Luís Montenegro falou ao país na quinta-feira, para anunciar alguns dados sobre a megaoperação de forças de segurança e outras entidades, "Portugal Sempre Seguro", e deixou a oposição a apontar-lhe o dedo, da esquerda à direita. O líder socialista, Pedro Nuno Santos, foi dos mais vocais contra o que disse o primeiro-ministro, não só pela declaração "para mera propaganda pessoal", mas porque não o fez noutras situações, como sobre violência doméstica, crise no INEM ou nos tumultos na Grande Lisboa.

Para o secretário-geral do PS, a declaração do primeiro-ministro foi de "mera propaganda pessoal" a "conselho de consultores" e que "só não é promotora de alame social porque foi ridícula". Em declarações aos jornalistas no Parlamento, Pedro Nuno Santos acusou Luís Montenegro de se "estar a apropriar de resultados de entidades muito importantes que fazem o seu trabalho" com um conjunto de meio que foi providenciado pelo anterior Governo. É neste ponto que também se focou Rui Rocha, que pediu esclarecimentos ao Governo, em concreto ao Ministério da Administração Interna, sobre os anúncios feitos por Luís Montenegro. "Vamos aguardar por esclarecimentos, mas não seria a primeira vez que este primeiro-ministro e este Governo fazem anúncios de coisas já aprovadas", afirma Rui Rocha, no Parlamento, a comentar a conferência de imprensa de ontem.

O presidente da IL diz que já estava aprovada uma compra de 714 viaturas para as forças de segurança com um custo de 22 milhões, pelo que questiona se as 600 viaturas e os 20 milhões ontem anunciados por Montenegro acrescem ao que já estava aprovado ou se, pelo contrário, representam uma diminuição.

Serviu para desviar atenções

Não só para Pedro Nuno Santos, como para Mariana Mortágua, líder do BE, a conferência de imprensa de Montenegro serviu para "desviar atenções". Nas declarações, Pedro Nuno Santos atirou ainda ao facto de Montenegro não ter tido a mesma solenidade de fazer uma declaração ao país aquando dos tumultos na grande Lisboa, da "crise do INEM e das onze mortes" e ainda ao ter, por outro lado, "desvalorizado" um assunto tão grave como "a violência doméstica". "Não tivemos direito a um peso de uma declaração como a de ontem", criticou.

"O primeiro-ministro tem de revelar sentido de Estado. Não foi isso a que assistimos ontem", disse. Para o socialista, o primeiro-ministro quis "desviar a atenção para outros temas" como a portaria sobre a lista de espera na saúde, que refere que há um aumento das listas para cirurgias e que com isso há um "desviar de recursos públicos para o negócio privado da saúde". Serviu para "se discutir um tema e deixar de discutir outras importantes para o país", notou.

Na mesma linha, a líder do bloco de Esquerda acusou o primeiro-ministro de "usar meios do Estado na sua caça às percepções" tendo como resultado "aumentar essas percepções". Para Mariana Mortágua, o primeiro-ministro substitui-se às autoridades "para fazer números políticos", mostrando "tamanha irresponsailidade e desrespeito pelas entidades" que se viram a fazer acções que não foram "determinadas pelas suas hierarquias", mas determinadas pelo Governo, frisou.

Também o PCP usou a expressão "ridículo". “O que é significativo e lamentável desta declaração é que o primeiro-ministro, falando quase como se fosse um comandante das forças policiais, ao fazer uma declaração desta natureza, utiliza as forças e serviços de segurança ao serviço da propaganda governamental. Tanto mais quanto aquilo que é anunciado [quarta-feira], que são 20 milhões de euros para a aquisição de viaturas, podemos dizer que chega a ser ridículo”, disse o deputado do PCP António Filipe.

A deputada do PAN, Inês Sousa-Real considerou “absolutamente inusitado” e criticou o primeiro-ministro por “assumir as funções de porta-voz dos órgãos de polícia criminal”. “Não nos parece razoável, como também não parece acautelar o princípio da separação de poderes, ainda que no âmbito de um caso que consternou o país e que nos preocupou, tendo em conta o contexto de insegurança que foi vivido”, afirmou, numa alusão aos desacatos que se sucederam à morte de Odair Moniz.

Ventura diz que PM deu razão ao Chega

Já André Ventura diz que a intervenção de Montenegro veio dar razão aos alertas do Chega para a insegurança. "O caricato da intervenção é que todo o contexto da mesma parecia indicar uma mudança de paradigma e o primeiro-ministro acaba a anunciar mais viaturas, que é o anúncio que a ministra podia fazer à saída do Parlamento", afirma o presidente do Chega, nos Passos Perdidos. Para Ventura o único mérito da conferência de imprensa do primeiro-ministro foi "alertar para a insegurança que as pessoas sentem".