"Os hospitais e as morgues estão sobrecarregados", pois "o recente surto de violência no leste da República Democrática do Congo [RDCongo] provocou uma perda significativa de vidas, traumatismos, deslocações e a destruição de infraestruturas sanitárias essenciais, agravando uma situação já de si terrível para milhões de pessoas", alertou a OMS, em comunicado.
Assim, a situação é tensa e volátil nesta região da RDCongo, que faz fronteira com Angola, e as necessidades sanitárias são imensas, frisou.
"Com a alarmante expansão da violência para sul, foram registados 65 feridos em três hospitais do Kivu do Sul", contextualizou.
A organização de saúde disse também prever que o número de mortos, 843 atualmente, aumente ainda mais à medida que mais pessoas feridas consigam chegar às instalações de saúde e mais cadáveres sejam recolhidos das ruas.
As infeções de feridas são um risco para as pessoas que não conseguem chegar rapidamente às instalações de cuidados de saúde, mas estas estão a ficar sem materiais médicos, lamentou.
"O cancro, a diabetes, a hipertensão, a saúde mental e outros serviços de rotina são igualmente afetados, uma vez que os medicamentos se esgotaram e os profissionais de saúde estão ausentes ou sobrecarregados", salientou, mas existem ainda os riscos acrescidos de surtos de outras doenças tais como a cólera (cujo surto está ativo na vizinha Angola), a malária, o sarampo, a meningite, o monkeypox (doença endémica neste país) e a tuberculose.
A OMS e os seus parceiros puderam retomar a vacinação contra o monkeypox em Goma na quarta-feira, após uma pausa de dez dias, declarou.
O abastecimento de água em Goma foi interrompido e só foi parcialmente retomado, levando as pessoas a utilizar água do lago e aumentando o risco de propagação da cólera, disse.
"Entre 01 e 27 de janeiro, foram notificados cerca de 600 casos suspeitos de cólera e 14 mortes no Kivu do Norte", indicou.
Outra questão é a fome. Uma em cada quatro pessoas na região já estava a enfrentar níveis de fome de emergência, prevendo-se que a recente violência venha a agravar a situação.
"A OMS permanece no terreno e tem continuado a responder às necessidades sanitárias, fornecendo material médico que salva vidas, apoiando os profissionais de saúde e coordenando a resposta de emergência", mas a reabertura do aeroporto de Goma é fundamental para a entrada de mais ajuda humanitária, embora se esteja a explorar a entrega por outras vias, disse.
A recente decisão dos Estados Unidos da América de congelar a ajuda externa está a ter um impacto significativo nos esforços de socorro na RDCongo, lamentou.
"No ano passado, os EUA contribuíram com cerca de 70% da resposta humanitária do país", sendo que a OMS estima a necessidade em 50 milhões de dólares (cerca de 48 milhões de euros), sublinhou.
A ofensiva do Movimento 23 de Março (M23) - composto maioritariamente por tutsis vítimas do genocídio ruandês de 1994 - fez aumentar as tensões da RDCongo com o Ruanda, com Kinshasa a acusar Kigali de apoiar o grupo armado, uma alegação confirmada pela ONU.
Por seu lado, o Ruanda e o M23 acusam o exército democrático-congolês de cooperar com as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), grupo fundado em 2000 por líderes do genocídio e outros ruandeses exilados para recuperar o poder no seu país, uma colaboração também corroborada pela ONU.
Desde 1998, o leste da RDCongo está num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de manutenção da paz da ONU no país.
NYC (EL) // VM
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