A jornalista italiana Cecilia Sala, que fazia reportagens a partir do Irão, foi detida a 19 de dezembro pelas autoridades policiais de Teerão, informou esta sexta-feira o Governo italiano, adiantando que a repórter estará em isolamento na prisão de Evin.

Cecilia Sala "está bem de saúde. Veremos quais são as acusações", adiantou o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, António Tajani, remetendo mais novidades para os próximos dias.

"Agora o importante é que esteja bem, está detida numa situação calma, sozinha numa cela", acrescentou o ministro, garantindo que o Governo está "a trabalhar muito intensamente" no acompanhamento da situação.

Sala, de 29 anos, natural de Roma, é correspondente do diário italiano Il Foglio e tem também o seu próprio 'podcast'. "Por ordem do ministro dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, a embaixada e o consulado italiano em Teerão estão a acompanhar o caso com a máxima atenção desde o seu início", avançou a diplomacia italiana, acrescentando que a operação está a decorrer em coordenação com o gabinete da primeira-ministra, Giorgia Meloni.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros "está a trabalhar com as autoridades iranianas para esclarecer a situação jurídica de [Cecilia] Sala e verificar as condições da sua detenção", referiu num comunicado.

"Hoje, a embaixadora italiana Paola Amadei realizou uma visita consular para verificar as condições e o estado de detenção" da jornalista, explicou ainda o ministério, adiantando que a família da repórter foi informada do resultado da visita.

Segundo o ministro da Defesa, Guido Crosetto, todos os caminhos estão a ser explorados para libertar Sala que, segundo o editor do 'podcast' da Chora Media, Mario Calabresi, é uma "apaixonada pelas lutas das mulheres iranianas".

Os políticos italianos de vários partidos têm apelado ao Governo para que garanta a libertação de Sala, enquanto a escritora Alessia Piperno, que esteve detida na famosa prisão de Evin, em Teerão, durante 45 dias em 2022, instou a jornalista a manter a coragem e a energia e mandou um abraço aos pais.

É nesta prisão que tem estado detida a ativista iraniana Narges Mohammadi, Nobel da Paz em 2023. Nascida em 1995, em Roma, Cecília Sala trabalhou em redações e como jornalista 'freelancer', lidando sobretudo com assuntos de política internacional.

Entre 2014 e 2018 frequentou a faculdade de Economia da Universidade Luigi Bocconi de Milão, onde interrompeu os estudos quando lhe faltava fazer seis exames para obter o diploma.

Em 2015 começou a colaborar como correspondente e repórter na Vice News e, mais tarde, a trabalhar com jornalista e apresentadora de 'talk shows' políticos e no programa "Servizio Pubblico" da estação independente LA7, onde se tornou jornalista profissional.

Ao longo dos anos, colaborou com a Vanity Fair, o L'Espresso, Rai e a Will Media, e trabalhou na equipa editorial do 'talk show' político do horário nobre "Otto e Mezzo".

Em novembro de 2019 integrou a equipa editorial do Il Foglio e, no ano seguinte, começou a ser emitido, pelo Huffington Post, o seu 'podcast' "Polvere", sobre o assassinato de Marta Russo, uma estudante de 22 anos da Faculdade de Direito da Universidade Sapienza de Roma, que foi baleada e morta nas instalações da universidade, a 09 de maio de 1997.

A morte da estudante foi alvo de um processo judicial complexo que atraiu uma enorme atenção dos 'media' devido à falta de provas e de motivos substanciais, que terminou seis anos depois com a condenação de Giovanni Scattone a cinco anos de prisão por homicídio voluntário.

Em maio de 2021, o 'podcast' de Sala sobre o caso Russo foi transformado em livro sob o título "Polvere, O Caso Marta Russo".

A 10 de janeiro de 2022, Sala tornou-se autora e voz de um novo 'podcast' chamado "Stories", publicado pela Chora Media, que conta diariamente histórias de todo o mundo.