
Em Myanmar, a falta de bens essenciais é uma das grandes preocupações. Nas zonas mais atingidas, a população luta diariamente para satisfazer necessidades básicas. Em alguns locais, não há acesso à água potável nem a cuidados de saúde e muitos não têm um lugar onde dormir.
Os grupos de apoio têm apelado para que a ajuda humanitária chegue, mas a guerra civil está a complicar o processo. O país está mergulhado num conflito e numa crise económica desde o golpe militar de 2021.
“Tendo vivido o terror do terramoto, as pessoas temem agora os tremores secundários e estão a dormir ao relento nas estradas ou em campos abertos”, afirmou um trabalhador do comité internacional de resgate.
De acordo com a agência Reuters, a Amnistia Internacional tem apelado à junta militar para que facilite a chegada de ajuda a eras que não estão sob o seu controlo.
O investigador da Amnistia Joe Freeman disse que “os militares de Myanmar têm uma prática de longa data que consiste em recusar a ajuda a zonas onde atuam grupos que lhes resistem”
“O Governo deve permitir imediatamente o acesso sem entraves a todas as organizações humanitárias e eliminar as barreiras administrativas que atrasam a avaliação das necessidades”.
O controlo apertado sobre as redes de comunicação e os danos em estradas, pontes e infraestruturas têm criado problemas na chegada de ajuda. O terremoto que abalou o sudoeste asitático na passada sexta-feira foi um dos mais fortes do século. Neste momento, o número de mortos já ultrapassa os 2.700.
Numa região de Mandalay, de acordo com o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas, citado pela agência Reuters, uma escola ruiu causando a morte de 50 crianças e dois professores.
Oposição em Myanmar estima que sejam afetadas mais de 8,5 milhões de pessoas
O Governo de Unidade Nacional (NUG), que se opõe à junta militar de Myanmar e controla partes do país, estimou hoje que mais de 8,5 milhões de pessoas foram "diretamente afetadas" pelo terramoto que atingiu o país na sexta-feira.
O governo "alternativo" de Myanmar (antiga Birmânia) - composto por políticos pró-democracia, ativistas e líderes de minorias étnicas - afirmou, na conta da rede social Facebook, que 8.562.555 pessoas foram afetadas pelo sismo de magnitude 7,7.O NUG indicou que mais de 2.400 pessoas morreram e "milhares ficaram feridas".
A oposição apelou à ONU e à Associação dos Estados do Sudeste Asiático (Asean) para garantir que a ajuda humanitária seja entregue diretamente às vítimas que dela necessitam urgentemente, sem interferência, acusando a junta de a utilizar em seu benefício, no contexto de conflito armado.
"Esta tragédia é ainda agravada pelos contínuos ataques aéreos da junta, mesmo no rescaldo da catástrofe, que dificultam os esforços humanitários urgentes. O povo de Myanmar necessita desesperadamente de apoio imediato e a solidariedade da comunidade internacional é mais crucial do que nunca", sublinhou o NUG.
O grupo disse na segunda-feira que as equipas de socorro internacionais chegaram apenas a algumas zonas afetadas da capital, Naypyidaw, e Mandalay (a segunda maior cidade e uma das mais atingidas), mas que outras zonas destruídas ainda precisam de ajuda.
A oposição congratulou-se com a ajuda prestada até agora, com donativos através do envio de equipas para o terreno de Austrália, Bangladesh, Camboja, China, Índia, Japão, Irlanda, Malásia, Noruega, Rússia, Singapura, Coreia do Sul, Tailândia, Reino Unido, Estados Unidos, Vietname, ONU e UE.
A ONU estimou que cerca de 20 milhões de pessoas, um terço da população, foram direta ou indiretamente afetadas pelo terramoto e, na segunda-feira, afirmaram que a dimensão da catástrofe era ainda incerta.
- Com Lusa