
Inês Castel-Branco tem uma das vozes femininas mais bonitas do país, o que lhe permite fazer muitas locuções de publicidade que lhe pagam as contas. Mas nem sempre foi assim. E a própria explica como a sua voz mudou, depois ter detetado calos nas cordas vocais. Foi quando o seu timbre ficou mais grave e envolvente com o tempo: “Gosto mais da minha voz assim”.
Ao longo de mais de duas décadas, a atriz Inês Castel-Branco já foi muitas mulheres na televisão, de vilã psicopata e perversa a protagonista romântica, e representou em todo o tipo de formatos e registos, dos mais ligeiros aos mais densos.
Em 2019, a sua interpretação convincente de Snu Abecassis no filme “Snu”, de Patrícia Sequeira, deu que falar. A atriz conta como se preparou para esse papel e como tem orgulho nele. Assume que não foi a primeira escolha para o papel, a cumplicidade com a realizadora e quais as dificuldades e inquietações que enfrentou no processo.
“Não houve um único momento da rodagem do filme “Snu” que eu não pensasse na família dos dois, por estarem desconfortáveis por estarmos a fazer esse filme. O facto é que aquilo foi de facto um drama muito grande naquelas duas famílias. Mas nós quisemos fazer jus a esse amor.”
Recentemente Inês entregou-se a outro papel desafiante ao interpretar uma candidata a deputada de extrema direita na mini-série “Cara a Cara”, de Fernando Vendrell, que poderão ver ainda este ano na RTP2.
Um enredo de ficção que retrata uma realidade atual e perigosamente expressiva na Europa, no mundo e por cá já com assentos parlamentares. Inês fala de Ofélia, a personagem movida pelo ódio e poder, a que deu vida e como se inspirou em figuras como Marine Le Pen ou André Ventura.
E, a partir daí, refletiu-se sobre estes tempos polarizados e de desconfiança política, em que o medo, a percepção, o ódio e a mentira também vão a votos.
Numa fase muito estimulante do seu percurso, Inês acaba de gravar a 3ª temporada da série Rabo de Peixe e vai andar em digressão com a peça Crocodile Club, escrita e dirigida por Mickaël de Oliveira. A premissa liga-se também com estes tempos nebulosos.
O que é que os códigos do cinema de terror gore têm em comum com a ascensão da extrema-direita e a ameaça dos novos populismos em Portugal e no mundo? É este o ponto de partida desta peça que estará de 8 a 11 de maio no Teatro São João, no Porto.
A par disso, Inês começou as gravações de “Felp”, uma série realizada por Manuel Pureza (autor do já clássico “Pôr do Sol”) que está a criar uma espécie de “Rua Sésamo” em esteroides. O ponto de partida é delicioso. Os bonecos estão fartos de fazer programas infantis, têm contas para pagar, desejos e sonhos, e vão revoltar-se contra os humanos. Consta que Inês representa uma mulher que detesta estes bonecos. E aqui explica a razão de ter aceitado de imediato o convite de Manuel Pureza.
Importa dizer que a Inês passou a ter recentemente o nome inscrito numa calçada portuguesa, o que para ela foi inacreditável. E é autora do podcast com esse mesmo nome - “Inacreditável”, na rádio Comercial, um podcast narrativo de histórias reais que mais parecem ficção de tão surpreendentes e surreais.
Nesta primeira parte, a atriz revela a sua preocupação com o acesso dos jovens às redes sociais e ao que consideram verdade na internet e revela que se pudesse andar para trás no tempo não teria dado tão cedo um smartphone ao filho.
E partilha estar a descobrir o prazer de ser escolhida em castings para teatro ou cinema, depois de muitos anos sem a chamarem, por preconceito.
No final desta primeira parte, é surpreendida com um áudio do ator e amigo Filipe Vargas que lhe deixa uma declaração de amor e uma questão para o futuro.
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de José Fernandes. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.
A segunda parte desta conversa fica disponível na manhã deste sábado.