"Não estamos à venda", foi a resposta da Dinamarca aos comentários de Donald Trump sobre o desejo de comprar Gronelândia. Mas não é só pela ilha que o presidente eleito dos Estados Unidos tem mostrado interesse: o canal do Panamá e até o Canadá estão na mira de Trump, o que levou os dois países a reagir. O Governo panamiano afirmou que a soberania do Canal "não é negociável" e o Executivo canadiano garantiu que o país "nunca, mas nunca" fará parte dos Estados Unidos.
Numa conferência de imprensa na residência particular de Mar-a-Lago, na Florida, o próximo Presidente dos Estados Unidos voltou a falar das ambições expansionistas, um tema que já tinha defendido no anterior mandato como chefe de Estado (2017-2021).
A mais recente reação é a do ministro dos Negócios Estrangeiros do Panamá, que afirmou que a soberania do Canal do Panamá "não é negociável", em resposta a novas ameaças de anexação feitas por Trump.
"O Presidente [panamiano], José Raúl Mulino, já declarou que a soberania do nosso canal não é negociável e faz parte da nossa história de luta e de uma conquista irreversível", disse Javier Martinez-Acha na terça-feira.
O ministro acrescentou que, "quando o presidente eleito [Trump] tomar posse", a 20 de janeiro, "a relação entre os Estados Unidos e o Panamá será gerida através dos canais formais, habituais e correspondentes".
"As únicas mãos que controlam o canal são as panamianas e isso continuará a ser o caso", reiterou Martínez-Acha.
"O nosso canal tem como missão servir a humanidade e o seu comércio, este é um dos grandes valores que os panamianos oferecem ao mundo, dando uma garantia à comunidade internacional de não participar ou ser parte ativa em qualquer conflito (...) Somos um país aberto ao diálogo hoje e sempre, ao investimento e às boas relações, mas com o lema claro de que a Pátria está em primeiro lugar", afirmou o chefe da diplomacia do Panamá.
Horas antes, Donald Trump não excluiu o uso de força militar para assumir o controlo do Canal do Panamá e da Gronelândia, ao afirmar que ambos os territórios são essenciais para a segurança dos Estados Unidos da América.
"Não me vou comprometer com isso", disse o republicano, numa conferência de imprensa na sua residência em Mar-a-Lago, Florida, quando questionado se excluiria o recurso às forças armadas.
No dia 20 de dezembro, o Panamá celebrou o 35.º aniversário da invasão do país pelos Estados Unidos para capturar o ditador Manuel Antonio Noriega sob acusações de tráfico de droga. O país centro-americano aboliu o exército após a incursão estrangeira, que fez entre 500 e quatro mil mortos.
"Pode ser que tenham de fazer alguma coisa. O Canal do Panamá é vital para o nosso país", referiu Trump.
O magnata voltou a acusar o Panamá de impor taxas de passagem excessivas aos navios norte-americanos e insistiu que a China controla o canal.
Gronelândia e Canadá também na mira de Trump
Além do Canal do Panamá, Trump referiu-se na mesma conferência de imprensa à Gronelândia, um território autónomo da Dinamarca, um aliado de longa data dos Estados Unidos e membro fundador da NATO.
"Precisamos da Gronelândia para fins de segurança nacional", disse o Presidente eleito.
O interesse de Trump na Gronelândia não é uma novidade. Em 2018, durante um encontro na Sala Oval, disse em tom de brincadeira que queria comprar a ilha para ter acesso aos seus recursos naturais. No ano seguinte, os meios de comunicação norte-americanos avançaram que Trump queria comprar a Gronelândia em nome dos Estados Unidos.
Na altura, a Dinamarca avisou Trump que a ilha "não estava à venda". Quase seis anos depois, o país europeu volta a fazer o mesmo aviso. "A Gronelândia pertence aos gronelandeses", disse a primeira-ministra Mette Frederiksen.
Também chefe da diplomacia francesa, Jean-Noel Barrot, disse esta quarta-feira que a União Europeia não vai permitir que países "ataquem fronteiras soberanas" do bloco europeu, referindo-se à Gronelândia. A Gronelândia é "um território da União Europeia", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Paris à rádio France Inter.
Já sobre o Canadá, país sobre o qual Trump tem ironizado com a possibilidade de se tornar o "51.º estado" norte-americano, o futuro presidente dos Estados Unidos recusou o uso de força militar, mas admitiu recorrer "à força económica".
O republicano sustentou que os Estados Unidos perdem anualmente "mais de dois mil milhões de dólares" (1,93 mil milhões de euros) nas trocas comerciais com o Canadá, nomeadamente na importação de automóveis e laticínios.
Na resposta, o primeiro-ministro demissionário Justin Trudeau garantiu que "nunca, mas nunca" o Canadá fará parte dos Estados Unidos da América.
- Com Lusa