
Até os maiores campeões, capazes dos feitos mais hercúleos que impressionam qualquer comum mortal, lidam com essa condição tão humana que é a fragilidade.
É o caso do ex-ciclista britânico Bradley Wiggins, protagonista de uma carreira ímpar onde se destacam a vitória no Tour de France em 2012 e as cinco (!) medalhas de ouro conquistadas em Jogos Olímpicos. Foi depois do adeus ao ciclismo que, revela o próprio, esteve às portas da morte.
Em entrevista à publicação britânica The Observer, Wiggins conta que tudo começou em 2016, ano em que colocou um ponto final na carreira e entrou numa espiral de dívidas, ligadas ao consumo de cocaína.
"Houve alturas em que o meu filho achou que eu seria encontrado morto. (...) Eu era um viciado funcional. As pessoas não se apercebiam. Estava drogado na maior parte do tempo, durante muitos anos", revela o antigo ciclista.
"Estava na corda bamba e percebi que tinha de parar"
Bradley Wiggins, que tem dois filhos - Ben e Isabella - conta que deixou de consumir no ano passado, por conta própria e sem qualquer tipo de assistência.
"Consumia uma quantidade ridícula de cocaína. (...) Os meus filhos queriam que fizesse reabilitação. Estava na corda bamba e percebi que tinha de parar. Tenho sorte em estar aqui, fui vítima das minhas escolhas durante muitos anos", desabafa Wiggins.
O apoio de Lance Armstrong
Ironia ou não, foram muitos os ciclistas que, ao deparar-se com problemas de consumo de droga no pós-carreira, decidiram recorrer a Lance Armstrong, ícone da modalidade que confessou em 2013 dopar-se e que acabou por ver serem-lhe retiradas as sete vitórias no Tour.
"Ele [Lance Armstrong] estava preocupado comigo há algum tempo. Passou por algo semelhante com o Jan [Ullrich, antigo ciclista]. Eles tentaram entrar em contacto comigo, mas não sabiam onde estava. O meu filho fala muito com o Lance, ele perguntava-lhe 'Como está o teu pai?', ao que ele respondia 'Não sei dele há algumas semanas. Sei que está a viver num hotel'", revela.
Wiggins conta que Armstrong ajudou-o com os problemas financeiros que enfrentou e continua a ter um papel importante na sua recuperação.
Estas e outras revelações deverão constar da autobiografia que o antigo ciclista prevê lançar no final deste ano, intitulada "The Chain" (em português, "A Corrente").