O ministro dos Assuntos Parlamentares classificou a moção de censura entregue esta terça-feira pelo Chega como "anedótica" e acusou o líder do PS de estar numa "deriva populista" e de ter um discurso semelhante ao de André Ventura. Numa intervenção no International Club of Portugal subordinada ao tema "Desafios políticos para 2025", Pedro Duarte considerou que os extremismos se estão a afirmar em Portugal e referiu-se ao facto de o Chega ter entregado, horas antes, no parlamento uma moção de censura ao XXIV Governo Constitucional por considerar que recaem sobre o primeiro-ministro, Luís Montenegro, "suspeitas gravíssimas de incompatibilidade" no exercício de funções públicas.

"O partido Chega, acossado com os seus problemas internos, para tentar desviar as atenções, apresenta uma moção de censura anedótica", acusou. No entanto, o ministro criticou também o secretário-geral do PS apesar de Pedro Nuno Santos ter já assegurado que chumbaria esta iniciativa.

"Vamos espremer aquilo que é dito pelo líder do PS e é basicamente quase o mesmo que é dito pelo líder do Chega. Há uma espécie de corrida, de deriva populista a que não resiste, até no tom extremado e zangado", apontou.

No final do almoço, e questionado pelos jornalistas se não são necessárias mais explicações do primeiro-ministro, Pedro Duarte defendeu que os esclarecimentos dados, por escrito, por Luís Montenegro ao Correio da Manhã são “inequívocos e suficientes”.

“O primeiro-ministro tem mostrado, desde o início, que apesar de haver um conjunto significativo de momentos em que se tenta atacar a sua integridade, a sua verticalidade, ele tem uma conduta à prova de bala. Saberá, como sempre tem feito, escolher o momento próprio e adequado para poder falar ao país e dar esclarecimentos diferentes”, disse, admitindo que poderá ser no debate da moção de censura.

Pedro Duarte admitiu que, se o parlamento assim o decidir, o Governo poderá comparecer na Assembleia da República na sexta-feira para esse debate, “ainda que talvez não nas melhores condições físicas”, já que o primeiro-ministro e 11 ministros deverão aterrar em Lisboa de uma visita oficial ao Brasil nesse dia.

O ministro afastou ainda críticas de que Montenegro tem procurado evitar as perguntas da comunicação social em vários assuntos, justificando que “está a governar um país e não tem de de passar 24 horas ou os dias todos a dar esclarecimentos a dúvidas que, ainda por cima, são relativamente ridículas”. “Não há ali qualquer questão que tenha qualquer relevância do ponto de vista do que é a conduta e o comportamento do primeiro-ministro”, disse, considerando, por exemplo, que “habitual e normal” que a morada da empresa Spinumviva seja a mesma da residência do chefe do Governo.

Pedro Duarte salientou que o primeiro-ministro “tinha uma vida antes de ser primeiro-ministro, terá uma vida depois de ser primeiro-ministro e como toda a gente também precisa de trabalhar e de ganhar dinheiro para viver”.

Tal como tinha feito na sua intervenção no almoço, Pedro Duarte criticou o líder do PS pela forma como se referiu a este caso, “não se distinguindo do discurso do Chega”, "com insinuações que são absolutamente caluniosas e que são inaceitáveis!.

Na resposta, assegurou, “o Governo não vai vacilar” e “está mais coeso do que nunca” numa “guerra quase civilizacional” contra o que chamou de ataques constantes à integridade e bom-nome dos atores políticos. “Vai continuar a haver alguém que ocupe o centro político do país, e de facto essa é a governação do PSD e do CDS”, disse.

O Correio da Manhã noticiou no sábado que a mulher e os dois filhos do primeiro-ministro têm uma empresa com um vasto objeto social, em que se inclui compra e venda de imóveis, de que Luís Montenegro foi fundador e gerente, mas da qual se desvinculou antes de se tornar líder do PSD.

No próprio dia, o primeiro-ministro classificou como “absurda e injustificada” a sugestão de que poderá existir um conflito de interesses pela possibilidade de a empresa da sua família poder beneficiar da recente revisão da lei dos solos aprovada recentemente pelo Governo e adiantou que da empresa Spinumvita apenas teve execução a prestação de consultoria no âmbito da proteção de dados pessoais.