O Ruanda celebrou acordos de patrocínio com os três clubes europeus, com o objetivo de promover o turismo no país africano.
A ministra da RDCongo, Thérèse Kayikwamba, dirigiu no sábado uma carta aos três clubes europeus pedindo-lhes que reavaliassem a moralidade dos seus acordos de patrocínio com o Ruanda, acusando o Governo deste país de ser "diretamente responsável" pela "miséria" vivida pela população do leste da RDCongo, noticiaram hoje meios de comunicação social locais.
"O Presidente deste país, Paul Kagame, é um autocrata e o seu exército, juntamente com a milícia sua aliada, o M23 [Movimento 23 de março], está a travar uma guerra na RDCongo", afirmou a ministra dos Negócios Estrangeiros nas cartas.
"A generosa ajuda internacional que o Ruanda recebe de muitos países representa uma parte importante da sua economia. Têm a certeza de que este dinheiro não está a ser desviado para financiar o vosso contrato de patrocínio?", acrescentou.
Kayikwamba informou também os clubes que "milhões de toneladas" de minerais essenciais para a transição energética, como o cobre, o cobalto, o lítio e o ouro, foram "ilegalmente extraídos em territórios ocupados pelas forças apoiadas pelo Ruanda, transportados através da fronteira e exportados do Ruanda".
"Têm a certeza de que o dinheiro proveniente destes minerais de sangue não está a financiar o vosso contrato de patrocínio?", questionou.
Kayikwamba garantiu ainda aos três clubes europeus que, enquanto disputavam os últimos jogos da fase de grupos da Liga dos Campeões da UEFA, "mais 500.000 pessoas foram deslocadas no leste da RDCongo".
A chefe da diplomacia congolesa considerou que "é tempo" de estes três clubes romperem o seu contrato de patrocínio "manchado de sangue" com esta nação "opressora".
"Se não for por consciência, o clube deve fazê-lo em solidariedade com as vítimas da agressão ruandesa", considerou.
A ofensiva do M23 - um grupo armado composto maioritariamente por tutsis vítimas do genocídio ruandês de 1994 -, que se intensificou na última semana, aumentou a tensão com o vizinho Ruanda, com o Governo congolês a acusar o Governo ruandês de apoiar os rebeldes, uma alegação confirmada pela ONU.
Por seu lado, o Ruanda e o M23 acusam o exército congolês de cooperar com as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), um grupo fundado em 2000 por líderes do genocídio de 1994 e outros ruandeses exilados para recuperar o poder político no seu país, uma colaboração que também foi confirmada pela ONU.
A atividade armada do M23 recomeçou em novembro de 2021 com ataques relâmpagos contra o exército congolês no Kivu do Norte e, desde então, avançou em várias frentes até chegar a Goma, a capital de cerca de dois milhões de habitantes, onde se encontram ONG internacionais e instituições da ONU e que o grupo ocupou durante dez dias em 2012.
Desde 1998, o leste da RDC está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de paz da ONU (Monusco).
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