Criar diretrizes claras no uso da IA no jornalismo, fomentando a segurança e inovação, são outras recomendações do Observatório Social para a Inteligência Artificial e Dados Digitais, da Universidade Nova de Lisboa, que fez um inquérito em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e que hoje é divulgado em Lisboa.
Nesse questionário, 59,5% dos inquiridos afirmam já ter ouvido falar da IA, mas não têm uma noção aprofundada do que é, contra os 4% que responderam que ter um conhecimento avançado, enquanto 36,5% admitem ter noções básicas da tecnologia.
Com base numa "investigação sistemática", escreve Paulo Nuno Vicente, do observatório no relatório "Jornalistas e Inteligência Artificial: perceções, práticas, desafios e oportunidades", procura-se "não apenas mapear o panorama atual, mas também contribuir para debates mais amplos sobre a sustentabilidade e qualidade do jornalismo numa era marcada pela automatização".
Entre os desafios do jornalismo, o professor e coordenador do Doutoramento em Media Digitais destaca, pela negativa, "questões como a desinformação amplificada por algoritmos, a perda de autonomia profissional em processo por plataformas e a precariedade".
A introdução da IA, lê-se no relatório, "exige respostas coordenadas de empresas dos media, organizações profissionais e entidades estatais".
A Inteligência Artificial pode trazer oportunidades para "acelerar a investigação de dados, detetar padrões em grandes bases informativas e criar experiências mais interativas".
Às empresas de media é recomendado que identifique as funções que possam ser afetadas pela Inteligência Artificial para "antecipar necessidades futuras" e promover a "requalificação dos profissionais", sugerindo ainda ao Estado que adote "políticas de apoio à transição digital no jornalismo".
Sugere-se, igualmente, que as empresas de comunicação invistam em "programas de formação contínua" sobre IA, defendendo-se que as entidades estatais os apoiem. Às organizações profissionais propõe-se que desenvolvam "guias acessíveis e recursos educativos sobre IA".
Aos responsáveis dos media, recomenda-se que se desenvolvam "estratégias editoriais robustas e diretrizes específicas" no uso da IA, "em colaboração com os jornalistas e entidades académicas" e às organizações profissionais que façam um "conjunto de boas práticas".
Aos órgãos de informação que venham a usar a Inteligência artificial a recomendação é apostar em "conteúdos diferenciados e exclusivos, reforçando a identidade editorial".
As organizações profissionais podem responder aos desafios para o jornalismo colocados pelas grandes empresas tecnológicas ('big tech') com campanhas de sensibilização sobre a ética e independência no jornalismo.
E ao Estado é pedido que regule a utilização da IA pelas 'big tech' para garantir o respeito pelos direitos dos jornalistas e dos órgãos de informação.
No capitulo do "treino de IA" generativa, recomenda-se ainda aos media "políticas claras" na partilha de conteúdos, incluindo cláusulas contratuais para proteger a propriedade intelectual e ao Estado que tenha regulamentações para "proteger os direitos de autor".
O relatório do Observatório Social para a Inteligência Artificial e Dados Digitais, da Universidade Nova de Lisboa, resulta de um questionário, distribuído pelo Sindicato dos Jornalistas aos seus associados, e foi respondido por 74 profissionais de informação, entre 02 de março e 17 de abril de 2024.
O estudo da Universidade Nova de Lisboa, é da autoria de Paulo Nuno Vicente, José Sotero, Ana Marta Flores e será hoje apresentado e discutido numa mesa redonda em Lisboa.
NS // MSF
Lusa/fim