
Numa conferência de imprensa conjunta, em Ljubljana, com a sua homóloga eslovena, Natasa Pirc Musar, no âmbito de uma visita oficial à Eslovénia, Marcelo Rebelo de Sousa, questionado sobre o retomar das hostilidades em grande escala na Faixa de Gaza, afirmou que "Portugal continua a considerar que é fundamental passar a uma fase seguinte de conversações, porque a ideia não é, também aqui [tal como na Urcânia], olhar para o cessar-fogo como uma solução parcial que esgota problema global".
"E havendo reféns que, vivos ou mortos, estão por entregar, havendo uma situação que estava prevista envolver várias fases de diálogo, isso quer dizer que não se pode entender, quaisquer que sejam as condutas de um lado e outro, que termine abruptamente esse diálogo que estava ajustado ser mais fundo, mais duradouro, mais ambicioso", disse.
Lembrando que "a fórmula final que Portugal deseja é a de «dois povos, dois Estados»", Marcelo disse então que é sabido que "há quem, dos vários lados, queira essa fórmula", mas também "há quem, dos vários lados, não queira essa fórmula".
"E uma forma de não querer a fórmula é torná-la impossível. E alguns comportamentos que se têm verificado no passado ou se verificam no presente parecem querer dizer a vontade de tornar impossível esse caminho, mesmo com o argumento de que se trata de uma forma de pressão da parte contrária", denunciou.
Para o Presidente da República, "aquilo que se deve fazer para quem quer que haja uma solução duradoura é apoiar aqueles que querem o diálogo e essa solução, e não deixar de criticar aquelas atitudes ou comportamentos que criam obstáculos a essa decisão".
Também a Presidente da Eslovénia, país que já reconheceu a Palestina, lamentou as violações ao cessar-fogo acordado entre Israel e Hamas, sublinhando que, "uma vez fechado um acordo, há que respeitá-lo até à ultima letra do papel, ou perde-se a confiança", algo que lamentar estar já a suceder, e que, defendeu, só pode ser resolvido com "diálogo, diálogo e mais diálogo".
Uma onda de ataques aéreos de Israel na última madrugada contra o enclave palestiniano provocou centenas de mortos -- mais de 330, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo movimento islamita palestiniano Hamas.
Pouco depois das 02:00, no horário local (00:00 em Lisboa), o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, informou que este tinha ordenado ao exército que agisse "vigorosamente contra a organização terrorista Hamas na Faixa de Gaza".
O gabinete de Netanyahu justificou o ataque ao afirmar que o Hamas se nega a libertar os reféns que mantém ainda em cativeiro e também por ter rejeitado as propostas dos Estados Unidos para prolongar a primeira fase do cessar-fogo, no lugar de passar à segunda fase do acordo, como originalmente acordado.
O ministro da Defesa de Israel anunciou hoje que o país "retomou os combates" na Faixa de Gaza até que todos os reféns ainda retidos pelo movimento islamita palestiniano Hamas sejam libertados, tendo o exército israelita dado conta de "ataques extensivos contra alvos terroristas pertencentes à organização terrorista Hamas na Faixa de Gaza".
Os bombardeamentos, que tiveram como alvo vários locais do enclave, atingiram escolas que acolhem refugiados e zonas humanitárias, causando vítimas em Khan Yunis, no sul de Gaza, bem como em Nuseirat e Al-Bureij (centro) e em Jabalia e na Cidade de Gaza (norte), de acordo com informações e imagens divulgadas pelos meios de comunicação palestinianos.
A segunda fase do cessar-fogo em Gaza deveria ter começado no passado dia 02 de março, mas Israel e o Hamas nunca chegaram a acordo sobre os termos.
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