A ex-ministra da Educação e actual reitora do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Maria de Lurdes Rodrigues, foi a convidada principal da sessão de abertura do 11.º Seminário “Educação: reflexões e caminhos”, que decorre esta sexta-feira em Câmara de Lobos. Perante uma plateia composta por educadores, técnicos e decisores políticos, defendeu que o essencial, neste momento, não são reformas estruturais, mas sim uma mudança de cultura: mais exigência, mais conhecimento e maior compromisso de todos os intervenientes.

“O que temos de fazer para construir o futuro é transformar o presente”, afirmou, citando Jean Monnet, considerado um dos fundadores da União Europeia. Para agir no presente é preciso conhecê-lo bem, disse. “Não podemos tomar decisões sem informação, sem avaliação e sem levar a sério a responsabilidade que cabe a cada um”, expressou antes do seminário.

Maria de Lurdes Rodrigues sublinhou que o sistema educativo se encontra hoje num “momento estável e previsível”, ao contrário dos anos de expansão que se seguiram ao 25 de Abril. “Já não estamos a correr atrás de construir escolas ou manuais. O desafio agora é fazer bem aquilo que nos compete fazer”, reforçou, defendendo que todos os actores, professores, direcções escolares, tutelas e famílias, devem assumir o seu papel com sentido de missão.

Ex-ministra defende cultura de exigência e compromisso na Educação
Ex-ministra defende cultura de exigência e compromisso na Educação dnoticias.pt

A ex-governante rejeitou a ideia de que o sistema enfrente um problema estrutural de falta de professores, considerando que o país forma mais de 80 mil diplomados por ano. “O que falta não são professores, são mecanismos para os atrair, valorizar a carreira docente e ajustar os critérios”, explicou.

Outro ponto forte centrou-se na importância dos adultos no processo educativo, sobretudo num contexto onde crianças e jovens estão cada vez mais envolvidos em ambientes digitais. “A presença de adultos é essencial para mediar a relação com o mundo, sejam professores, pais ou educadores. Quando os adultos falham, as crianças ficam sozinhas, não estão a aprender”, alertou.

Sobre as dificuldades específicas de certas regiões, como os Açores, Maria de Lurdes Rodrigues recordou os desafios associados à pobreza e à distância social e cultural. Referiu, no entanto, que “a realidade da Madeira parece mais favorável”. Confessou, com humor, que hoje observa a escola à distância, já não como mãe ou ministra, mas como avó.