André Ventura confessou-se irritado, perante um Pedro Nuno Santos que soube manter a calma. No debate que opôs os líderes do PS e do Chega, Ventura defendeu um protecionismo económico idêntico ao de Trump e atirou que não se pode “proteger as fronteiras com cravos”. Já Pedro Nuno Santos admitiu que os executivos socialistas “fizeram coisas que não correram bem” e lembrou os problemas com a Justiça da bancada do Chega, para lhe retirar a “autoridade moral”.

Pedro Nuno Santos e André Ventura estiveram, esta terça-feira, frente a frente, na TVI. Eis os assuntos que marcaram o debate.

Economia e guerra comercial

Foram os temas económicos que abriram o debate, desde logo por causa da ameaça à economia portuguesa que representam as tarifas sobre as exportações aplicadas pelos Estados Unidos da América. Ventura não procurou censurar o comportamento do presidente norte-americano por prejudicar os empresários portugueses. Pelo contrário, defendeu que uma abordagem idêntica deveria ser tida em Portugal.

E porque, com André Ventura, praticamente não há tema que não vá dar ao mesmo, afirmou que os governos socialistas fizeram na economia o mesmo que na Imigração: deixaram entrar tudo o que é de fora, prejudicando os portugueses.

Para Ventura, é preciso “uma economia que se sabe proteger a ela própria” e que não se deixa "invadir por produtos chineses, indianos, paquistaneses...”.

“Temos de proteger a economia portuguesa”, insistiu. “Os produtos que vêm de fora têm de pagar mais para cá entrar”, sublinhou, numa aproximação ao modelo das tarifas aplicado por Donald Trump.

“Está do lado dos portugueses ou do seu amigo e aliado Trump?”, atirou Pedro Nuno Santos.

Questionado sobre uma medida concreta para a economia, a resposta de André Ventura foi “acabar com o acordo do Mercosul”, que classifica como “um desastre”.

Pedro Nuno Santos respondeu acusando o líder do Chega de não entender a economia nacional, afirmando que esta depende de exportações e que não pode viver apenas para o mercado doméstico.

“André Ventura não compreende o básico da economia portuguesa”, disse.

“O homem que deu cabo da TAP e da ferrovia diz que eu não compreendo a economia? Então deem-me uma oportunidade, porque ele destruiu a economia!”, disse Ventura. Pedro Nuno Santos não se ficou e frisou que deixou a “dar lucro” a TAP e CP, empresas que “cronicamente davam prejuízo”.

Impostos e heranças socialistas

ANDRE STACHEL ANTUNES/TVI

Perante os efeitos da guerra comercial, Pedro Nuno Santos acenou com propostas dos socialistas que “vão diretamente ao custo de vida dos portugueses”: desde o IVA Zero no cabaz alimentar, à redução do IUC, passando pela redução do IVA da eletricidade. Medidas que, sublinha, custam “metade” do valor das propostas da AD.

Ventura confrontou Pedro Nuno Santos com posições passadas do PS, quando rejeitou as propostas do Chega para o IVA Zero e defendeu o aumentou do IUC, acusando Pedro Nuno Santos de eleitoralismo.

“Parece que estou a falar com um homem que não tem nada a ver com o PS. Esteve no governo oito anos”, lembrou Ventura a Pedro Nuno Santos.

“Agora quem está aqui parece que está a dizer o dr. António Costa errou em tudo. É do seu partido, não é do meu”, apontou o líder do Chega. “Isto não é São Paulo. Não caiu do cavalo, viu a luz e agora é um homem novo.”

Num claro distanciamento do anterior executivo de António Costa, Pedro Nuno Santos admitiu, então, que os governos do PS “fizeram coisas que não correram bem e que precisam de ser alteradas”.

“Há problemas que ficaram por resolver. As nossas propostas vão se ajustando às situações”, acrescentou.

“Vão se ajustando às eleições”, acusou Ventura, para depois soltar um “debater com o PS irrita”. E a resposta de Pedro Nuno Santos? “A mim também me irrita muita coisa que André Ventura diz. Mas tem de ter maturidade para ouvir.”

“André Ventura fala alto, esbraceja, mas depois não diz nada que resolva os problemas dos portugueses”, concluiu.

Imigração

E apesar de ela ter sido puxada à força logo no começo do debate, eis que chega a altura designada para falar de Imigração. Pedro Nuno Santos começa por classificar o tema como “complexo”, motivo pelo qual, defende, há que fugir dos "extremos” - tanto dos que querem fechar portas, como dos que as querem deixar totalmente abertas.

O líder do PS defendeu uma “imigração regulada” com incentivos para quem quer vir para Portugal "pelas vias legais”. Coisa que, afirma, não acontecia com o mecanismo da manifestação de interesse.

“É um mecanismo desajustado que acaba por dar incentivos errados”, declarou.

Mas, procurando cortar com Ventura, declarou também que não se pode alimentar “discursos de ódio e de medo” e fez notar a importância dos imigrantes para o crescimento económico do país e para as contribuições à Segurança Social.

Por sua vez, André Ventura, classificou a situação da Imigração em Portugal como um “descontrolo” - usando mesmo o termo “bandalheira”.

Para o presidente do Chega, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras não deveria ter sido extinguido. Porque, afirma, não é “com cravos” que se protegem as fronteiras.

André Ventura voltou a defender a deportação dos estrangeiros que cometam crimes em Portugal. Mas, aí, teve mais uma resposta do líder do PS.

Acusando Ventura de “mentir sistematicamente” sobre imigração porque o Chega “precisa de um inimigo para existir”, Pedro Nuno Santos rejeitou que haja qualquer relação entre criminalidade e imigração.

O secretário-geral do PS diz que quer garantir que quem comete um crime em Portugal cumpre mesmo a pena, enquanto Ventura quer que seja expulso do país, não garantindo que é castigado.

Numa última tirada, Ventura ameaçou ainda o diretor do Observatório das Migrações, dizendo que o demitirá se for primeiro-ministro.

Corrupção e conflitos de interesses

ANDRE STACHEL ANTUNES/TVI

A corrupção, outra das bandeiras do Chega, foi o tema de encerramento do debate. André Ventura foi chamado a dizer como se devolver a confiança dos portugueses na política. E respondeu que é a “fazer o contrário do que fez Montenegro”: dando explicações.

“Um primeiro-ministro deve explicar. Não pode estar a ser primeiro-ministro e receber o triplo ou o quádruplo do salário”, afirmou.

Depois do ataque ao líder da AD, Ventura voltou ao ataque ao oponente deste frente a frente, criticando Pedro Nuno Santos por “pugnar pela ética”, mas, depois, incluir Hugo Mendes, o secretário de Estado responsável pela “famosa indemnização da TAP” nas listas eleitorais. “É dar um péssimo exemplo.”

Pedro Nuno Santos ignorou as referências a Hugo Mendes e passou à defesa da honra do PS, sublinhando que, no que toca mecanismos anticorrupção, os que existem foram, na maioria, introduzidos durante governos do PS.

“O PS leva o combate à corrupção a sério”, declarou, contrapondo com o Chega, que acusa de não ter “autoridade moral” para apontar o dedo a ninguém.

“Ventura diz que limpa e arruma”, notou Pedro Nuno Santos, mas “a bancada no parlamento com mais problemas com a justiça é a do Chega”, acusou – nomeando mesmo o caso da deputada Cristina Rodrigues.