O Governo norte-americano deve comparecer hoje perante um juiz federal para explicar a sua falha em facilitar o regresso de um salvadorenho deportado injustamente, um caso emblemático da batalha jurídica para impor o programa de deportação em massa.

A imigração é uma das principais questões sobre as quais a administração liderada pelo republicado Donald Trump está a contestar a jurisdição dos juízes que estão a frustrar os seus planos, acusando-os de usurpar as prerrogativas do poder executivo.

Trump fez da luta contra a imigração ilegal uma prioridade máxima, falando de uma "invasão" dos Estados Unidos por "criminosos do estrangeiro" e falando extensivamente sobre as deportações de imigrantes.

O caso de Kilmar Abrego Garcia, casado com uma norte-americana e residente em Maryland (leste), tornou-se um símbolo da sua inflexibilidade nesta área.

O salvadorenho foi um dos mais de 250 homens deportados para El Salvador em 15 de março, a maioria por alegada filiação no gangue venezuelano Tren de Aragua, declarado uma organização terrorista por Washington.

Foram encarcerados na gigantesca prisão, chamada Cecot, que o presidente salvadorenho Nayib Bukele construiu para erradicar os gangues.

Mais tarde, a administração Trump reconheceu em tribunal que a sua deportação foi o resultado de um "erro administrativo", uma vez que uma ordem de deportação contra ele para El Salvador tinha sido permanentemente anulada por um tribunal federal em 2019.

Mas o Governo Trump disse que não podia fazer nada quanto a isso, uma vez que Kilmar Abrego Garcia está detido em Cecot pelas autoridades salvadorenhas e acusa-o de pertencer ao gangue salvadorenho MS-13, também classificado como terrorista pelos Estados Unidos em fevereiro.

Durante um encontro com Donald Trump na Casa Branca, na segunda-feira, o presidente salvadorenho garantiu ainda que "não tinha o poder de o enviar de volta para os Estados Unidos".

Neste encontro, Trump manifestou também interesse na possibilidade de também enviar criminosos norte-americanos violentos para Cecot, acrescentando que pediu à sua secretária da Justiça, Pam Bondi, para estudar a sua viabilidade jurídica.

A porta-voz do Departamento de Segurança Interna, Tricia McLaughlin, realçou hoje à estação Fox News que "este imigrante ilegal salvadorenho, membro da MS-13, está exatamente onde deveria estar: em casa, em El Salvador, numa instalação de contenção terrorista".

Antes da audiência num tribunal de Maryland, a mulher deste salvadorenho pediu a Donald Trump e ao homólogo de El Salvador que "parassem de fazer jogos políticos com a vida de Kilmar".

Na semana passada, Supremo Tribunal manteve a decisão de um juiz de instância inferior que ordenou à administração Trump que facilitasse o regresso de Kilmar Abrego Garcia para que "a sua situação fosse tratada como teria sido se não tivesse sido enviado indevidamente para El Salvador".

A juíza federal Paula Xinis solicitou então uma atualização diária na semana passada "sobre a localização e o estado atual de Abrego Garcia", bem como ações tomadas ou planeadas para "facilitar o seu regresso", e agendou uma audiência para hoje.

A administração Trump cumpriu parcialmente, fornecendo uma declaração escrita no sábado confirmando pela primeira vez que "Abrego Garcia está vivo e em segurança" em Cecot e "mantido sob a soberania" de El Salvador.

No entanto, ela não forneceu qualquer informação sobre possíveis medidas para o seu regresso.