“Há gente mais sozinha em Portugal ou em Nova Iorque do que aqui", assegura Jógvan. "Não nos sentimos sós, gostamos muito de estar aqui a trabalhar só os dois. Adoramos a nossa vida.”

Eva acredita que a solidão é "um estado mental" e lembra que o sentimento de solidão "não tem a ver com o que nos rodeia". Diz que está no sítio onde quer estar, com quem quer estar.

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Mais de duas décadas depois de se terem conhecido na escola de professores de Tórshavn, a capital das Faroé, onde se licenciaram, Eva e Jógvan são praticamente auto-suficientes: produzem 90% do que consomem. Para além da agricultura, têm gado, galinhas, patos e um rebanho de 500 ovelhas.

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“É duro, mas tem sido uma vida perfeita”

“Estamos orgulhosos do que fizemos e da forma como fizemos”, diz Jógvan. "É duro, mas tem sido uma vida perfeita".

“Nós vivemos da e com a natureza. Sinto que fazemos parte dela", conta Eva. "O tempo decide o que fazemos todos os dias, e também a estação do ano. E eu gosto disso. Às vezes dizemos: fizemos o melhor que pudemos mas não foi possível, o tempo não permitiu. Não controlamos tudo. É preciso saber aceitar.”

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Eva traz no apelido o nome da ilha. A família está aqui há dois séculos, oito gerações. Sempre soube que gostaria de trabalhar na agricultura.

“Somos quatro irmãos e os meus pais tinham esperança de que algum de nós quisesse tomar conta da quinta. Mas nunca nos pressionaram porque isto é algo muito especial que não podes fazer contrariado. Tens de querer, tens mesmo de querer. “

E fazem o mesmo com os filhos?

“Sim, agora têm 18 e 19 anos. Estão a fazer outras coisas. Ela é violinista, ele é futebolista. Não é altura para fazer a pergunta. Mas claro que seria bom que os nossos filhos seguissem esta vida, acho que aqui se vive bem”.

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Os filhos estudam na capital das Faroé, Tórshavn, e habitualmente só vêm a casa ao fim de semana. A filha, Dogg, está na escola de música. Aproveitou uma pausa nas aulas para uma curta visita. Os habitantes das ilhas pagam um valor simbólico pelas viagens. E mesmo para os visitantes estrangeiros o preço dos bilhetes ronda os 20 euros. Um investimento do governo para combater o isolamento e manter ligadas as 18 ilhas do arquipélago.

Dogg contou à SIC como foi passar a infância numa ilha isolada, sem frequentar um estabelecimento de ensino.

"Acho que foi muito positivo aprender a usar as mãos, a trabalhar, a ser criativa. Mas também foi duro não socializar. As crianças precisam disso. Quando, mais tarde, fui para a escola, foi difícil fazer amigos porque não tinha essa prática da socialização".

Dogg e o irmão fizeram a escolaridade obrigatória em Stóra Dímun. A maior parte do tempo estavam sozinhos e o ensino era à distância. Mas os pais, ambos licenciados em Ciências da Educação, puseram em prática um plano de socialização que recriava a espaços o ambiente escolar.

“Quando os nossos filhos começaram a escola, nós começámos a trabalhar com uma escola em Tórshavn. Então trouxemos aqui professores para ensinar e também crianças de lá. Começámos a trabalhar com eles para que os nossos filhos também pertencessem a uma turma. Tínhamos crianças aqui com regularidade, durante uma semana”.

Dogg conta que crescer numa ilha isolada lhe deu a perspetiva do que realmente importa. "As pessoas das cidades não sabem de onde vêm as coisas nem onde elas começam. Aqui vês e sentes, não sei, é uma forma mais natural de olhar para o que te rodeia".

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“Durante dois anos, eu fui a única aluna"

Até 1984 Stóra Dímun dependia exclusivamente do barco, que por sua vez dependia da meteorologia e passava semanas sem vir à ilha. Eva tinha 7 anos quando o helicóptero aterrou pela primeira vez em Stóra Dímun. Uma vez por mês, trazia o professor.

“Durante dois anos, eu fui a única aluna. Depois o meu irmão também começou a ter aulas. Vinha um professor duas semanas por mês. Nas outras semanas, fazia trabalhos de casa. O professor estava numa outra pequena ilha. Não houve grande diferença entre a minha infância e a dos meus filhos. Claro que eles tinham internet e podiam comunicar de outra forma”.

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Eva reconhece que o isolamento a dois é desafiante para um casal.

“Há coisas muito boas em trabalharmos juntos e estarmos sempre juntos. Se estiver cansada ou chateada porque o meu cão não trabalhou bem com as ovelhas, o Jógvan entende. Compreendemo-nos muito bem. O mais importante é olharmos um para o outro, ouvirmo-nos e respeitarmo-nos”.

Durante quase 10 anos, o irmão de Eva, a mulher e os dois filhos viveram na casa do lado e partilharam rotinas. As crianças estudaram aqui à distância durante os primeiros anos de escolaridade. Mas com a transição para o segundo ciclo, a família decidiu mudar-se para a ilha mais próxima. Partiram no verão de 2020.

“Quando somos tão poucos e metade se vai embora, claro que sentimos. Sentimos a falta deles. Mas começámos novos projetos para encher os nossos dias", conta Eva.

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"Gostamos de receber e de partilhar a nossa forma de vida"

Pouco depois da família partir, Eva e Jógvan decidiram abrir a ilha ao turismo, sobretudo local. Acolhem na ilha pequenos grupos de visitantes.

“Como estamos tão isolados não estamos propriamente a ser invadidos por visitantes. Gostamos de receber e de partilhar a nossa forma de vida. Pode inspirar outras pessoas.”

Num mundo cada vez mais globalizado, Eva e Jógvan sabem que é preciso redobrar os cuidados para preservar a ilha. "Vamos proteger a identidade de Stóra Dímun", garante Eva. "Usar os recursos de forma sustentável, tomar as melhores opções, de forma honesta e ponderada".

O que faz deste lugar um lugar único no mundo?

"Talvez o isolamento. Isso permite que consigamos manter a ilha como ela é. Não é fácil sermos invadidos. Não sei, este lugar é especial. É uma pergunta difícil".

Ficha Técnica:

Jornalista: Susana André

Imagem e Drone: Joel Santos e Magali Tarouca

Repórter de imagem: João Pedro Fontes

Edição de Imagem: Tomás Pires

Grafismo: Paulo Alves

Colorista: Rui Branquinho

Pós-produção Áudio: Edgar Keats

Produção: Ana Marisa Silva

Coordenação: Marta Brito dos Reis

Direção: Bernardo Ferrão

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