A justiça suíça libertou uma pessoa que estava em prisão preventiva depois de uma mulher norte-americana, de 64 anos, gravemente doente, se ter suicidado utilizando uma máquina futurista em forma de sarcófago, considerada ilegal pelas autoridades do país alpino.

O Ministério Público do cantão de Schaffhausen anunciou, em comunicado de imprensa divulgado na segunda-feira, que libertou "a última pessoa colocada em prisão preventiva" neste caso.

"Tendo em conta o estado mais recente da investigação, subsistem ainda fortes suspeitas de incitamento e assistência ao suicídio, mas já não de homicídio doloso, ainda que a perícia do Instituto de Medicina Legal do cantão de Zurique (IRMZ) não esteja ainda disponível", acrescentou o Ministério Público daquele cantão.

A mulher, gravemente doente, terminou com a sua vida no final de setembro numa floresta no cantão de Schaffhausen, perto de Merishausen, muito perto da fronteira alemã, ao entrar nesta cápsula onde é libertado azoto.

Três pessoas foram na altura detidas, entre as quais Florian Willet, copresidente da The Last Resort, que promove o dispositivo, denominado "Sarco".

Poucos dias depois, o procurador do cantão de Schaffhausen, Peter Sticher, requereu a sua colocação em prisão preventiva e libertou os outros dois.

As autoridades não desejam fornecer mais informações neste momento devido ao sigilo da investigação.

A acusação nunca revelou a identidade da pessoa que ainda estava detida, mas o The Last Resort revelou-a na sua conta na rede social X.

Inventada pelo australiano Philip Nitschke, antigo médico conhecido pelas suas polémicas posições sobre o fim da vida, a cápsula, de onde é possível ver o exterior, tem a forma de uma 'minicabine'.

O Last Resort indicou este verão que queria utilizar o dispositivo na Suíça pela primeira vez este ano.

Os Ministérios Públicos de vários cantões, incluindo o de Schaffhausen, avisaram que iniciariam um processo se a cápsula fosse utilizada no seu território.

No dia da morte da norte-americana, a ministra do Interior suíça, Elisabeth Baume-Schneider, disse aos deputados que esta "cápsula suicida Sarco não cumpre a lei", por razões de segurança e incompatibilidade com a Lei dos Produtos Químicos.

Na Suíça, de acordo com a lei, só é punível quem, "movido por motivos egoístas", auxiliar no suicídio de alguém.

A prática do suicídio assistido organizado é, no entanto, regulada pelos códigos de ética médica e por organizações como a Exit e a Dignitas, que estabeleceram as suas próprias salvaguardas (idade, doenças, etc.).


Com LUSA