"A existência de diversas frentes de manifestações em diversa escala até em locais improváveis, como a cidade da Beira, Dondo e Mafambisse [centro do país] (...) e os episódios registados nos estabelecimentos comerciais, nas cadeias também causaram este número de mortes", declarou à Lusa o presidente da organização não-governamental (ONG) moçambicana, Wilker Dias.

Pelo menos 252 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, metade das quais apenas desde a proclamação dos resultados finais, na segunda-feira, de acordo com um novo balanço da Decide.

Wilker Dias disse que os casos de óbitos após baleamento aumentaram, sobretudo em locais onde os protestos foram mais intensos.

"Neste tipo de situações, em que há grandes frentes em manifestações, as autoridades usam a força ao maior nível. É preciso encontrar o caminho para um diálogo entre as partes envolvidas e procurar ver o que se pode fazer para se acalmarem os ânimos. Caso contrário, os focos de violência vão continuar", declarou o ativista.

Desde 21 de outubro, o registo da plataforma eleitoral Decide contabiliza 569 pessoas baleadas em todo o país, além de 252 mortos e seis desaparecidos.

Somam-se ainda 4.175 detidos desde o início da contestação pós-eleitoral, 137 dos quais desde segunda-feira.

Moçambique vive hoje um novo dia de tensão social na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais, após dias marcados por saques, vandalizações e barricadas, nomeadamente em Maputo.

O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.

O anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.

Pelo menos 1.534 reclusos evadiram-se na tarde de quarta-feira da Cadeia Central de Maputo, de máxima segurança, disse o comandante-geral da polícia, afirmando tratar-se de uma ação premeditada e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais, em que morreram 33 pessoas.

 

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