ter iniciado esta discussão com o conjunto dos vereadores", declarou Rui Tavares.
O regulamento municipal refere que "a atribuição de topónimo apenas deve ocorrer decorridos cinco anos sobre a morte da personalidade, podendo esta orientação, a título muito excecional e devidamente fundamentado, não ser respeitada".
Os vereadores dos Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre) indicaram que a preocupação, "para lá do nome, vai para o uso e para o estado do espaço" do Parque Tejo, salientando que ainda não foi distribuída a proposta de atribuição do topónimo Parque Papa Francisco.
Também sem conhecimento formal dos termos da proposta, o PCP adiantou que não se opõe à atribuição do nome do Papa Francisco ao Parque Tejo, defendendo, no entanto, que "importa transformar o parque verde num parque efetivamente verde".
"Este é um espaço grande sem coberto arbóreo" e é necessário colocar "não só as árvores, mas equipamentos, zonas de lazer e sanitários", acrescentaram os comunistas.
A Lusa questionou também a vereação do BE, que remeteu uma posição para quando tiver acesso à proposta.
Uma vez que cada câmara municipal tem autonomia para decidir sobre o seu território, o executivo camarário de Loures, presidido por Ricardo Leão (PS), prevê formalizar o topónimo Parque Papa Francisco na reunião ordinária de 30 de abril.
"A Câmara Municipal de Loures demonstrou sempre, em todos os seus momentos de referência ao parque, que o topónimo seria esse. Ainda antes da realização da JMJ, já se referia àquele parque como o Parque Papa Francisco", afirmou à Lusa fonte do gabinete de Ricardo Leão, acrescentando que prova disso são os dois 'outdoors' na zona a anunciar o "Futuro Parque Papa Francisco".
O novo parque verde em Loures estava previsto ser inaugurado em fevereiro deste ano, mas tal não aconteceu porque as obras ainda decorrem, indicou a mesma fonte, sem adiantar quando se prevê a conclusão.
Na parte de Lisboa, que acolheu a 10.ª edição do Rock in Rio, em junho de 2024, a câmara adiantou, em agosto, que o parque verde estava concluído e iria ter "melhorias diversas", para melhor usufruto e conforto da população.
A ligar os dois concelhos, no Parque Tejo há uma ponte ciclopedonal sobre o rio Trancão, que foi construída também no âmbito da JMJ.
Sem votação prévia do executivo municipal, o presidente da Câmara de Lisboa anunciou, após a JMJ, que a ponte se iria chamar Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente, o que gerou polémica.
Uma petição pela "alteração do nome previsto" juntou mais de 17 mil assinaturas, tendo o próprio cardeal-patriarca de Lisboa acabado por recusar a homenagem, por não querer "que a atribuição seja causa de divisão, ou que alguém se sinta ofendido".
Depois disso, surgiram várias propostas para dar nome à ponte, incluindo o provedor dos Animais de Lisboa a sugerir Ponte Noé e o grupo municipal do PAN a propor o topónimo de São Francisco de Assis, e a ideia de existir um processo de consulta pública participada entre os dois municípios -- Lisboa e Loures -- para a escolha do nome, mas, passado mais de um ano, a ponte continua sem topónimo atribuído.
Também em agosto de 2023, foi criada uma petição para apelar aos presidentes de câmara de Lisboa e de Loures para "que seja oficialmente atribuído ao Parque Urbano Tejo-Trancão o nome de Parque Papa Francisco, fazendo assim memória deste acontecimento único para as duas cidades".
Nascido em Buenos Aires, o Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, de AVC, após 12 anos de pontificado, tendo a sua última aparição pública ocorrido no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer.
Portugal decretou três dias de luto nacional.
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