O tamanho importa e deu dimensão mundial à Nazaré. Há 13 anos um surfista americano desceu aqui a maior onda de sempre. Com 23 metros e 77 centímetros, a Praia do Norte agitou as águas do surf de ondas grandes.

Os recordes do mundo começaram a ter sempre a Praia do Norte como paisagem. O atual é de 2020 e pertence ao alemão Sebastian Steudtner, com 26 metros e 21 centímetros.

Estas medidas tiradas quase a olho, com base na altura do surfista, levantaram sempre suspeitas, até que dois amigos resolveram levar para o mar o rigor da ciência, através do olhar de duas câmaras.

“Elas estão alinhadas ao longo de uma estrutura de ferro. E têm uma visão da superfície do oceano, em que conseguem ver a mesma superfície mas com ângulos diferentes. Funcionam quase como o olho humano, que consegue ter a tridimensionalidade do espaço, porque cada um dos olhos observa a mesma superfície mas com diferentes ângulos e, portanto, consegue determinar a distância a partir dessa informação”, diz Luís Pedro Almeida, cientista "+Atlantic".

As imagens são sincronizadas por um equipamento específico e estão a ser gravadas e processadas num laboratório improvisado no forte de São Miguel Arcanjo.

“Nós conseguimos com esta informação, essencialmente, analisar onda por onda através de cortes que fazemos. É quase como tirar uma fatia de um bolo, nós cortamos esta informação e tiramos o perfil da onda. Conseguimos ver de maneira bastante objetiva a crista da onda, que é o ponto mais alto, conseguimos também ver onde é que está a base, o ponto mais baixo”, conta Luís Pedro Almeida.

“É uma evolução”

Esta precisão, nunca antes vista, vai além do tamanho. Dá rigor à forma. Outro parâmetro importante para distinguir a ousadia de quem desafia as ondas. É uma ferramenta que pode ser útil à World Surf League, a FIFA do surf que oficializa os recordes e todos os anos atribui prémios aos surfistas de ondas grandes.

João Macedo, surfista de ondas grandes, considera que “é uma evolução e um contributo para haver ainda mais rigor”.

O sistema Wave Tracker está virado para o presente e principalmente para dar dimensão às previsões do futuro.

O projeto tem agora o apoio da Camara da Nazaré, mas foi um financiamento da Faculdade de Ciencias e Tecnologia que deu o primeiro impulso.

Mais investimento pode levar este sistema a todo o mundo e a anunciar a medição das ondas em tempo real. Nesta fase, o processo ainda demora cerca de meia hora, na melhor das hipóteses.