
O "jornalismo deficiente" em recursos está a alimentar a desinformação, alertou esta quarta-feira, 14 de Maio, José Rúas, professor e investigador da Universidade de Vigo, que participa no colóquio ‘A Luta Regional e Local contra a Desinformação na Era da Globalização e da Pós-Verdade’.
No evento que decorre no Colégio dos Jesuítas, José Rúas começou por explicar que o jornalismo deixou de ser o único mediador da informação com o surgimento do ecosistema digital, em que existe uma comunicação em rede sem controlo, facilitando a informação incorreta, a desinformação e a má informação, que pode acontecer de forma despropositada ou organizada com base em interesses partidários, políticos e económicos para desestabilizar, difamar ou promover o descrédito.
Segundo o investigador, a problemática é agravada com o jornalismo deficiente: "Vivemos uma crise no jornalismo. Muitas vezes há uma impossibilidade de recursos materiais e humanos para verificar e cruzar a informação, ao que acresce a disseminação rápida e exponencial de conteúdos nas redes sociais porque agora qualquer cidadão pode difundir conteúdos, deixamos de ter um mediador."
Quando nos formamos em jornalismo aprendemos a necessidade de verificar e cruzar a informação. Isso é o que está andando à deriva. Houve tempos bons para o jornalismo, onde havia recursos humanos e recursos técnicos, havia equipas de investigação, havia não só condições económicas, mas também tempo para verificar a informação. Agora estamos num jornalismo muito de mesa, muito de gabinete de comunicação, em que mandam toda a informação, com isso acabamos com a essência de verificar factos, o trabalho do jornalista. José Rúas
O investigador explica que por vezes as pessoas partilham informações falsas "mesmo sem saber e sem querer, contribuindo para a difusão de desinformação, mas, por outro lado, existe a desinformação organizada, por parte de interesses de determinados grupos", aponta, acrescentando que se trata de "uma batalha por relatos" com base na criação de narrativas distintas.
Entre os riscos da desinformação, o investigador aponta para o descontentamento político e a polarização política.
Para combater a desinformação, José Rúas apela à responsabilidade dos cidadãos sobretudo durante o período eleitoral quando proliferam os discursos de ódio: "Basicamente tem de ser com a colaboração de todos, com a colaboração das instituições, com a colaboração dos meios de comunicação, com todos, isto não é possível se for feito só por uma parte."