A encerrar o Colóquio Internacional ‘A luta regional e local contra a desinformação na era da globalização e da pós-verdade’, Pablo Gamallo, investigador da Universidade de Santiago de Compostela, apresentou uma comunicação técnica e esclarecedora sobre os avanços no uso de modelos de linguagem ampla (LLMs) para a detecção de notícias hiperpartidárias, no contexto do projecto europeu HYBRIDS.

Em tom informal e em ‘portunhol’, Gamallo sublinhou desde o início a urgência de “abordar os perigos relacionados com a desinformação”, fenómeno amplificado pelas redes sociais e com forte impacto no discurso político e na percepção da cidadania.

Explicou que o projecto HYBRIDS tem como missão desenvolver sistemas de inteligência híbrida, aliando algoritmos de inteligência artificial ao conhecimento humano, com o objectivo de combater eficazmente a desinformação e o discurso de ódio online, promovendo ao mesmo tempo práticas democráticas sustentáveis.

A abordagem do consórcio destaca-se pela integração entre áreas das ciências sociais e humanas com as mais recentes ferramentas de processamento de linguagem natural (PLN) e aprendizagem profunda (deep learning). Esta combinação visa superar as limitações dos modelos puramente técnicos, permitindo uma leitura mais rica e contextualizada do discurso público.

Sobre o fact checking automatizado, explicou com detalhe técnico o pipeline de verificação de factos (fact checking) automatizado. O processo inclui a criação de bases de dados com factos verificados, a detecção automática de alegações passíveis de verificação, seguida de uma etapa de priorização. Segundo o investigador, este tipo de abordagem permite reduzir a escala do problema, focando a atenção nos conteúdos com maior potencial de impacto desinformativo.

A última parte da comunicação centrou-se no uso de modelos de linguagem ampla (LLMs) na detecção de notícias hiperpartidárias, um subtipo de desinformação que revela forte viés político, contribuindo para a polarização da opinião pública.

“Estas notícias não apenas informam — procuram convencer, dividir e mobilizar com base num alinhamento ideológico forte”, alertou o investigador.

Gamallo partilhou detalhes sobre os testes realizados com diferentes técnicas de programação e engenharia, apontando as suas vantagens e limitações.

A concluir a intervenção, fortemente assente em aspectos técnicos, deu nota que estas ferramentas “não são varinhas mágicas, mas ajudam”. Gamallo sublinhou a necessidade de manter uma vigilância crítica sobre o uso destas tecnologias, reforçando que o combate à desinformação exige respostas interdisciplinares e colaborativas, onde a tecnologia é apenas uma das peças do puzzle.

O colóquio realizado em três dias – desde quarta-feira - decorreu com a participação de académicos, jornalistas e especialistas em políticas públicas.